Daniela Lopes dos Santos

Ter dor é normal no envelhecimento?

É comum pensarmos que a dor faz parte do processo de envelhecimento, sendo natural e até esperada a sua ocorrência na população idosa. Entretanto, este sintoma não é uma consequência normal do processo de envelhecimento e pode representar sinais de alerta do corpo, devido à lesões, inflamação de tecidos ou até em resposta a doenças. 



Os idosos são particularmente vulneráveis aos estados de dor devido ao aumento da prevalência de doenças musculoesqueléticas degenerativas, fragilidade e multimorbidade. Além disso, complicações comportamentais durante o envelhecimento, tais como deficiências cognitivas, podem levar à diminuição do autocuidado, autoconsciência e agravamento das condições de saúde, causando dor prolongada.


Afinal, como se define dor...

A Associação Internacional para o Estudo da Dor atualizou, em 2020, a sua definição de dor como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial”. 


A dor crônica é definida como dor que persiste além do tempo normal de cura, geralmente durando mais de 12 semanas, o que a diferencia da dor aguda. A dor crônica é uma condição complexa que envolve componentes sensoriais, afetivos, cognitivos e comportamentais. Tem causas variadas, como lesão tecidual, inflamação, autoimunidade, quimioterápicos e estresse, denominadas condições de dor funcional. 


Além disso, a dor crônica costuma ser associada a condições médicas como depressão, ansiedade, distúrbios do sono e fadiga. A recuperação da dor crônica é muitas vezes difícil, sendo que estimativas recentes indicam que apenas 30% dos pacientes conseguem livrar-se dela.


A dor na terceira idade  

De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 20% a 50% dos idosos possuem algum tipo de síndrome dolorosa, como problemas osteoarticulares e musculoesqueléticas. Em alguns países, a dor crônica é considerada uma epidemia. Nos Estados Unidos, por exemplo, um em cada cinco adultos (20,4%, ou seja, 50 milhões) relata sofrer de dor quase diariamente, durante pelo menos 6 meses.

 
A prevalência aumenta com o avançar da idade: 27,6% dos idosos entre 65 e 84 anos e 33,6% com 85 anos ou mais relatam dor crônica. As doenças que estão mais associadas à dor em pessoas idosas são os problemas de coluna, artrite/artrose, osteoporose, sarcopenia (perda de massa muscular) e neuropatia diabética.


Consequências da dor no idoso

A dor pode ser incapacitante e limitar a atividade funcional, trazendo prejuízos para a independência do idoso, levando a sentimentos de inutilidade, depressão e isolamento. A dor física pode afetar a socialização, os aspectos psicológico e espiritual, tornando o cenário da dor mais complexo e delicado de ser tratado. 


No meio acadêmico discute-se e estuda-se o chamado “Ciclo da Dor”. Resumidamente, este ciclo é explicado desta forma: o indivíduo sente dor (geralmente devido a alguma causa pontual), desenvolve a cinesiofobia (medo de o movimento causar dor), torna-se cada vez mais inativo fisicamente, a dor somada ao sedentarismo aumenta a ansiedade, gera dificuldades de concentração e alterações do sono, que por sua vez baixam a produtividade, desencadeando sintomas depressivos. Isso tudo mantém ou aumenta a dor.


Há solução?

Na situação de dor, é ideal que o idoso seja avaliado e tratado por uma equipe multiprofissional, formada por profissionais com diferentes qualificações, experiências, técnicas e vivências, que possa atender as diversas facetas que esse problema pode causar. 


O tratamento com a equipe multidisciplinar não limita o cuidado apenas ao uso de medicamentos, mas oferece, também, um olhar mais amplo de investigação do histórico clínico, para entender a origem da dor e a melhor forma de lidar com ela.

 
Vale destacar que se deve fazer o possível para interromper o ciclo da dor. Manter-se ativo, realizando exercícios físicos regulares e adequados às condições físicas do idoso, é uma das melhores formas de diminuir os sintomas de ansiedade e depressão, aumentar a autonomia e a produtividade nas atividades da vida diária, regularizar o sono e, consequentemente, diminuir a dor.

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