
Foto: Beto Albert (Diário)
Segundo relatório enviado pela Emater à prefeitura de Santa Maria, no dia 24 de janeiro, os prejuízos causados pela estiagem no campo e na pecuária passam de R$ 67 milhões. Deste total, pelo menos R$ 52 milhões são de perdas na soja em decorrência da falta de água nas lavouras. Esses fatores resultaram na assinatura do decreto de emergência por parte do município, no dia 29 de janeiro.
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No distrito de Santa Flora, que conta com grande número de produtores de soja, o cenário ajuda a explicar essa realidade. Em uma das propriedades rurais do local, há mais de 20 anos mora a família Boemo. Segundo o estudante de agronomia Filipe Cerolini Boemo, de 23 anos, as perdas no campo passam de R$ 1 milhão, e o cenário pode se agravar caso o cenário não mude.

Não chovia por lá há mais de 40 dias. Na última semana, pelo menos três pancadas que caíram na lavoura de soja serviram para amenizar os estragos. Em meio à lavoura de 110 hectares, onde o universitário conversou com a reportagem na tarde de quinta-feira (30), as folhas no tom de verde, disfarçam a realidade vista mais de perto: plantas amareladas e queimadas pelo sol, além de raízes secas.

A família possui outras lavouras ao longo do distrito e também deu início à produção de soja no município de São Sepé, onde o pai do jovem, o agricultor Dilceu Boemo, 59 anos, está passando alguns dias por lá, cuidando das terras. Ao total, são cerca de 950 hectares.
– Estamos bem ansiosos porque a chuva dos últimos dias, aqui, não foi generalizada, foram pancadas. Enquanto choveu mais em alguns pontos do campo, em outros, não choveu quase nada. Fica praticamente um sorteio para ver quem vai receber essa chuva – afirma o jovem.
Sem usar um sistema de irrigação, o único método de alimentar as plantas é por meio da chuva que cai do céu. Conforme o universitário, é possível afirmar que pelo menos metade da estimativa, entre 60 a 65 sacas por hectare, já foi perdida:
– Se voltar a chover regularmente, a gente estima retirar entre 30 a 35 sacas por hectare, no máximo. A cultura já está em fase reprodutiva, com a formação da vagem e crescimento do grão, mas algumas nem produziram a vagem ainda e não temos tanto tempo para recuperação. Essa colheita aqui deve ocorrer em meados de março, falta pouco tempo, então é preciso que chova em fevereiro para pelo menos conseguir encher os grãos das vagens que se desenvolveram.

Traduzindo para valores, era esperado retirar pelo menos R$ 8 mil por hectare após a colheita, mas o valor já foi reduzido pela metade:
– Se a gente tirar pelo menos R$ 4 mil por hectare aqui já seria bom. Mas ao total, a perca neste caso já passa de R$ 1 milhão, com certeza.
Em alguns outros pontos, a lavoura possui um ciclo maior de reprodução e ainda não entraram na fase de reprodutiva, que demanda de mais água. Nestes locais, caso volte a chover, os estragos podem ser menores:
– Mas se não voltar a chover, as quebras podem ocorrer lá também e os prejuízos serão ainda maiores – reforça.

Por causa da enchente de 2024 que atingiu o Estado, a família também teve perdas na colheita, pois o solo inundou as plantações:
– O grão da soja apodreceu, era muita água. Era justamente o período da colheita. Conseguimos colher boa parte antes das chuvas, mas o que ficou, perdemos.
Uma das alternativas usadas é o cultivo da palhada, que é um prática agrícola que consiste em manter os restos vegetais no solo após a colheita de inverno, formando uma espécie de palha. Ela retém a umidade do solo e vai disponibilizando essa umidade mais lentamente para as plantas. Funciona de forma mais precisa em momentos específicos, porém não dura muito tempo.

– É um sentimento de angústia, porque a gente não tem muito o que fazer. Se fosse uma praga, erva daninha a gente controlar, melhorar o manejo... mas com mais de 40 dias sem chuva, não há manejo que resista. Ficamos de mãos atadas, a gente não tem como fazer chover – finaliza Filipe.
Situação na Região Central
Até a tarde desta segunda-feira (3), cerca de 21 cidades da região estão com seus decretos oficializados. São eles: Santa Margarida do Sul, Tupanciretã, Rosário do Sul, Cacequi, Santiago, Silveira Martins, Júlio de Castilhos, Jari, Toropi, Vila Nova do Sul, Nova Esperança do Sul, São Francisco de Assis, Unistalda, Itacurubi, Quevedos, Mata, São Gabriel, Jaguari, Santa Maria, São Pedro do Sul e Dilermando de Aguiar.
Além disso, outros três já assinaram o decreto, mas aguardam homologação por parte do governo do Estado: Itaara, São Sepé e São Vicente do Sul. Os dados são da Defesa Civil do Estado e das prefeituras municipais.
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