
Foto: Augusto Diehl/Divulgação
Márcia Di Paula, 46 anos, de Dona Francisca, conquistou o título de Miss Universo Trans na categoria acima dos 40 anos em 2024 em cerimônia realizada em Nova Delhi, na Índia. O feito é inédito para o Brasil nessa modalidade. Nesta quarta-feira (29), em Porto Alegre, a miss recebe o título de Personalidade do Ano, no Troféu Visibilidade Trans. Ao Diário, Márcia comentou sobre a importância do Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado nesta quarta no Brasil, e também pediu por mais oportunidades para mulheres trans.
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Miss Universo Trans

A trajetória de Márcia é marcada pela superação de obstáculos relacionados aos preconceitos e a falta de oportunidades. Sua carreira artística começou em 2019, quando conheceu Fabiano Biazon e Mateus Ahlert, empresários especializados em projetos de diversidade e inclusão. Com o apoio e orientação da dupla, Márcia desenvolveu suas habilidades como atriz, modelo e miss. O título de Miss Universe Trans veio em novembro após vencer a etapa nacional do concurso realizada em Porto Alegre:
– O Miss Universo realmente foi para mim um divisor de águas muito grande. Vindo de onde eu vim, de uma classe média baixa, morando no interior e adotada, a expectativa de conseguir chegar onde eu cheguei, praticamente não existia – comenta.
A miss disse que foi uma surpresa receber convites para participar de concursos e que não era um sonho que passava pela sua cabeça. E agora comemora os prêmios:
– Fui alcançando todos esses títulos. Desde o Miss Santa Maria até o Miss Universo, na Índia, para mim é inacreditável. Me tornar um ícone e deste ícone virar referência para tantas pessoas hoje em dia – diz.
Oportunidades e respeito
Entre tantos desafios, o emprego, sem dúvidas, é um problema. São poucas oportunidades e poucos incentivos. Em seus discursos, Márcia defende a inclusão de pessoas LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho. E quando venceu o Miss Universo fez isso:
– A gente estuda, se capacita, se profissionaliza para isso (ter oportunidades). E não é para competir, é simplesmente por um espaço. E luto por isso. Aconselhar essas trans e travestis, tanto as que ficam nas ruas, quanto as que não tem perspectiva de vida, a lutarem por um mercado de trabalho. Temos o direito e a gente merece ser tratada igual a todo mundo. Eu defendo a mulher acima de qualquer coisa, independente se ela é trans, se ela é travesti, se ela é cis. Eu pauto pelo respeito. Se eu respeito, eu tenho o direito de ser respeitada – defende.
Troféu Visibilidade Trans
A segunda edição do Troféu Visibilidade Trans ocorre nesta quarta (29) a partir das 19h, no Teatro Túlio Piva, em Porto Alegre. Nesta edição, o evento homenageará Juliana Martinelli, uma travesti ativista do movimento LGBT que dedicou sua vida a lutar por uma sociedade mais inclusiva, beneficiando a população de Pelotas e de todo o Rio Grande do Sul. A iniciativa visa reconhecer e valorizar o trabalho de importantes ativistas da causa. Na premiação, Márcia deve ganhar o Troféu de Personalidade do Ano.
– Indo a Porto Alegre para ser homenageada com personalidade do ano é muito interessante. Isso significa luta que a gente tem diariamente não por aceitação. As pessoas não precisam nos aceitar, elas são obrigadas a nos respeitar. É isso que eu pauto – afirma.

Em 29 de janeiro do ano passado, a 1ª edição do evento homenageou a trajetória de Verônica Oliveira. Conhecida como “Mãe Loira”, ela foi uma mulher transgênero e ativista pela causa da população LGBT+. Manteve, por cerca de 12 anos, um abrigo chamado Alojamento da Verônica, no Bairro Urlândia, região sul da cidade. Lá, abrigou centenas de travestis e transexuais do Brasil inteiro. Ela foi assassinada na madrugada de 12 de dezembro de 2019, aos 40 anos.
Casa Verônica

Situada na sala 204, nos fundos da Biblioteca Central da UFSM, o espaço multiprofissional é um serviço criado pela Política de Igualdade de Gênero da Universidade. Sancionada em novembro de 2021, conforme a Resolução UFSM N.064, a política busca promover a igualdade de gênero na UFSM por meio de mecanismos institucionais. Por meio dela foi instaurado o Comitê de Igualdade de Gênero, composto por docentes, técnico-administrativos educacionais, discentes e comunidade externa, como representantes de movimentos sociais da cidade.
Santa Maria tem Lei que propõe Dia de Combate à Violência contra Pessoas Transgênero. O PL, aprovado por unanimidade em 2023, institui, no âmbito municipal, o dia 12 de dezembro como o Dia Municipal de Combate à Violência contra Pessoas Transgênero.