Fotos: Beto Albert (Diário)
Por meio dos livros, os escritores conseguem nos fazer viajar por novos universos, refletir sobre temas importantes e pensar de forma crítica a respeito de situações que nos cercam. Mas de onde vem a inspiração para que eles consigam colocar pensamentos e sentimentos em palavras?
+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia
Para marcar o Dia Nacional do Escritor, celebrado neste dia 25 de julho, o Diário conversou com autores de Santa Maria que compartilharam experiências sobre o processo criativo para a escrita de seus livros. O bate-papo ocorreu no espaço da Athena Livraria.
A data em homenagem aos escritores foi instituída em 1960, durante o 1º Festival do Escritor Brasileiro, e busca reforçar a importância da classe para a cultura e a literatura nacional.
O despertar para a Literatura
Desenvolver o interesse pelas palavras é um caminho que pode ser trilhado de diferentes formas. Influência da família, gosto pela leitura e o ambiente escolar são fatores que podem estimular a veia literária. Para Edinara Leão, 55 anos, professora, escritora e pós-doutora em Estudos Literários, o despertar aconteceu na transição entre a infância e a adolescência.
– Eu escrevo desde os 12 anos de idade. Tudo começou em uma sala de aula, eu estava no 7º ano, quando escrevi um poema sobre o mar. A professora gostou, elogiou e eu achei aquilo interessante. Eu era muito quietinha e, naquele momento, achei a escrita um bom jeito de me manifestar para o mundo – recorda Edinara.
Desde então, o amor pela literatura só cresceu. Integrante da Academia Santa-Mariense de Letras (ASL) desde 2014, Edinara tem 11 livros publicados e 286 participações em antologias com autores de todo Brasil.
O contato com a literatura também começou cedo para o escritor Gabriel Santos de Araújo, 42 anos, que também é professor, graduado em Letras e Mestre em Psicologia. Ele lançou seu primeiro livro de poemas, chamado “Papá da Terra, Mamá da Água”, em 2023, e tem participação em cinco antologias,
Desde pequeno, as relações familiares o conectavam com o universo literário. Crescido em um sítio, o cenário contribuía para as fantasias da infância e estímulo à criatividade. Aliado a isso, também encontrava exemplo no avô, que cultivava o hábito da leitura, e na profissão da mãe, que era bibliotecária.
O autor foi um dos vencedores do 47º Concurso Literário Felippe D'Oliveira, edição 2024, na categoria crônica, e conquistou o primeiro lugar com “A Casa do Meu Pai”. O concurso recebe inscrições de candidatos de todo o Brasil e busca homenagear a memória do poeta santa-mariense e estimular novas produções literárias.
– A escrita para mim está bastante ligada à inadequação, de não conseguir se sentir pisando no mundo. Acho que todos os escritores têm isso de não se sentir adaptado ao mundo em algum momento e encontrar na literatura uma ferramenta que ajuda dar conta de tudo que se está sentindo – afirma Gabriel.
Inspiração
Assim como o interesse pela literatura pode ser despertado de diferentes formas em cada pessoa, o processo criativo também é singular. O modo como a inspiração nasce e as ideias são traduzidas em palavras pode depender do tipo de texto literário escolhido, como contos, poesia e narrativas longas. No entanto, não existem receitas prontas ou regras para a produção literária.
Edinara destaca que a vontade de escrever deve surgir de forma orgânica.
– Quando a escrita surge, ela rompe, transborda, sai, você pode usar um guardanapo, o que tiver para colocar para fora. Você escreve para se manter vivo, como alguém que respira. Você respira a escrita, reverbera e transfere para o mundo quem você é por meio dela – destaca.
Para Gabriel, a inspiração está bastante relacionada à realidade vivenciada por ele.
– Geralmente, têm coisas que realmente aconteceram, coisas que eu não consigo dar conta. E aí chega uma hora que isso vai para o papel, eu encontro na literatura um artifício para aquilo ter uma vazão e conversar melhor comigo mesmo – explica.
Sentimento que é passado adiante
Diferente de autores famosos que ganham a vida exclusivamente por meio da venda de livros, os escritores independentes costumam equilibrar as demandas da vida cotidiana com a escrita. Rotina com os filhos, dedicação ao trabalho e estudos, são compromissos paralelos que fazem parte da trajetória tanto de Edinara quanto de Gabriel.
Ambos são professores em escolas públicas de Santa Maria e buscam levar o amor pelos livros também para a sala de aula. Há mais de uma década, Edinara também coordena o movimento VirArte, iniciativa que busca impulsionar a arte por meio da publicação de livros e promoção de concursos literários.
– Busco oportunizar ao meu aluno o direito de dizer o que ele pensa. O direito de ele reverbar suas dores, mágoas e tragédias diárias. A adolescência é transpassada por isso e todo mundo está em crise, ansioso. Percebo que eles não possuem muitos espaços na escola tradicional para dar vazão a suas questões – destaca Edinara.
Permitir que jovens conheçam o papel transformador da literatura também é uma das missões assumidas por Gabriel enquanto professor.
– No meu ofício eu tento trazer textos marcantes como, por exemplo, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca, que são literaturas que tem uma comunicação que impacta. Essa relação acaba sendo uma régua para testar o alcance da literatura, e eu tenho boas respostas em relação ao entusiamo dos alunos e descoberta com a leitura. Isso é uma grande ferramenta – afirma Gabriel.
Leia também