Foto:Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo/ Acervo
Parte da capital gaúcha inundada em 1941.
As alterações do clima e, consequente do solo, despontaram para ocorrências cada vez mais seguidas no Estado, com as águas atingindo locais até então inalcançáveis e revisitando terrenos onde os estragos existiram e mal foram recuperados. O sofrimento vivido agora repete, infelizmente, o de outras cheias que marcaram a história dos gaúchos, como a grande enchente de 1941, que perdeu o posto de maior tragédia climática do Rio Grande do Sul para a cheia atual.
Revisitando jornais da época, impressiona a semelhança dos fatos, dos locais destruídos e das notícias. E para o futuro, os prognósticos não são favoráveis. Em 2040, a projeção é que cerca de 240 mil pessoas na América do Sul serão expostas a inundações costeiras. Atualmente, a média global para estes fenômenos é de um a cada 100 anos, mas os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertam para novos parâmetros de avaliação. E os gaúchos estão vivenciando de perto este avanço.
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Dois fenômenos bem conhecidos dos gaúchos estão continuamente em discussão. O La Niña, que, por vezes, traz a seca. E, agora, o El Niño, com as inundações. O Rio Grande do Sul não é o único que passa por episódios seguidos, mas vive um desde o final de abril, que tomou proporções catastróficas. As chuvas frequentes e com altíssimos acumulados transformaram a vida de famílias da Região Central do Estado.
Só em Santa Maria, foram cinco mortos, a maioria por deslizamentos. Na região, mais cinco morreram. Com o tempo, os níveis das águas também subiram na área Metropolitana de Porto Alegre e chegaram à Capital. Depois, na região sul da Lagoa dos Patos. Até a noite desta sexta (24), eram pelo menos 163 óbitos, 65 pessoas desaparecidas, 806 feridas, 63 mil pessoas em abrigos, 581 mil desalojados e mais de 2,3 milhões de afetadas, conforme a atualização da Defesa Civil estadual.
A maior enchente da história do Estado é, também, um novo episódio. O segundo pior, agora é o de 1941, que também ocorreu entre abril e maio. Houve outros como em 1873 e 1959. A média é de 10 cheias em 100 anos. Se em maio de 1984, havia a referência do dia que mais choveu em Santa Maria, com 182mm – total de 471mm no mês. Os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) atualizam que, nos últimos 15 anos, desde 2009, o município já passou essa marca diária em 10 episódios. As mudanças climáticas são perceptíveis. Na enchente atual, os acumulados são maiores, em menor tempo e com população mais densa em um menor território.
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A partir de registros de jornais como A Razão, encontrados no Arquivo Público de Santa Maria, é possível identificar que o caos no Estado na enchente de 1941 se assemelha muito ao que se viveu agora. Os estragos foram contabilizados em diferentes regiões do Estado. Pelo menos mais de 1,5 mil pessoas tiveram que sair de suas casas em Santa Maria. Cidades como Jaguari registraram óbitos e diversos deslizamentos, porém não há dados exatos do total de mortos na cidade nem no Estado.
Estradas e linhas de trem bloqueadas. Risco da falta de produtos essenciais, como gasolina e comida. Cidade sem luz e sem água. Tudo de 41 muito parecido com as notícias lidas nas últimas semanas. Outras enchentes também tiveram esse comportamento.
As ocorrências se repetem, inclusive quanto a pontos afetados. Em Santa Maria, em 1941, graves deslizamentos de terra e pedras gigantes no Morro do Cechella (do lado da atual barragem do DNOS) destruíram a ferrovia, obrigando a construção de um trecho novo, onde os trilhos passam até hoje. No lugar da estrada de ferro desativada, acabaram sendo construídas casas, que hoje são a Churupa e a Rua Canário, onde um deslizamento, no último dia 1º de maio, matou mãe e filha.