Foto: Google (Reprodução)
Um dia após o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciar o pacote de concessões de rodovias, que inclui a instalação de pedágios e futuras obras de duplicação dos 204 quilômetros da RSC-287, entre Santa Maria e Tabaí (veja mais detalhes abaixo), a Secretaria Estadual de Governança e Gestão confirmou uma informação que faz toda a diferença para moradores da Quarta Colônia. A pasta desfez a dúvida que existia na segunda-feira sobre a localização da primeira praça de pedágio: a localização exata da primeira praça de pedágio, a que fica entre Santa Maria e os trevos de acesso à região da Quarta Colônia.
Segundo a Secretaria de Gestão, para o motorista que sair de Santa Maria, o primeiro posto de pedágio será na reta antes do trevo de Santuário (veja no mapa acima). Ou seja, ficará cerca de 1 quilômetro antes do trevo, que serve de acesso aos municípios da Quarta Colônia.
Pelo que está previsto no estudo da empresa KPMG, cada uma das cinco praças de cobrança da RSC-287 poderá ter tarifas máximas de R$ 5,93 para bancar as obras de manutenção e a duplicação dos 204 km da rodovia entre Santa Maria e Tabaí. Como haverá licitação, a empresa vencedora até poderá apresentar valor abaixo disso. O Estado estima que a tarifa poderia chegar até R$ 4 por praça.
Preço dos pedágios pode ficar salgado para duplicar toda RSC-287
Portanto, o valor estimado, hoje, para quem viajar de Santa Maria à Quarta Colônia e vice-versa ficaria entre R$ 4 e R$ 5,93 cada trecho. Porém, como ainda haverá audiências públicas em que a população, entidades e autoridades da região serão ouvidas, é possível que haja mudança dos locais das praças de pedágio e até do valor das tarifas.
Entretanto, o governo do Estado terá a palavra final para decidir, pois tem de levar em conta não só o clamor popular, mas o que dizem os estudos técnicos e de viabilidade econômica. Por exemplo: se a praça de pedágio for mudada para depois do trevo de Santuário, para que não haja cobrança para quem viaja entre a Quarta Colônia e Santa Maria, é preciso avaliar qual será a queda de receita projetada para a concessionária. Se isso ocorrer, ou será preciso reduzir gastos em algumas obras ou aumentar um pouco o valor dos pedágios para compensar a redução de receita.
O QUE PENSA A COMUNIDADE SOBRE O CUSTO COM AS NOVAS PRAÇAS DE PEDÁGIOS
A novidade de que está prevista cobrança entre Santa Maria e a Quarta Colônia causou grande repercussão ontem entre prefeitos e representantes de setores afetados pela mudança, ouvidos pelo Diário, que não sabiam ainda dessa informação. Veja abaixo o que eles dizem:
"Vai elevar sempre o custo. Nossa empresa chega a pagar 8 mil com pedágios atualmente. O que acontece é que alguém está pagando, e nesse caso é o cliente. Nós do ramo do transporte vamos ter que aumentar na passagem. Já no turismo, quem vai pagar é a empresa, porque tem a concorrência do serviço. O prejuízo é grande. Sou contra o pedágio. Hoje, já pagamos imposto altíssimo. Se fossemos isentos por ser uma transportadora, até tudo bem. Deveria ser ou imposto, ou o pedágio. Porque estamos pagando o IPVA?"
Nelson Rizzatti, sócio-proprietário da Rizzatti Turismo
"A gente tinha bastante movimento em Santa Maria quando os mercados abriam aos domingos, boa parte dessas pessoas eram da Quarta Colônia, que iam fazer o turismo de compras. Depois, que começaram a manter os mercados fechados aos domingos, esse movimento entre Quarta Colônia e Santa Maria, diminuiu. Agora, se colocarem um pedágio no meio, a tendência vai ser as pessoas se deslocarem menos, porque aumenta o custo de tudo, de passagem de ônibus... Tudo isso vai mexer. O meu próprio custo, vou ter que pensar duas vezes. Apesar de tudo, acho a duplicação positiva, porque acima das questões econômicas tem o fator segurança. As nossas faixas não suportam mais tantos carros. Eu sei porque eu pego ela diariamente. Domingo à tardinha, é um carro atrás do outro. Tem que ponderar esse lado também, da segurança. Isso tem um custo",
Fábio Nascimento, professor de Economia da UFN, empresário e morador de Faxinal do Soturno
"Impactará sem dúvida, principalmente, quem vai para Restinga Seca ou para o Recanto Maestro, mas tenho convicção, também, que para uma estrada duplicada e em boas condições, que ofereça segurança e assistência em caso de necessidade, somado a um valor justo de pedágios valerá a pena. Creio que a discussão sobre o valor do pedágio, se será caro ou não, dependerá muito do que a concessionária irá oferecer. O Estado não tem capacidade de investimento, não conseguiremos melhorias nesta rodovia se não for através da concessão".
