Foto: Antonio Oliveira
O livro “Torcida Organizada Maré Vermelha: uma trajetória de resistência nas arquibancadas de Santa Maria-RS” foi lançado na 51ª Feira do Livro. A obra tem autoria do historiador Eduardo Bortolotti Silveira e foi contemplada pelo concurso Lei dos Livros de 2023, sendo produzida em parceria com a Câmara dos Vereadores de Santa Maria, local onde os interessados podem retirar o livro de forma gratuita.
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O que foi a Maré Vermelha?
Fundada em 1979, a torcida é tida por alguns como o primeiro grupo LGBTQIA+ de Santa Maria. Com o propósito de apoiar o Inter-SM, os torcedores fizeram história ao marcar presença em jogos na cidade e em outros municípios. Com término em 1992, a Maré Vermelha foi a torcida LGBTQIA+ mais longeva do Brasil e, de acordo com a pesquisa realizada pelo autor do livro, Eduardo Bortolotti Silveira, ela também é a que existiu por mais tempo no mundo.
A torcida foi criada por Marcelino Cabral, falecido em 2014. O carnavalesco integrava a escola de samba Vila Brasil, que influenciava os adeptos na forma de torcer e de cativar o público presente no Estádio Presidente Vargas. De acordo com o escritor, era Marcelino o responsável por unir os membros. Inclusive, o fim da Maré Vermelha passa por uma desavença entre ele e um ex-conselheiro do Inter-SM.
– Ele (Marcelino Cabral) era o responsável por manter o grupo unido, tanto que a torcida acaba quando um conselheiro agride ele, em 1991. No ano seguinte, eles até tentam dar sequência e vão em alguns jogos, mas a torcida foi acabando aos poucos – recorda Eduardo.
Durante os anos de atividade, a torcida teve de enfrentar o período de ditadura militar, assim como o momento em que a Aids chega ao Brasil e passa ser tratada como epidemia. Ambos os fatores provocaram um aumento na discriminação contra pessoas LGBTQIA+ na época. Mesmo assim, os integrantes da Maré Vermelha superaram as inúmeras barreiras, principalmente em jogos fora de casa, e passaram a ter a admiração de muitos torcedores do Inter-SM. Com o tempo, o público passou a aguardar de forma ansiosa pela participação dos adeptos no estádio.
A motivação para o livro
Formado em História pela Universidade Franciscana (UFN), Eduardo Bortolotti Silveira, 29 anos, pesquisou durante cinco anos sobre o assunto, que foi o tema do seu Trabalho Final de Graduação (TFG), defendido em 2021. De acordo com ele, a ideia surgiu após uma conversa com um professor, em 2015, que haveria mencionado a falta de materiais históricos sobre a Maré Vermelha. Desde então, o jovem foi atrás de antigos integrantes, torcedores que frequentavam o estádio, além de jornalistas.
– A Maré Vermelha ainda não é homenageada do jeito que deveria ser. Eles (torcedores) eram muito corajosos, pois tinham que enfrentar não só um estádio, mas também uma cidade. Hoje, Santa Maria ainda é muito conservadora, mas na época era muito mais, principalmente no período do fim da ditadura militar. Eles tiveram muita coragem e, por isso, merecem ter essa visibilidade – afirmou o autor.
No Brasil, a torcida LGBTQIA+ de maior popularidade foi a Coligay, que representou o Grêmio entre os anos de 1977 e 1983. Pensando que a torcida santa-mariense esteve ativa por mais tempo, Eduardo compreende que o reconhecimento da Maré ainda é pequeno. Na visão do autor, se trata de uma história capaz de ser referência a nível nacional e, quem sabe, mundial.
O legado da Maré
Mesmo inativa desde 1992, a Maré Vermelha segue como inspiração na forma de torcer no Estádio Presidente Vargas. Eduardo Bortolotti Silveira conta que as primeiras torcidas organizadas do clube, das quais a Maré Vermelha está inserida, foram fundamentais para mudar a forma de apoiar o time na Baixada. A partir delas, artefatos pirotécnicos, papeis picados, faixas e outros elementos passaram a estar presentes com mais frequência no estádio.
Atualmente, não existe nenhuma torcida LGBTQIA+ que represente o Inter-SM, assim como não há uma movimentação para a criação de um novo grupo ou para a volta da Maré Vermelha.
Próximos passos
Após o lançamento do livro, o autor pretende dar seguimento ao perfil que administra no Instagram, onde coloca relatos da época, assim como fotos antigas, para ajudar na divulgação dos trabalhos relacionados à torcida. O próximo grande projeto é o desenvolvimento de um documentário em parceria com a TV Ovo.
Quanto ao livro, ele pode ser adquirido de forma gratuita na Câmara dos Vereadores ou por meio de um contato com a página no Instagram.