
Foto: Vatican News
Além de ser uma figura emblemática para instituições religiosas, o papa é também uma personalidade política. Embora seja comum que o chefe máximo da Igreja Católica exerça influência política, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, deixa um legado de diálogo e em defesa dos pobres e marginalizados, que faz jus ao nome que escolheu para ser identificado, de São Francisco de Assis. O professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) José Renato da Silveira falou ao programa F5, da Rádio Central Diário de Notícias (93.5 FM), nesta segunda sobre a relação de Francisco com o resto do mundo.
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Ainda neste domingo (20), Francisco fez o que seria sua última aparição pública. Em uma cadeira de rodas, abanou para os fiéis que estavam aos arredores na Praça de São Pedro, no Vaticano, além de ter circulado pelo local com o Papamóvel. No texto lido por um mestre de cerimônias, destacou o desejo de que "voltássemos a ter esperança de que a paz é possível":
– Ele foi o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta e também o primeiro Francisco. Ele foi um líder político, religioso, de grande expressividade. E ontem (domingo) na sua despedida, ele pede paz em Gaza, abençoa o povo e de fato, agora, foi descansar. Um líder extremamente corajoso, com muita compaixão. Gostei muito das expressões que as pessoas estão usando como "o papa misericordioso".
Francisco se destacou em suas ações para a comunidade LGBTQIA+. Em dezembro de 2023, o Vaticano anunciou a decisão histórica, autorizada por papa Francisco, de que os padres poderiam realizar bênção aos casais do mesmo sexo, desde que não façam parte dos rituais ou liturgias regulares da Igreja Católica:
– Ele de fato soube traduzir suas intuições para um Igreja mais moderna, mais humana, mais solidária e também, a palavra mais importante, mais progressista. Houve alguns avanços na Igreja Católica sobre o papa Francisco, e que de fato eram um pouco impensáveis há alguns anos. Ele de fato foi uma inovação na Igreja Católica. Uma liderança carismática. Sempre foi uma voz muito ouvida. E felizmente não é uma luz que se apaga. Ele deixa um legado importante.
Posicionamento
Em diversas ocasiões, Francisco reforçou seu pedido pela paz. José Renato aponta os momentos em que pedia por diálogo e fim da guerra, inclusive entre Rússia e Ucrânia, o que destaca também a influência política do pontífice. O professor destaca que, apesar da morte de Jorge Mario Bergoglio nesta segunda, o discurso dele ficará marcado na Igreja Católica e entre a população de todo o mundo:
– Ele foi bastante ouvido. Embora precisamos levar em conta que vivemos um período com muitas lideranças autoritárias, com personagens muito influentes na política internacional. Temos, por exemplo, um Benjamin Netanyahu que acredita que o extermínio da população Palestina é um objetivo muito claro. É uma luz que permanece acesa em meio a uma série de figuras autoritárias, algumas com discursos antissemitas. Um mundo muito mais conservador e retrógrado em relação a uma série de discussões progressistas. Uma frase marcante para mim que ele disse foi: "Somos todos imigrantes. Ninguém tem moradia fixa neste mundo".
Figura política
Nesse sentido, o professor José Renato elencou momentos em que Francisco recebeu visitas de lideranças políticas. O vice-presidente dos Estados Unidos, James David Vance, esteve com o pontífice no domingo. Vance se converteu ao catolicismo em 2019.
– Ele (Francisco) era um homem que apoiava a questão dos pobres, dos imigrantes, o movimento LGBTQIA+. É um homem muito a frente desse momento muito crítico que estamos vivendo. E que essas lideranças conservadoras e autoritárias têm feito muito coro e muita força nesse mundo. Vale lembrar também que o último representante de Estado que se reuniu com o papa foi o vice-presidente dos Estados Unidos, James David Vance, uma figura muito próxima da figura de Donald Trump, que vem chamando atenção de nós, internacionalistas, neste ano de 2025.
Apesar de estar em uma posição de diálogo, Francisco sempre demonstrou seu posicionamento pelos marginalizados:
– Vale lembrar que, por muitos aqui no Brasil, o papa foi até chamado de comunista. E tem uma frase muito interessante dele em que disse: "Para muitos, eu sou chamado de comunista, mas o amor pelos pobres é o centro do evangelho". É uma figura rara, extraordinária. Ele conseguiu deixar uma Igreja Católica mais universal, aumentou o número de fiéis.
Próximo papa
Após a morte do pontífice, a Igreja Católica lida,agora, com o conclave papal, a escolha para o próximo papa:
– O seu sucessor é uma coisa bastante delicada, agora, também. Há muitas discussões de que um movimento ultraconservador fará muita força na escolha do futuro papa. Teremos um conclave bastante forte neste sentido. De tendências opostas. A ala conversadora fará força para representar o próximo papa.
Confira a entrevista na íntegra