Rodrigo Decimo, presidente da Cacism
"A gente sabe que a repercussão de uma praça de pedágio sempre é um pouco complicada. Mas conhecendo a situação do Estado, que não consegue realizar investimentos. E já prospectando uma possível duplicação, todo esse trabalho que está previsto, entendo que acaba tendo que acontecer (instalação de praças de pedágios). Acabamos tendo que entender e torcer para que seja o menor valor possível dentro daquele limite. Eu, particularmente, não sou contrário, mas a repercussão a gente sabe. Se houver pedágio, em algum lugar ele vai ter que estar. Daí, cinco praças?! Nós precisamos ver mais a fundo o projeto, que não tenho conhecimento e não posso opinar mais sem detalhes do projeto".
Paulo Ricardo Salerno (MDB), prefeito de Restinga Sêca e presidente da AM-Centro
"Me parece o seguinte, o trecho de Faxinal a Santa Maria, por exemplo... Ou de São João do Polêsine, de Vale Vêneto, de Dona Francisca, enfim, da Quarta Colônia para Santa Maria, é uma distância muito curta. Então imagina todo esse pessoal que estuda, trabalha, que transita de Santa Maria para a Quarta Colônia, ou vice-versa, todos os dias, nesse trechinho curto, sendo penalizado com o pedágio. É evidente que isso traz um impacto muito grande. Porque quando se pensa em pagar um pedágio, se está em uma viagem longa. Agora, nesse trecho curto aqui, puxa... O impacto para região vai ser significativo".
Clovis Alberto Montagner (PP), prefeito de Faxinal do Soturno
"Tem uma parte ruim, claro, que as pessoas vão ter que pagar o pedágio. Mas, se nós tivermos melhorias nas estradas, infelizmente, temos que pagar para ver a coisa melhor. Não tem outra maneira. A crise está por tudo. É uma saída que o governo encontra. A gente hoje percebe que o discurso do antigo candidato Eduardo Leite não é o ideal. Ele dizia na campanha que era só organizar o fluxo de caixa. A gente percebe não é só isso. Ele tem que cobrar impostos. Com essa frase ele ganhou a eleição do Sartori. Não é bem isso".
Andre Luiz Rossato (MDB), prefeito de Nova Palma
"Tinha que deixar a quarta colônia de fora. Quem vai para Santa Maria, atualmente, não precisa pagar nada. Não tenho uma estimativa de quantas pessoas vão diariamente para Santa Maria, mas é muita coisa".
Edaleo Dalla Nora (PP), prefeito de Dona Francisca
O PACOTE DE CONCESSÃO**
- Trecho a ser duplicado - Santa Maria-Santa Cruz do Sul-Venâncio Aires-Tabaí (acesso à BR-386)
- Extensão - 204,51 quilômetros
- Investimento privado - R$ 2,277 bilhões
- Período da concessão - 30 anos
- Praças de pedágio - 5
- Tarifa máxima por praça de pedágio - R$ 5,93
Prazo das obras
- Duplicação dos trechos urbanos em até 5 anos
- Duplicação total da rodovia em 11 anos
**Fonte: RS Parcerias
OUTROS DETALHES DO PROJETO
- Audiências - Nos próximos 30 dias, o Estado lançará o edital com as datas das audiências públicas para ouvir a população, entidades, empresários e autoridades sobre o que acham da proposta de concessão, incluindo local das praças, valor dos pedágios e obras a serem feitas. A partir das audiências, governo pode mudar a proposta. Além disso, a Assembleia Legislativa fará uma audiência pública própria sobre a concessão, que ocorrerá em Santa Maria, em 29 de abril
- Licitação - A previsão do Estado é lançar em seis meses a licitação para escolher a empresa que administrará os pedágios e fará as obras de melhorias na RSC-287. A empresa que apresentar a menor proposta de preço de pedágio ganhará a licitação. A intenção é a concessão seja feita até o final do ano e a concessionária administre a rodovia pelos próximos 30 anos
- Preços - O projeto estabelece preço máximo de R$ 5,93 por praça de pedágio. Valor poderá ser menor e será definido na licitação. O governo acredita que a tarifa diminua em torno de 40% e chegue próximo dos R$ 4. Além dos 5 pedágios da RSC-287, na viagem para Porto Alegre haverá a cobrança também de R$ 4,30 de pedágio na BR-386, em Montenegro, a partir de março de 2020
- Cobrança atual - Durante o primeiro ano de concessão, haverá cobrança apenas nas duas praças atuais da RSC-287, administradas hoje pela EGR
- Cobranças futuras - As três novas praças da 287 só poderão cobrar tarifa a partir do segundo ano de concessão
- Estatal - A EGR, que administra os pedágios atuais, deixará de administrar a rodovia
- Sem a Faixa Nova - Duplicação se estenderia de Tabaí até o entroncamento com a ERS-509, a Faixa Velha de Camobi. Com isso, por enquanto, a Faixa Nova de Camobi está fora do projeto de duplicação. O prefeito Jorge Pozzobom e entidades já se mobilizam para pressionar o governo do Estado para incluir a Faixa Nova na concessão. Se isso ocorrer, esse trecho poderia ser duplicado nos primeiros cinco anos de concessão, por ser em perímetro urbano.
*Expediente: Deni Zolin, Eduardo Tesch, Ian Tâmbara e Joyce Noronha