São Pedro do Sul pode perder a estação rodoviária e a principal linha em direção a Santa Maria

O ponto de embarque e desembarque de viagens municipais e intermunicipais em São Pedro do Sul deve mudar de lugar assim que a empresa responsável pela Estação Rodoviária do município, na Rua Floriano Peixoto, Centro, abrir mão da concessão do serviço. O ponto de referência para compra e venda de passagens no município foi posto a venda e já não comercializa mais os bilhetes de viagens, mas ainda serve de estrutura para a circulação dos passageiros. Ao mesmo tempo, os usuários podem ficar sem a principal linha a Santa Maria, pois a Expresso São Pedro, que decretou falência, deve parar as atividades assim que sair decisão judicial. 

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A primeira mudança ocorreu em fevereiro, quando o usuário passou a pagar o valor da passagem diretamente a cada motorista que para no ponto. A nova dinâmica confundiu a estudante Ana Louise Zago, 19 anos, que embarcou na última terça-feira (11). Ela faz parte do grupo de moradores que viajam entre São Pedro do Sul e Santa Maria – no seu caso, para estudar na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Com o início do semestre letivo, voltou a pegar o transporte. Ela esperou o ônibus no mesmo local, na estação rodoviária, mas pagou o valor em dinheiro, de R$ 14,70, diretamente ao motorista. 

– Comprava pela rodoviária sempre. Disso que comprava com o motorista eu não sabia, porque faz tempo que não andava de ônibus, já que estávamos no período de férias. Mas bem ruim, né? Porque é muito mais fácil a gente comprar a passagem ali e esperar – reclama Ana Louise. 

Os usuários também repararam que alguns ônibus passaram a realizar o embarque do outro lado da rua, em frente a estação. Enquanto isso, a comunidade não deixa de perceber as mudanças na Expresso São Pedro, principal empresa que faz o trajeto entre o município e Santa Maria. A empresa deve seguir operando mesmo após decretar falência, até que saia a decisão judicial. O serviço é feito com descaso, mas sem ele também é um problema, opina a passageira e funcionária pública Cléris Da Mota, 48 anos: 

–  Já vem de muitos anos, agora nos últimos anos estamos nos sentido meio deixados de lado com a questão do transporte aqui da cidade para outros locais. A gente depende do ônibus. Ficamos naquela insegurança, porque os carros são sucateados. O local tu nunca sabe o horário correto, e se vai ter. Muitas vezes, o carro te deixa no meio do caminho e os horários nem sempre batem. Mas dependemos do transporte para se locomover. Fica complicado. 

São Pedro do Sul vai ficar sem rodoviária? 

A alteração na compra e o fato de o prédio estar à venda geraram muitas dúvidas na comunidade. O Diário esteve na última terça-feira (11) no município falando com a população. Na maioria dos relatos, principalmente de pessoas mais velhas, o receio é perder o ponto de referência da estação. Sobre isso, o proprietário do prédio e responsável pela concessão, Mateus Beltrame, explica que o local continua aberto à comunidade para ser usado pelas empresas de ônibus e passageiros. Enquanto isso, o ponto está à venda, para que uma nova empresa assuma o serviço. Essa dinâmica irá funcionar até que a concessão com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) seja finalizada. 

– O fim do contrato não está oficializada ainda. Por enquanto permaneci com a rodoviária aberta em alguns horários comerciais para o pessoal não ficar no relento. E antes de encerrar as atividades, estou aguardando um retorno do Daer sobre a viabilidade de diminuirmos o tempo que preciso estar aberto após esse encerramento, que seria de 60 dias. Não tenho condição de permanecer por esse período. O faturamento está complicado. O déficit mensal já chegou a R$ 15 mil – explica Beltrame. 

Solução 

A reportagem questionou o Daer sobre a situação. Conforme o departamento, a cidade não ficará sem ponto de embarque e desembarque. O ponto deve existir no município, e isso é responsabilidade da prefeitura. Quanto à concessão, o órgão buscará uma nova empresa. Mas, se nenhuma se credenciar para assumir o serviço, não haverá mais uma tradicional estação rodoviária, com a venda de passagens. Nos últimos anos, Júlio de Castilhos, São Vicente do Sul e Cruz Alta são exemplos de cidades em que estações rodoviárias encerraram suas atividades. A mais recente é Santiago, que fechará as portas em abril. ​

Veja a resposta do Daer sobre São Pedro do Sul na íntegra: 

"O Daer informa que o concessionário da rodoviária de São Pedro do Sul está pedindo o encerramento das atividades, mas ainda não formalizou o pedido. Assim, não há uma tratativa oficial, só extraoficial. A partir do momento que for feita a formalização do pedido de encerramento, o concessionário indicará o prazo para encerrar as atividades. Posteriormente inicia o processo em busca de outra empresa para assumir. Nessa ocasião a Prefeitura será oficiada do encerramento para indicar um ponto de parada para os ônibus. É possível e viável que outra empresa dê continuidade às atividades, entrando em contato com o Daer, formalizando o pedido para um novo termo de autorização para prestação de serviços e indicando um local". 

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Conforme o prefeito Fernando Cezar (PP), ele e o atual proprietário do prédio e responsável pela concessão da rodoviária já estiveram reunidos. Na ocasião, o empreendedor comunicou que não tinha mais interesse de dar continuidade à rodoviária, mas que não havia uma data precisa. Cezar acredita que o cenário é delicado, mas deve normalizar e, quem sabe, até uma nova empresa assuma a principal rota. 

– Esse transporte já foi muito forte na região. São Pedro tinha uma população no interior maior que a  urbana. Hoje, a população rural está em 25% aproximadamente, e a maioria delas tem veículo próprio. Quem não trabalha com aplicativo, precisa pegar táxi. E soube por comentários que a empresa São Pedro teria encerrado ou aberto falência. Tenho uma reunião com o Daer e devemos tratar sobre isso na semana que vem. Mas entre Santa Maria e São Pedro, acredito que o próprio Daer vá repassar a concessão para outra empresa – analisa o prefeito. 

Sobre o novo ponto para o embarque e desembarque no município, o prefeito indicou que não sabia sobre a responsabilidade da prefeitura. E que deve iniciar a procura por um novo ponto, caso seja necessário no futuro.  

A venda da rodoviária 

Conforme moradores das imediações, a estação rodoviária está no mesmo endereço por, pelo menos, 30 anos. Quem viveu em um passado recente, antes da pandemia de Covid-19, via filas de passageiros aguardando a chegada dos ônibus. Com o período crítico que alterou a circulação de pessoas, principalmente para conter o contágio da doença, e afetou a economia dos municípios, o movimento reduziu. A baixa no público resultou em uma placa de vende-se pendurada na parede da rodoviária, o que também preocupa a população. Nesta terça-feira (11), por volta das 10h, um pouco mais de 10 pessoas passageiros aguardavam um ônibus com destino à Santa Maria. O impacto nas vendas é o principal motivo para a intensão de venda do prédio, argumenta Beltrame. 

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