Por trás da prosperidade dos empreendimentos locais, da manutenção das raízes e da paisagem da Quarta Colônia, a união de nove municípios. O trabalho em conjunto é consequência da atuação do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus). A responsabilidade com a região, que hoje se materializa na gestão do geoparque Unesco, teve início há quase 30 anos.
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Antes de os nove municípios serem conhecidos como Quarta Colônia, o trabalho do Condesus já iniciava. Os primeiros diálogos, de acordo com a secretária executiva do consórcio, Valserina Gassen, iniciaram em 1992. Na época, prefeita eleita de São João do Polêsine, ela e outros representantes, em uma mesa de jantar, começaram a colocar em prática a velha ideia de que “a união faz a força”. O resultado? 29 anos de consórcio, completados em 2024, e o reconhecimento mundial às pequenas cidades localizadas na Região Central: Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Sêca, São João do Polêsine e Silveira Martins.
– Nós nos reunimos para um jantar em conjunto e iniciamos as tratativas de trabalharmos todos juntos. E, com isso, formamos uma equipe de trabalho, com esforço para a região. Experimentamos a força que os nove municípios tem. Nos unimos e nunca mais nos desunimos – afirma Valserina.

Investimento em infraestrutura
A partir das tratativas iniciais, o consórcio chamado de “Quarta Colônia de Imigração Italiana” começou de forma oficial em 1996. O propósito era pensar em projetos conjuntos de desenvolvimento regional em áreas como turismo, educação patrimonial e meio ambiente. O mais importante, conforme Valserina, era que “cada município fosse visto”.
Um investimentos iniciais do consórcio foram as estradas. Para que a Quarta Colônia tivesse visibilidade, era preciso dar condições para que pudesse ser vista de perto. Valserina conta que a ERS-149 e a ERS-348 foram as primeiras a serem asfaltadas. Com isso, uma série de serviços foi facilitada, como as agroindústrias e o turismo, cada vez mais fortes na região.
– Todo esse trabalho de infraestrutura, além de auxiliar os municípios, auxiliaria o turismo. Por quê? Porque o turista gosta de estrada boa, ele vem para lazer. Com boas estradas e cidades organizadas, é possível movimentar o turismo – diz Valserina.
Cappa
Não demorou muito para que o consórcio percebesse a importância da ciência. Na região onde hoje é a Quarta Colônia, viveram os dinossauros mais antigos do mundo – fato reconhecido pelo Guinness Book, o Livro dos Recordes. Logo, era preciso que essa riqueza ficasse na região.
– Quando nós definimos que trabalharíamos a paleontologia como ferramenta do desenvolvimento, também entendemos que o nosso produto, fóssil, não fosse levado para outros países, Estados ou municípios – conta Valserina.
Foi com essa ideia que, nos primeiros anos de consórcio, surgiu o projeto de um centro de guarda e pesquisa dos fósseis. Uma ideia “no ar”, como comenta Valserina, já que ainda não tinham um local para a construção. Foi quando em 2003, em São João do Polêsine foi designada uma área de 2,5 hectares para a criação do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa).
Anualmente, cerca de 5,5 mil pessoas visitam o espaço por ano. São curiosos sobre a história dos dinossauros que chegam de quase todos os Estados brasileiros e outros 25 países do mundo. Agora, o próximo passo é a criação de um Museu de História Natural. Pensado para ser um espaço de amostra e experiências interativas, o projeto ampliaria a exposição, atualmente limitada ao espaço do Cappa.

Conforme o Condesus, o valor de R$ 3,5 milhões já está na emenda do orçamento estadual, que deve ser liberado em 2025. Agora, a equipe finalizar o envio da documentação necessária.
– Vamos, por meio do consórcio, consolidar as demais obras previstas no nosso projeto inicial. E nós sempre pensamos no museu. Acreditamos que em um ano ou um ano e meio, após receber o recurso, possamos ter a obra pronta. A partir disso, ou em paralelo a isso, teremos que trabalhar a parte da museografia. Claro que adequado (o projeto) aos tempos atuais – diz.
Público do Cappa
- Visitantes por ano: 5,5 mil
- Estados: Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Acre, Tocantins, Amazonas, Rondônia, Pará, Pernambuco, Ceará, Piauí, Bahia, Maranhão, Alagoas, Distrito Federal, mato grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás
- Países: Austrália, Irlanda, Colômbia, Suíça, China, Espanha, França, Reino Unido, Ucrânia, Polônia, Itália, Tunísia, Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Uruguai, Paraguai, Argentina, Venezuela, República Tcheca
O que o geoparque representa para a região
“Estamos no mundo, levando o nome dos nossos municípios. Há muitos anos, não usavam o termo Quarta Colônia. Com o passar do tempo, notamos que as pessoas ficaram com orgulho da sua terra, da sua cidade, do seu produto. Mudou muito. Estamos com várias famílias trabalhando para além da agricultura. Hoje, nós temos também o comércio, a indústria, os serviços e o turismo. Nós nos recriamos novamente, com o reconhecimento de tudo que é nosso”, opina Valserina.
Presente e futuro
Com a certificação da Unesco para o geoparque, o trabalho se concentra para manter o título na região. O incentivo ao desenvolvimento local, ao turismo e à educação estão entre as ações. É parte do Condesus, também, conforme Valserina, dar condições necessárias ao reconhecimento da região e daqueles que nela vivem:
– Isso nos amplia e nos dá poder. Poder econômico, turístico e educacional. A gente entra no hall da evolução das cidades desenvolvidas para o mundo. Às vezes, dizem: “Ah, mas as cidades são tão pequenas”. Elas são pequenas, mas têm tudo o que é necessário para uma pessoa viva com dignidade. Então, o selo do geoparque também nos traz qualidade de vida porque nos traz uma série de vantagens em todos os setores.

Sobre o futuro, a aposta do Condesus está na juventude:
– Eu penso que, nesta novidade que tivemos, a nossa juventude comece a colaborar com essa organização porque serão eles que manterão viva essa história. De que adianta fazer alguma coisa se o jovem não entendeu a importância daquilo? Então, o envolvimento é muito importante no geoparque. E a gente percebe, nas famílias onde os jovens colaboram no trabalho nos pais, a alegria de ver o produto melhorar – completa Valserina, que é uma referência na região.
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