Ilustração: Por Matheus Fernandes Gadelha (Divulgação)
Gondwanax paraisensis em um ambiente triássico do Sul do Brasil;
Com aproximadamente 237 milhões de anos, o fóssil de um dos mais antigos precursores dos dinossauros, encontrado em Paraíso do Sul, foi descoberto por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O estudo sobre o réptil, que ganhou o nome de Gondwanax paraisensis, foi liderado pelo paleontólogo Rodrigo Temp Müller e publicado no periódico científico Gondwana Research.
O Gondwanax paraisensis é um novo “silessaurídeo” — grupo extinto de répteis que fazem parte de um grupo maior chamado de dinossauromorfos. O paleontólogo explica que ainda se discute se os silessaurídeos foram dinossauros “verdadeiros” ou não. Ou seja, ele pode ter sido um dinossauro ou um precursor dos dinossauros. Ele é um dos é um dos dinossauromorfos mais antigos já descobertos no mundo.
+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia
Os materiais foram descobertos em janeiro deste ano pelo morador Pedro Lucas Porcela Aurélio em um sítio fossilífero chamado de Linha Várzea 2 e, logo depois, doados ao Cappa. Com base nas dimensões dos elementos preservados, estima-se que o Gondwanax paraisensis teria atingido cerca de 1 metro de comprimento e pesava entre de 3 kg a 6 kg. Ele foi um animal ágil e leve, e possivelmente se sustentava em quatro patas.
Como não foram encontrados dentes ou outros elementos cranianos, não foi possível especificar seus hábitos alimentares. Porém, como a maioria dos animais relacionados a ele foram herbívoros ou onívoros, é provável que ele também tivesse esse tipo de dieta.
Ainda segundo o Cappa, o sítio também já revelou fósseis de cinodontes (precursores dos mamíferos), dicinodontes (parentes mais distantes dos mamíferos) e o Parvosuchus aurelioi, um pequeno parente distante dos jacarés e crocodilos.
Mais velhos que os dinossauros?
O Gondwanax paraisensis foi classificado como membro do grupo denominado “Silesauridae” devido a características diagnósticas presentes no fêmur, osso localizado na coxa. Porém, existe um debate sobre a posição que os silessaurídeos ocupavam na árvore evolutiva dos dinossauros. Enquanto alguns especialistas acreditam que podem ter sido precursores muito próximos dos dinossauros, outros defendem que eles seriam os verdadeiros dinossauros.
Esse conflito ocorre justamente porque os silesaurídeos apresentam características típicas de dinossauros, mas também possuem algumas que ainda parecem bastante primitivas. No caso do Gondwanax paraisensis, essa condição é observada nos elementos ósseos.
O fêmur destes animais não apresenta uma das principais cristas para ancoragem de músculos, que é comum em dinossauros. Já o seu sacro (região que conecta a cintura com a coluna) parece bastante avançada, uma vez que apresenta mais vértebras do que outros silessaurídeos com idade similar.
Essa incomum combinação de características pode indicar que o Gondwanax paraisensis locomovia-se de maneira distinta dos outros precursores dos dinossauros.
Escolha do nome
Quanto ao nome, “Gondwanax” significa “lorde do Gondwana”, referindo-se ao futuro domínio que os dinossauros exerceriam na porção de terra conhecida como Gondwana (região Sul do Supercontinente Pangeia). Já “paraisensis” é uma homenagem ao município de Paraíso do Sul.
Pontos principais da espécie
- Gondwanax paraisensis é um novo “silessaurídeo”. “Silesauridae” é um grupo extinto de répteis que fazem parte de um grupo maior chamado de dinossauromorfos. Ainda se discute se os “silessaurídeos” foram dinossauros “verdadeiros” ou não. Ou seja, ele pode ter sido um dinossauro ou um precursor dos dinossauros
- O Gondwanax paraisensis é um dos dinossauromorfos mais antigos já descobertos no mundo
- Apesar de muito antigo, apresentava uma região sacral bastante desenvolvida em comparação a outros répteis que coexistiram com ele
- A ocorrência do Gondwanax paraisensis em camadas fossilíferas que já haviam revelado outros fósseis de “silessaurídeos” indica que esses dinossauromorfos foram bastante diversos, mesmo durante as fases iniciais da evolução do grupo
Anatomia e tamanho
- Gondwanax paraisensis atingiu cerca de 1 metro de comprimento com base nos fósseis recuperados. Contudo, existem “silessaurídeos” relativamente maiores
- Sendo assim, novos achados podem vir a mudar a ideia que se tem sobre o tamanho que ele atingia
- Ele pesava entre 3 e 6 kg
- Gondwanax paraisensis possivelmente sustentava-se em quarto patas e andava em terra. Como não foram recuperados elementos do membro anterior, a postura é inferida com base no grau de parentesco com outros “silessaurídeos
- A maior parte dos “silessaurídeos” foi onívora ou herbívora. Por conta disso, é provável que o Gondwanax paraisensis tenha dito uma dieta similar. Essa informação ainda é ambígua pelo fato de que restos dos dentes ou do crânio dele ainda não foram descobertos
- Como outros dinossauromorfos, ele teve o quadril e as pernas com muitas estruturas ósseas especializadas e que indicam uma capacidade de locomoção avançada em relação a outros répteis que viveram com ele
- As vértebras de constituição grácil reforçam que ele foi um animal ágil e leve
Idade e geografia
- A Era Mesozoica inclui os Períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo. O Período Triássico estendeu-se de 252 a 201 milhões de anos. Durante esse momento, surgiram os dinossauros, pterossauros, mamíferos, tartarugas, lagartos e parentes dos jacarés e crocodilos
- Gondwanax paraisensis viveu há 237 milhões de anos, entre a transição do Triássico Médio para o Triássico Superior
- Os fósseis de Gondwanax paraisensis foram descobertos no município de Paraíso do Sul, Rio Grande do Sul. As rochas do sítio em que ele foi descoberto pertencem a unidade geológica chamada de Formação Santa Maria
- Durante o Período Triássico os continentes estavam unidos em uma massa de terra chamada de Pangeia. O clima era muito mais quente do que hoje em dia
Os restos fósseis do Gondwanax paraisensis, assim como uma série de outros fósseis, estão depositados no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (Cappa/UFSM), em São João do Polêsine. O município faz parte do Geparque Quarta Colônia Unesco. No centro de pesquisa há uma exposição de fósseis que pode ser visitada sem custo.
Relembre outras descobertas na região
- Erosão causada pela enchente revela fóssil quase completo de um dinossauro
- Nova espécie rara de cinodonte é encontrada em Dona Francisca
- Descoberta: anfíbio gigante mais antigo que dinossauros é encontrado na região
- Pesquisadores da Unipampa descobrem em São Gabriel novo fóssil do predador mais antigo que os dinossauros