Foto: Mateus Ferreira (Diário)
Após ficar um ano desempregada, Luciane Pacheco, 52 anos, está prestes a completar um mês na função de auxiliar de limpeza. O período do emprego é o tempo que está em Santa Maria, vinda de Porto Alegre. Antes do expediente, conta com o café da manhã ofertado pela Casa Papa Francisco. Ela conheceu o endereço da Rua Silva Jardim, 1.704, recentemente por meio dos colegas que também frequentam um albergue da cidade. Luciane é um dos 80 “filhos prediletos”, como são chamados os acolhidos, que passam diariamente pela Casa. Cada pessoa beneficiada representa a missão do legado do papa Francisco.
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A Casa Papa Francisco começou a funcionar em 2022 para amparar quem se encontra em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. E para os interessados, o tratamento para dependentes químicos também é ofertado. A iniciativa foi inspirada em projetos que o papa Francisco fez no Vaticano, como a lavanderia gratuita para a população mais pobre, como forma de restaurar a dignidade. A mensagem e as ações do Pontífice regam os sonhos de Luciane, que após conseguir uma casa para alugar, deve visitar a família.
– Quero dizer que amo o meu irmão, os meus sobrinhos, a minha cunhada, a minha família toda. Estou com saudade deles, e logo irei visitá-los em Porto Alegre. Que eles se cuidem. Vou visitá-los assim que eu puder – promete.
O local foi pensado pelo arcebispo da Arquidiocese de Santa Maria, dom Leomar Antônio Brustolin, logo que assumiu a função e pretende ser um suporte para pessoas como Luciane. A Casa é regida pela Fraternidade O Caminho, criada em São Paulo, no ano de 2001, e atuante em diversos Estados brasileiros e em mais de 14 países. Ela funciona com o apoio de diversos voluntários e é equipada com chuveiros, lavanderia gratuita e refeitório.
Atendem das 9h às 17h, com café da manhã e janta. Antes da refeição noturna, às 16h30min, é possível tomar banho. Nesse caso, os "filhos prediletos" escolhem novas roupas e lavam suas peças atuais. Na próxima ida ao local, levam as peças limpas. Sobre o legado do papa Francisco, o formador dos voluntários, frei Serafim de Santa Maria dos Anjos, 29 anos, fala:

– Como ele (papa Francisco) falou agora no evangelho de São João, "lá eu estarei, no rosto dos mais pequeninos". É através dos pobres que a gente encontra Deus. Através do serviço, do doar-se, a gente encontra Deus. Então, a partir do nosso trabalho, também posso amar e posso encontrar Jesus no rosto dos mais pequeninos. E vejo nos voluntários que o trabalho não é por obrigação e mero compromisso. Muitas vezes, encontraremos pessoas com o cheiro forte, com raiva. E quando você transmite alegria, pergunta como foi o dia das pessoas, as coisas mudam. O evangelho que ele (Francisco) transmitiu, espero que nós também possamos continuar a transmitir – deseja frei Serafim.
Cresce a importância do atendimento
Prestes a completar três anos em junho, o projeto já recebeu 4 mil pessoas, mas a cada dia surge a necessidade de mais voluntários e doações, visto que mais pessoas estão nas ruas, precisando de atendimento. O coordenador, frei Leonardo dos Mártires de Cristo, 23 anos, percebe com urgência a situação social. Se antes eram indivíduos isolados, hoje, mais famílias aparecem pedindo ajuda.
– A nossa casa é, de fato, um lugar de acolhida, de proximidade com aqueles que precisam e para devolver um pouco da dignidade humana. Cerca de 80 pessoas passam por aqui todos os dias. E é um público bem rotativo. No início, eram de 20 a 30 pessoas por dia. Antigamente, a gente só via pessoas sozinhas. Hoje, nós vemos famílias inteiras em situação de rua – alerta frei Leonardo.

Mesmo que o número de voluntários na Casa tenha aumentado, descreve frei Leonardo, ainda é necessário muito mais. Os interessados podem entrar em contato com a gestão. Contato via WhatsApp (55) 99135-8293 ou e-mail [email protected]. Para doações, os contatos são os mesmos.

Dependência química
Conforme frei Leonardo, três em cada 10 pessoas aceitam fazer o tratamento para dependência química na comunidade terapêutica ligada à Casa. O tempo de tratamento é de nove meses e possibilidade um novo recomeço. Já passaram por esse processo cerca de 40 pessoas.
– O passo mais importante é o tratamento, porque a dependência química é uma doença. Muitas vezes, o que faz uma pessoa estar e continuar nas ruas é a dependência química. Somente depois do tratamento de nove meses é que conseguimos reencaminhar ela para a sociedade com o trabalho – detalha frei Leonardo.
Casa Papa Francisco
- Local – Rua Silva Jardim, 1.704, antigo Banco da Esperança
- Público – Pessoas em situação de rua e vulnerabilidade alimentar
- Início – Junho de 2022, criada pela Arquidiocese de Santa Maria
- Responsável – Fraternidade O Caminho, criada em São Paulo
- Contato – WhatsApp (55) 99135-8293 ou e-mail [email protected]
Horários
Atendem ao público de sexta a sábado, das 9h às 11h, e 14h às 18h. Eles disponibilizaram banho, roupas e kit de higiene. Os acolhidos podem lavar as peças atuais e levar novas. Na próxima vez, pegam limpas.
Segunda
- 9h às 10h30min – Banho e café.
- 15h às 16h – Atendimento para triagem.
Terça
- 9h às 10h – Atendimento para triagem.
- 16h30min às 17h30min – Corte de cabelo e banho.
- 17h30min às 18h – Jantar.
Quarta
- 9h às 10h30min – Banho e café.
- 15h às 16h – Atendimento para triagem.
Quinta
- 9h às 10h – Atendimento para triagem
- 16h30min às 17h30min – Corte de cabelo e banho
- 17h30min às 18h – Jantar.
Sábado
- 10h às 11h – Banho.
Atendimentos
- 4 mil pessoas
- 80 pessoas por dia
- Três em 10 pessoas aceitam tratamento no uso de drogas
- Cerca de 40 já fizeram o tratamento