
Foto: Eduardo Ramos (Arquivo Diário)
Registro de 2023.
A partir dos percalços climáticos e econômicos, Santa Maria terá peixes menores (em quilos) e aumento dos valores para a Semana Santa deste ano. A estiagem aparece como o atual desafio.
Os consumidores da tradicional Feira do Peixe Vivo devem sentir no bolso um aumento de até R$ 1,50 no quilo de peixes como tilápia, carpa-capim e carpa-húngara. A produção só foi viável porque os piscicultores permaneceram no cultivo, mesmo após as perdas das enchentes de abril e maio de 2024 na Região Central.
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Após as enchentes, o primeiro levantamento da prefeitura indicou que a maioria dos produtores perdeu 100% dos peixes. Foi o caso do piscicultor Elvio Moacir Bortoluzzi, 77 anos, que tem criação no distrito de São Valentim. Na época, a reportagem esteve na propriedade, que cultivava 3 mil peixes, e viu a força da água transbordar os criadouros e levar embora todos os animais. Hoje, quase um ano depois, a produção reduziu 90% do esperado para a época.
– Tinha 3 mil peixes aqui. Agora, devem ter sobrado 200. O resto, cerca de 90%, foi embora – revela Bortoluzzi.

Depois de R$ 50 mil em estragos, para Bortoluzzi seguir produzindo foi necessário conhecimento técnico para realojar animais. No fim, uma produção que antes estava em nove tanques, concentrou-se em um único viveiro. O povoamento foi realizado com animais maiores, com adequação de alimentação. Além disso, a seca é o atual desafio, indica o técnico zootecnista que atua na propriedade e em toda a Região Central, Jackson rodrigues, 30 anos:
– Por haver um volume significativo na barragem, conseguimos manejar e dar continuidade na produção. E claro que os animais estarão menores, pesando em média 3 kg. A função da seca prejudica a qualidade da água, o desempenho dos animais. As altas temperaturas causam desconforto térmico e podemos perder animais.

Conforme Secretaria de Desenvolvimento Rural, as perdas, com a enchente de maio do ano passado e também devido ao impacto da estiagem deste ano somam 25 toneladas. Atualmente, as águas dos açudes baixaram e aqueceram muito, indica a pasta. O setor tem dificuldades em apontar dados de recuperação, pois seriam necessários pelo menos dois anos para que se tenha dados mais precisos.
Sobre os investimentos, a prefeitura aplicou R$ 60 mil em distribuição de alevinos e R$ 30 mil em horas máquinas para recuperação e a limpeza de açudes.
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Comercialização
Conforme a prefeitura, o aumento nos preços dos peixes para este ano será de 6,5%, em comparação a 2024. O presidente da Associação dos Piscicultores de Santa Maria (Apism), Paulo Schuster, indica que o valor foi reajustado após um conjunto de aumentos na produção.
– A estiagem atrapalhou bastante. Poderia ter um peixe maior, mais desenvolvido, com peso mais elevado. Tivemos um pequeno acréscimo, porque subiu ração, alevinos, o preço da mão de obra para a Semana Santa e combustível – enumera.
Apesar desse cenário, Schuster garante que não vai faltar peixe na cidade.
Feira do Peixe Vivo

A prefeitura e Associação ainda não publicaram detalhes sobre a feira. Ainda assim, o presidente acredita que cerca de 50 toneladas devem ser disponibilizadas para a feira.
Espécies e valores por kg na Feira do Peixe Vivo 2025
- Carpa Prateada – R$ 20,30
- Carpa Húngara – R$ 20,30
- Carpa Capim – R$ 23,30
- Carpa Cabeça Grande – R$ 16,30
- Peixes Nativos (Pacu, Traíra, Jundiá, Piava) – R$ 25,30
*Conforme tabela repassada pela associação
Retrospectiva
Em 2021, houve uma redução na comercialização, mas que já era planejada pelos produtores, devido a pandemia de Covid-19. Nos dois anos seguintes, recuperação seguida da baixa de pescados devido à estiagem e, com isso, a produtividade reduziu 30 toneladas. Em 2024, se manteve a redução e os preços, para não prejudicar o consumidor, indica a associação. Já neste ano, os valores foram ajustados.
Vendas na Feira do Peixe Vivo
- 2021 – 93,4 toneladas
- 2022 – 108,5 toneladas
- 2023 – 70 toneladas
- 2024 – 70 toneladas
- 2025 – Previsão da associação de 50 toneladas
E antes da Feira do Peixe Vivo, a comunidade já pode garantir o pescado na Festa do Peixe, Pão e Vinho, que acontece no distrito de Boca do Monte no próximo final de semana, 5 e 6 de abril.
O que o setor precisa durante a estiagem
Conforme o zootecnista Rodrigues, a seca implica na necessidade de reservatórios:
– A gente só consegue trabalhar com piscicultura se tivermos reservas de água. Precisamos aumentar as capacidades de reservas de água, principalmente nas propriedades. Também, reformar alguns viveiros e trabalhar com essa captação.