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Você sabe o que é o Túnel Norte-Sul ou Viaduto Evandro Behr? Descubra detalhes sobre a construção que mudou o centro de Santa Maria

Você sabe o que é o Túnel Norte-Sul ou Viaduto Evandro Behr? Descubra detalhes sobre a construção que mudou o centro de Santa Maria

Foto: Jonatas Vargas (Reprodução)

Quem passa pelo centro de Santa Maria já deve ter cruzado o Viaduto Evandro Behr sem nem imaginar a polêmica que gerou a obra até sair do papel. Ou ao menos saber que, no local, havia uma rua plana. Essa obra, que hoje facilita o trânsito tanto de carros quanto de pedestres no Centro, foi marcada por debates acalorados, protestos e muitas idas e vindas na Justiça.


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Tudo começou em 24 de outubro de 1991, quando Santa Maria viu o início das obras da ligação Norte-Sul, planejada para conectar a Avenida Rio Branco com a Rua do Acampamento, passando por baixo, entre o Calçadão e a Praça Saldanha Marinho. Na teoria, parecia ser a solução perfeita para desafogar o trânsito no coração da cidade. Mas, na prática, a história foi bem mais complicada.


Veja como era o centro de Santa Maria antes da construção:

Foto: Jonatas Vargas (Reprodução)

A obra foi feita na administração de Evandro Behr, que também dá o nome ao túnel. Filho do ex-prefeito, Evandro Barros Behr conta que, quando ainda não havia o viaduto, mortes por atropelamentos e acidentes eram frequentes. No local, como é possível observar pela foto acima, o movimento de pedestres e carros era intenso.


– Ali, nós tínhamos acidentes semanais e mortes periódicas. Especialmente, quando os idosos tentavam passar porque o fluxo de pessoas era muito grande, e aquilo gerava uma quantidade grande de acidentes e várias mortes – relata o filho. 


Para a obra andar, antes foi feita a retirada dos camelôs que vendiam seus produtos ao longo da Rua do Acampamento e realocados na Avenida Rio Branco, transformando-se em camelódromo temporário ao longo da via. Bem mais tarde, os comerciantes foram para o Shopping Popular com a regularização da situação dos informais.  


– Ali, era temporário, não era para ser definitivo, era para ser um momento transitório. No qual, no futuro, eles se transformam em comerciantes regulares. Então, a primeira obra foi social, porque a gente precisava resolver o problema da grande quantidade de ambulantes que tinha no acampamento – afirma o filho. 


O próximo passo foi o desenho do anel viário. Segundo Behr, a construção inicial foi planejada para ter diversos níveis de rebaixamento ao longo da Acampamento. O mesmo projeto do viaduto seria feito na Rua Tuiuti com Acampamento e Medianeira com Acampamento. Mas por que o planejamento inicial de fazer um projeto desse tamanho não saiu do papel? O filho do ex-prefeito revela que, por conta da alta inflação, as fortes chuvas que ocorriam na época, multas e pelas diversas vezes que a obra foi parada judicialmente e, devido aos custos elevados com as bombas que tinham que ser utilizadas para drenar as águas enquanto a obra estava parada, foram fatores decisivos para a construção do viaduto ser viabilizada somente até o Calçadão.


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A construção da obra gerou polêmica e muita oposição

Arquivo Municipal, Jornal A Razão publicado em 05/02/1991Foto: Beto Albert (Diário)

À época, vereadores de oposição, moradores e várias entidades levantaram a voz contra a obra. Alegavam que o projeto era caro demais, não estava no orçamento e poderia trazer mais problemas do que soluções. Os protestos também marcaram esse período. Em um episódio emblemático, manifestantes de entidades sindicais, igrejas, partidos políticos pronunciaram-se em microfones, além de ocuparem o canteiro de obras por mais de cinco horas, disponibilizando, inclusive, uma urna para que a população deixasse opiniões ao então prefeito Evandro Behr. As manchetes da época estampavam: "Pararam novamente as obras da Norte-Sul" (na foto acima) e "Máquinas silenciam no centro de Santa Maria". As paralisações geraram um impacto direto no cronograma da obra e no bolso da população, já que cada interrupção aumentava os custos do viaduto. 


Evandro admite que 90% da população não era a favor das obras ousadas de seu pai. O motivo, segundo ele, é de que a Santa Maria tem em sua formação um conjunto de pessoas com visão conservadora e, quando é proposto uma obra que traria impactos no coração da cidade, essa parcela tende a não gostar das mudanças. 


–  Toda a proposta que tiver um impacto deste tamanho vai causar problemas. E como esta obra não estava solta, ela vinha dentro de um pacote gigantesco, porque era praticamente todos os aspectos da vida de Santa Maria que estavam sendo impactados dentro daquela gestão –  aponta Behr sobre a resistência.

Arquivo Municipal, Jornal A Razão publicado em 1991Foto: Beto Albert (Diário)

Mas o prefeito Evandro Behr não recuou. Ele defendeu com convicção que a obra era essencial para o desenvolvimento da cidade. O procurador jurídico do município na época, Walter Mendes Mucha, que faleceu em novembro de 2019, conseguiu reverter algumas suspensões por meio de recursos judiciais, sob o argumento que o projeto estava dentro da legalidade e que não havia risco ambiental. Apesar dos vários entraves na Justiça e a contrariedade da população, o viaduto foi concluído e entregue à comunidade com a promessa de ser um divisor no mobilidade de região central da cidade. 

E não só de mobilidade. O filho do ex-prefeito comenta que o viaduto virou um símbolo de manifestação popular ao longo das décadas, usado para campanhas politicas, manifestações, mobilizações e devoções de fé. Segundo Evandro, o espaço não é só um viaduto que ajudou a desafogar o trânsito no Centro, mas um "palco da democracia" 

Viaduto Evandro Behr

Foto: Acervo Municipal (Reprodução)

Hoje, o Viaduto Evandro Behr faz parte da rotina de quem circula por Santa Maria. E quem veio para a cidade recentemente ou não é santa-mariense, talvez desconheça que um dia era uma rua plana com intenso fluxo de carros. A fluidez no trânsito que ele proporciona nos dias de hoje é inegável, mas é difícil esquecer que, um dia, essa mesma estrutura foi alvo de tanta resistência. 

​Quem foi Evandro Behr

Foto: Acervo Municipal (Reprodução)

Engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Evandro Behr foi prefeito da cidade de 1989 a 1992. Além de enfrentar a polêmica da ligação Norte-Sul, ele já pensava em outras ideias para transformar o Centro, como o projeto de um calçadão 24 horas na Rua Alberto Pasqualini, inspirado no modelo construído em Curitiba (PR). Sua gestão buscava soluções urbanas inovadoras, mas nem sempre eram bem recebidas pela população e pela política local. Behr faleceu em 28 de agosto de 1996, aos 53 anos, por  complicações de uma cirurgia cardíaca.

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