Foto: Nathália Schneider (Diário)
Com a proximidade do fim do ano letivo, responsáveis por estudantes de escolas privadas já estão revendo as finanças para o próximo ano. Isso porque, com o período de rematrículas, o reajuste no valor das mensalidades para 2024 já foi repassado.
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No início do mês de novembro, uma pesquisa do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe) indicou que a média do valor de reajuste das mensalidades será de cerca de 8,6%, índice menor ao previsto no ano passado, de 9,3%.
De acordo com o presidente do sindicato, Oswaldo Dalpiaz, os números que representam, principalmente, o custo da folha salarial e a manutenção, como água, luz e impostos, são os que mais pesam, mas, nestes últimos anos, há novas preocupações.
– Ultimamente, têm pesado muito itens como capacitação dos professores e aparelhos tecnológicos. Tudo que envolve as questões metodológicas. Outros, são as despesas com o atendimento aos alunos com deficiência e o investimento em segurança. São fatores que chamam atenção na composição das mensalidades para 2024 – explica.
Variações
Em Santa Maria, o cenário tem sido semelhante ao apresentado por todo o Estado. O Diário consultou sete escolas da cidade, e o reajuste ficou entre 6% e 12%. Entre as preocupações por parte das instituições que se refletem em investimento, a segurança traz impacto aos novos valores da mensalidade.
Conforme o vice-diretor do Colégio Fátima, Antônio Campagnolo, esse foi um dos motivos que contribuíram para o reajuste de até 12% na mensalidade de alguns segmentos de ensino da instituição:
– A segurança é algo que cada dia preocupa mais as instituições. Nós precisamos fazer investimentos e, claro, isso tem um custo também. Por exemplo, investimos na entrada com a leitura facial da criança ou do responsável, para ter um maior controle de quem está entrando na escola – pontua, ao citar, também, adequações indicadas pelos bombeiros, além da adaptação ao Novo Ensino Médio.
A reformulação metodológica também está relacionada ao aumento da mensalidade do Colégio Marista Santa Maria. No reajuste que varia de 8% e 10%, de acordo com cada nível de ensino, está a inclusão do material didático na mensalidade de alguns níveis, a carga horária estendida na Educação Infantil e anos iniciais, e o aumento gradativo da carga horária para o Ensino Médio, de acordo com a legislação.
O aumento da carga horária também foi um dos fatores apresentados pela Escola Nossa Senhora da Providência para o reajuste de cerca de 8%, além do aumento dos honorários dos professores advindos da definição do sindicato. O mesmo índice foi apresentado pelo Colégio Antônio Alves Ramos (Palotti), motivado pelo investimento em pessoal, segurança e reforma na infraestrutura da instituição.
Capacitação
Custo com equipe profissional, além de gastos com consumo, também influenciam no reajuste médio de 9% nas mensalidades do Colégio Adventista. Além do aumento no valor operacional básico, como água e luz, o diretor do Colégio G10, Diego Crivellaro Pereira, cita que o aumento de 7% na mensalidade para 2024, inferior ao deste ano, também passa pelo investimento na estrutura física da instituição e da equipe de professores.
– No ano passado, tivemos um reajuste um pouco maior, que foi de 9% exatamente, que se deu pela alteração da grade do Novo Ensino Médio, que acarretou no aumento do número de disciplinas – relembra.
Outra instituição que apresentou redução no percentual de reajuste para o próximo ano foi o Colégio Batista. Dos 15% apresentados no ano passado, reajuste motivado principalmente pela pandemia de Covid-19 e implementação do Ensino Médio, a instituição apresentou o índice de 6% para 2024 – o menor entre as entidades consultadas. Neste ano, segundo o vice-diretor administrativo Wilson Ciegler, foi calculado em cima do valor da inflação, que acarretou no aumento do custo operacional.
Os colégios Adventista e Nossa Senhora da Providência também apresentaram redução no índice para o próximo ano letivo.
A Escola Medianeira não informou o percentual de reajuste, mas afirma que o valor foi calculado considerando diversos fatores, incluindo os custos com colaboradores, encargos sociais, e trabalhistas, despesas com manutenção e formação dos educadores, entre outros.
O Colégio Franciscano Sant’Anna ainda não definiu o índice para 2024. Os colégios Riachuelo, Marco Polo, Santa Catarina e Coração de Maria não informaram se haverá alteração nas mensalidades nem o percentual de reajuste. O Diário não conseguiu contato com a direção do Colégio Metodista Centenário.
O que impacta no aumento:
- Custo da folha salarial
- Investimento em segurança
- Manutenção e custos fixos (água, energia elétrica, telefone e internet)
- Investimento em profissionais e estrutura para atendimento especializado a alunos com deficiência
- Melhorias em infraestrutura
- Atualização tecnológica
- Capacitação de professores
- Ampliação da carga horário do Novo Ensino Médio
Novos valores podem apertar orçamento das famílias
De acordo com o último último Boletim Focus, do Banco Central, a expectativa de inflação para o ano de 2023, prevista pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), é de cerca de 4,59%.Ou seja, em alguns casos, quase metade do reajuste apresentado pelas escolas.
Como a renda não vem acompanhando a elevação do custo dos serviços básicos, além do reajuste da mensalidade, muitas famílias estão precisando rever os gastos para poder manter os estudantes no ensino privado.
Esse é o caso da mãe, que não quis se identificar, de um aluno do 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola particular da cidade. Ela, que é contadora, revela que, apesar de previsto anualmente, o reajuste sempre impacta de alguma forma o orçamento da casa:
– Sempre fazemos ajustes. Às vezes, deixamos de fazer um passeio, uma viagem, para poder dar uma melhor qualidade de ensino. Por enquanto, o reajuste não impacta muito porque sou bem econômica, não sou de gastar muito, então, não tenho o meu orçamento apertado. Mas eu sei que para muitas famílias não é assim. Às vezes, são dois filhos na escola, ou surge algum imprevisto que já fica mais pesado. Mas eu já sou consciente que isso aí vai reajustar e já me planejo – conta.
Economista e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Anderson Antonio Denardin reforça que, por ocupar uma proporção maior nos gastos, a mensalidade escolar acaba por implicar na redução de outras despesas que compõem o orçamento familiar:
– Se a renda das famílias tivesse aumentado proporcionalmente com a inflação, mesmo assim, considerando que esse item especial está crescendo numa proporção maior, ele ocupa espaço. E na medida que ela vai ocupando espaço maior, vai apertando o orçamento para outras despesas.
A inadimplência é outro fator que vem contribuindo para os números dos reajustes, isso porque, segundo o economista, com o atraso ou não pagamentos das mensalidades, as escolas optam por se precaver repassando esse déficit.
Denardin explica que o melhor caminho, tanto para os responsáveis pelos alunos quanto para as instituições de ensino, é o diálogo:
– Os pais podem ir até a escola para buscar algum mecanismo de negociação ou renegociação. Tanto das mensalidades, para ver se eles conseguem diminuir o valor dessas cobranças que estão sendo feitas, ou até mesmo aqueles que estão endividados para fazer uma renegociação das dívidas. Também existe a possibilidade de acessar bolsas de estudo, dependendo das circunstâncias e condições financeiras dos pais, eles podem negociar com as escolas a disponibilidade dessas vagas com um bom desconto ou, até mesmo, uma bolsa de estudo integral – indica.
De acordo com as definições da Lei Federal nº 9.870/99, cada escola tem autonomia para definir o valor das mensalidades. Apesar da lei não exigir um teto, o valor só pode aumentar uma vez ao ano, e as instituições devem comprovar os custos mediante apresentação de planilha.