É muito comum ouvirmos que “começamos a envelhecer no momento em que nascemos”. Mesmo assim, dificilmente pensamos no processo de envelhecimento quando somos jovens e saudáveis. Ainda temos a ideia de que algumas doenças e dificuldades só aparecem depois de determinada idade.
Mas que idade seria essa em que percebemos que estamos envelhecendo? Obviamente, isso depende de muitos fatores, tais como estilo de vida, genética e autopercepção de saúde. Em 2017, a população global de pessoas com 60 anos ou mais atingiu 962 milhões, duplicando entre 1980 e 2017.
Prevê-se que, até 2050, a população de idosos duplique novamente, resultando em cerca de 2,1 mil milhões de pessoas. Portanto, se tudo der certo, vamos envelhecer. É um processo natural, conhecido e esperado. Por que, então, não nos preparamos para ele?
Afinal, nos preparamos para tantas outras etapas da vida... Muitos estudos têm demonstrado os impactos positivos da preparação para o envelhecimento: aqueles que estão preparados para as mudanças associadas a este processo, tornam-se menos ansiosos, menos deprimidos e vivem num melhor nível de bem-estar.
Pode-se dizer que a forma como vivemos, desde a infância, é uma preparação para o envelhecimento. O estilo de vida que levamos, o que comemos e a forma como lidamos com as coisas da vida refletirão, certamente, na qualidade desta fase. Assim, uma revisão sistemática recente evidenciou 6 dimensões de preparação para o envelhecimento.
Dimensão financeira
O planejamento financeiro, prevendo reserva para um período de maior probabilidade de doenças, fraturas, exames médicos e internações, permite que o indivíduo tenha mais tranquilidade e confiança de que terá melhor atendimento e tratamento médico, quando necessário.
Além disso, permite maior autonomia na escolha de profissionais e centros de tratamento, diminuindo a dependência de familiares. As outras dimensões de preparação muitas vezes também dependem da financeira.
Dimensão da saúde
Saúde é uma das bases essenciais para um envelhecimento saudável. A prevenção e a boa gestão de doenças crônicas conduzem à promoção da saúde. Além disso, se os idosos desejam permanecer independentes, devem preservar a sua saúde física e psicológica.
Estudos demonstraram que não só a diminuição do desempenho pode ser evitada durante o envelhecimento, como muitas funções perdidas também podem ser recuperadas. As estratégias preventivas devem centrar-se na adoção de um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta saudável, limitação no consumo de álcool, prática regular de atividade física, bem como na estimulação psicológica e social.
A dimensão da saúde afeta outras dimensões, pois saúde precária limita a capacidade de participar de atividades sociais, provoca baixa atividade econômica e reduz o bem-estar psicológico e a satisfação com a vida.
Dimensão psicológica
A preparação psicológica visa a uma melhor adaptação às mudanças ligadas à aposentadoria e ao estresse causado por mudanças na estrutura familiar e comunitária.
Durante o processo de envelhecimento, ocorrem mais perdas de familiares e amigos e pode haver uma sensação de inutilidade na sociedade, devido à aposentadoria. A maior proximidade com a morte também aumenta a chance de ansiedade e depressão.
Portanto, preparar-se psicologicamente para os desafios do envelhecimento, desenvolvendo estratégias de enfrentamento, pode levar a um envelhecimento com melhor qualidade e a uma apreciação positiva desse fenômeno.
Dimensão social
Quando os idosos se afastam dos seus papéis ocupacionais tradicionais e diminuem a interação social, cria-se uma enorme distância entre este grupo populacional e as outras faixas etárias ativas, causando o isolamento social dos idosos.
Assim, a dimensão social nesta fase da vida deve ser levada a sério, pois a melhor socialização conduz a um envelhecimento saudável. Para este efeito, as capacidades e participações sociais devem ser reforçadas em idades mais jovens e ao longo de toda a vida.
Dimensão habitacional
A tomada de decisões sobre moradia, permanência, mudança ou modificação da casa atual, aquisição de uma casa adequada para o período da vida, são planos importantes para a aposentadoria e o envelhecimento.
Quanto mais cedo for planejado e organizado o local de residência, mais fácil será a adaptação do idoso às mudanças, menor será a chance de acidentes/fraturas e melhor será a qualidade do processo de envelhecimento.
Dimensão de lazer/atividades diárias
Em idades avançadas, a diminuição das atividades físicas e mentais cria barreiras no tempo de lazer dos idosos, podendo torná-los indivíduos muito caseiros.
Os que têm uma vida independente, às vezes, têm de se restringir a sua casa e privar-se da participação social devido à ausência de instalações educativas, recreativas ou de bem-estar adequadas ou ao elevado custo da utilização dessas instalações. Na ausência de um plano adequado e de instalações necessárias para o lazer, podem surgir fadiga e depressão, que estão associadas a doenças crônicas.
Que tal aproveitarmos o clima de final de ano para incluirmos nas nossas resoluções para 2024, atitudes e comportamento visando à preparação ao envelhecimento?