Previsões

Fenômeno El Niño trará chuva intensa e adversidades à safra plantada este ano

Fenômeno El Niño trará chuva intensa e adversidades à safra plantada este ano

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Após a terceira estiagem consecutiva no Rio Grande do Sul, com perdas sequenciais afetando os cultivos agrícolas e o armazenamento de água na Região Central, a recuperação do cenário produtivo tem uma barreira natural iminente, o fenômeno El Niño e suas chuvas intensas para todo o Estado. Caso se concretize, a colheita de aveia e trigo, desenvolvidas no inverno, e a plantação de soja e milho, com desenvolvimento no verão, podem ser afetadas. O cenário mais crítico são os números negativos como a safra de 2015/2016, última vez que o RS vivenciou o fenômeno. 

Conforme o meteorologista da BaroClima Meteorologia, Gustavo Verardo, o El Niño trará chuvas excessivas ao Sul e Sudeste do país. Já no Norte e Nordeste do país, causa secas (chuvas abaixo da média), principalmente nas regiões mais equatoriais. A depender dos acontecimentos meteorológicos, agricultores vêm se preparando para os próximos meses.  

Adversidades

A escassez de chuva em 2023 causou problemas no Rio Grande do Sul em âmbito econômico, agrícola e social. Neste ano, 39 municípios da Região Central do Estado decretaram situação de emergência no período de seca, com desabastecimento de água e prejuízo superior a R$ 3 bilhões para a agricultura, conforme dados da Emater.

O cenário deve ser diferente nos próximos meses, em que haverá chuvas abundantes. Devido ao El Niño, o meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e integrante do Grupo de Meteorologia vinculado ao Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da instituição, Murilo Machado Lopes, projeta um verão sem estiagem. 

– Típicamente, o El Niño favorece uma primavera bastante chuvosa na região Sul do Brasil e áreas vizinhas como Argentina, Uruguai e Paraguai. E esta condição está começando a se desenhar. O impacto direto deve vir já no começo da primavera desse ano com umidade e estabilidade que provocarão chuvas – explica Lopes. 

Os alertas são constantes e o reflexo deste fenômeno deve durar até o verão, com projeções semelhantes àquelas da última ocorrência.

– A intensidade do fenômeno varia de fraca, moderada a forte. No caso deste ano, vai ser forte igual ao ano de 2015 – compara Gustavo Verardo, meteorologista da Baro Clima. 

Cenários do El Niño

Em 2015, houve a ocorrência de um Super El Niño, quando as águas do oceano pacífico na região do Equador estavam dois graus acima da média histórica. O meteorologista Murilo Lopes relembra o período há sete anos atrás e alerta para este ano:  

– Em 2015, tivemos reflexos bastante justificativos aqui na região, como enchentes e tempestades intensas. Para este ano, esperamos que o El Niño tenha intensidade de média a moderada, entretanto, existe alguma incerteza sobre o quão forte será este fenômeno.  Ainda que não chegue ao nível de 2015, a possibilidade de termos chuvas mais frequentes com quedas de granizo existe, principalmente na primavera, virada de agosto para setembro. 

Lopes ainda indica que, no momento, é impossível definir quando os efeitos do El Niño cessarão. Preliminarmente, é improvável que passe de um ano. 

Safra 2023/2024 em meio a chuvas intensas 

“A agricultura é uma fábrica a céu aberto”, diz o gerente do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar, Guilherme Passamani, o que culmina em uma série de tomada de decisões a curto prazo. Para isto, os agricultores recorrem às previsões meteorológicas para comprar sementes, decidir o tipo e quantidade de terreno plantado, o tempo da plantação, a quantidade de defensivos agrícolas, a possibilidade e necessidade de investir em maquinário, microaçudes e reservatórios de água. Cálculos feitos para obter a menor porcentagem de perda do plantio, ou melhor, a maior taxa de sucesso. 

Se a previsão se confirmar, e não haver estiagem no verão, a notícia é positiva para o abastecimento de água, mas pode influenciar na colheita de culturas plantadas agora no inverno. 

Por que muita chuva é prejudicial? 

O momento é de plantação das culturas de inverno, e, até então, Passamani indica que o fenômeno El Niño ainda não causa prejuízos no cultivo agrícola. Mas a torcida prevalece para que não haja tanta chuva, principalmente, no mês de novembro.  Os impactos econômicos ainda não são mensuráveis. 

Trigo 

Na região, o El Niño deve afetar, principalmente, o trigo, uma cultura com expressão relevante na parte dos grãos. Conforme o último boletim da Emater da Região Central, do período de 06 a 12 de junho de 2023, o plantio chega a 30% da área prevista. 

– Com muita chuva, temos perda na qualidade, principalmente, na incidência de doenças na planta (questões fitossanitárias), que implica em mais uso de defensivos. Podemos ter também dificuldades na hora de colher. Claro, são previsões climáticas que podem ou não se efetivar –  enfatiza Passamani. 

Aveia

A aveia branca também está sendo plantada na região, faltando cerca de 30% para ser concluída, conforme relatório da Emater. Sendo mais rústica, o impacto é menor, mas deve ser sentido, principalmente na pecuária, já que serve de alimentação animal. 

Soja

O excesso de chuvas também é ruim para o plantio da cultura de verão. Na lista, Passamani inclui a soja, o milho e até mesmo o arroz em alguns sistemas. Além disso, na safra de 2015/2016, ano da ultima ocorrência do El Niño, os relatórios da Emater mostram a dificuldade da colheita, não apenas do trigo, mas também da colheita de soja em abril, devido ao excesso de umidade.  Ainda que nos dados finais, a produtividade tenha sido maior do que o esperado.  

Hortigranjeiros 

O excesso de chuvas durante o desenvolvimento das culturas acaba afetando a qualidade em relação aos fungos. As hortaliças e as frutíferas devem ser monitoradas para tratar com fungicidas. 

Com isto, o trabalho da Emater é acompanhar as condições climáticas e orientar boas práticas em cada uma das situações. Por exemplo, manter o solo coberto em um ano muito chuvoso. 



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