Os produtos brasileiros ficarão mais caros no mercado americano e também no Brasil após o anúncio do 'Tarifaço de Trump' desta quarta-feira (2), e as dúvidas sobre os impactos de curto e médio prazo nas várias camadas do Brasil, inclusive no bolso do consumidor brasileiro, só crescem. A política adotada pode aumentar de um modo geral os preços no mundo todo, consequentemente, acelerar o processo inflacionário, e as grandes empresas e o mercado financeiro devem ser os primeiros setores impactados pela medida. Entre as nações que entraram na lista do 'tarifaço global', o Brasil teve 10% de sobretaxação, a menor faixa de importação aplicada pelos norte-americanos para a entrada nos EUA.
A reportagem do Diário consultou o economista e professor do Departamento de Economia Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Daniel Arruda Coronel sobre o tema nesta quinta (3). Durante o programa 'F5', da Central Diário de Notícias, 93.5 FM, ele resume o impacto nas exportações brasileiras de maneira que os exportadores devem ter dificuldade de exportar e os produtos brasileiros podem perder competitividade. Isso pode direcionar o Brasil à necessidade de conquistar novos mercados.
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– Nós vamos ter que ficar à mercê dos Estados Unidos. Isso significa o quê? O Brasil vai ter que buscar fortalecer suas relações econômicas internacionais com a China, com a União Europeia, dentre outros países – descreve Coronel.

A decisão dos Estados Unidos abrange apenas as importações de bens, não de serviços.
A consequência da resposta brasileira
Logo após o anúncio de Trump, a Câmara dos Deputados brasileira aprovou a Lei de Reciprocidade Comercial, que autoriza medidas comerciais contra países que imponham barreiras aos produtos do Brasil no mercado global. Mas isso também pode causar desdobramentos no aumento da taxa de juros, indica o especialista.
– O pacote da lei tenta aumentar as tarifas de importação também dos produtos americanos. Mas isso pode levar a um aumento de preços, devido ao cenário de inflação já existente. O que pode levar futuramente a um aumento das taxas de juros, o que é extremamente perigoso para a economia brasileira em um cenário que estamos, com baixas taxas de investimento, baixa formação bruta de capital. Ou seja, o Brasil terá cada vez mais dificuldade em se posicionar nesse cenário internacional.
O texto da lei brasileira segue para sanção presidencial.
Atenção do Brasil
Conforme Coronel, as maiores preocupações do Brasil são o câmbio e inflação. A recessão global estaria no horizonte a médio prazo.
- Taxa de Juros no Brasil – Até então, tentam conter inflação com a taxa de juros. Se continuar a subir, agravará cenário, com crescimento nulo do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025
- China – Principal parceiro comercial do Brasil. Laços devem se estreitar ainda mais, principalmente com matéria-prima do agronegócio
- Dólar (USD) – Deve cair no primeiro momento. Depois, aumentar, o que pode ter impacto em preços, como o dos combustíveis
- Novos mercados – Brasil terá que buscar novos parceiros e aprofundar relações
Câmbio no Brasil
1 dólar = R$ 5,60 hoje. O ideal, na taxa competitiva, seria R$ 5,20. Mas difícil atingir no longo prazo.
Recessão global
Com mais tarifas na importação e alta na inflação nos EUA, pode contagiar outros países, gerando recessão global.
- Recessão global – Geralmente envolvem alta inflação, baixo crescimento, alta dívida e ambiente de alta fragmentação. A recessão econômica indica a desaceleração da atividade de forma ampla por um período prolongado.
A estratégia de Trump
Na leitura do economista, o movimento das taxações nada mais é do que um posicionamento que já aparecia na campanha eleitoral de Donald Trump, em que o objetivo é colocar a economia norte-americana no centro das decisões por meio do protecionismo. O objetivo é incentivar a fabricação de produtos novamente nos EUA, mas isso exige investimentos pesados e não teria efeito a curto prazo. O principal problema das taxas mais altas de importação seria o aumento da inflação nos EUA, o que pode obrigar a alta de juros.
O presidente Trump formulou o aumento das taxas de importação para aqueles países que também cobram as taxas aos produtos norte-americanos. A expectativa seria aumentar a competitividade frente à China, sua adversária direta pelo protagonismo.
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