O termo incoerência significa falta de lógica, de consistência ou de harmonia entre ideias, atitudes, palavras ou comportamentos. Recentemente, o ministro do STF, Luiz Fux, falou sobre incoerência ao afirmar que “pior que um juiz que não sabe direito é um juiz incoerente”. De fato, a incoerência em lideranças – sejam elas jurídicas, políticas, médicas, familiares ou de qualquer outra natureza – pode gerar um alto grau de ansiedade e insegurança nos grupos que essas lideranças influenciam.
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Inseguranças
Quando líderes demonstram atitudes contraditórias ou confusas, seus seguidores perdem a convicção sobre quais passos tomar, já que aqueles que deveriam apontar o caminho acabam por indicar direções opostas. Por exemplo, é compreensível que um médico, ao atender dois pacientes com febre alta, realize investigações diferentes e, com base nos achados, proponha tratamentos distintos. No entanto, não é coerente que esse mesmo profissional diga a um paciente com 39°C de febre: “Precisamos investigar, pois a temperatura está muito alta”, e ao outro, com a mesma febre: “Está tudo bem, pode ir para casa”. Esse tipo de atitude gera um verdadeiro festival de inseguranças – tanto para os pacientes quanto para os futuros médicos – e abala a confiança da sociedade em um sistema de saúde que deveria ser baseado em critérios técnicos, previsíveis e sólidos.
Políticos
Essas incoerências, infelizmente, estendem-se a diversos setores da sociedade. Temos políticos que se autodeclaram grandes defensores da democracia, mas que, quando lhes convém, apoiam regimes autoritários, por vezes até de natureza quase familiar. Também há quem defenda determinados direitos com veemência, mas negue os mesmos direitos a outros, apenas porque não compartilham das mesmas escolhas ou aparências.
Terreno perigoso
Quando o direito de ser incoerente passa a ser naturalizado e aceito socialmente, e se soma à habilidade de construir discursos que justificam perseguições, preconceitos ou atos de violência contra pensamentos diferentes, entramos em um terreno perigoso. Foi o que aconteceu na Alemanha nazista e na União Soviética stalinista, onde a incoerência dos discursos justificou atrocidades em nome de um suposto bem comum.
‘Verdades absolutas’
A incoerência, quando normalizada, alimenta o crescimento de grupos com posturas cada vez mais fundamentalistas – seja no campo da religião, da política ou das questões sociais – e favorece a criação de “verdades absolutas” que servem mais como reação à insegurança do que como fruto de reflexão racional. Muitas vezes, o apego a essas verdades deturpadas representa um mecanismo de defesa frente à instabilidade gerada pela incoerência dos que deveriam oferecer segurança, clareza e confiança.
Tensão constante
No fim, o que vemos é uma sociedade tensionada, nervosa, cada vez mais dividida entre os que mudam de opinião conforme lhes convém e os que se agarram a certezas rígidas por medo do caos. Essa tensão constante corrói os princípios de uma convivência democrática, plural e respeitosa – justamente o tipo de sociedade que deveríamos estar empenhados em construir.