
Foto: Reprodução
A morte do pequeno Théo Ricardo Ferreira Felber, 5 anos, que chocou São Gabriel, traz dúvidas sobre as raízes da motivação do suspeito. Tiago Felber, 40 anos, pai da criança, confessou à polícia que jogou o filho da ponte sobre o Rio Vacacaí, para se vingar da mãe da vítima. Conforme o relato, ele não aceitava o fim do relacionamento.
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Em entrevista ao jornalista Deni Zolin, a psicóloga Thaís Araujo, mestre em psicologia da saúde pela Universidade Franciscana (UFN) e terapeuta de casais, afirmou que a motivação descrita pelo homem mostra “imaturidade emocional”.
– O que leva alguém a fazer isso? Imaturidade emocional. Falta de capacidade emocional para lidar com um limite estabelecido. É muito difícil quando alguém chega para você e fala "eu quero terminar a relação". [Porém] uma coisa é receber esse limite e ficar triste, chorar, se desesperar. Outra coisa é cometer um crime. E cometer um crime com quem não tem nada a ver com isso, contra o próprio filho. Nós ficamos na dúvida se isso é uma psicopatia ou se é só a questão de não aceitar o fim de um relacionamento.
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Conforme a psicóloga, a terapia de casal é usada, geralmente, pelas mulheres, como busca por ajuda.
– Às vezes a terapia de casal é um grito de ajuda. [Ou] ela fica nessa função de lembrar a pessoa de que ela é um adulto, responsável pelo que ele faz, pelas palavras que profere. Há casais em que os homens, e as mulheres também, se transformaram completamente. [Mas,] infelizmente, na maioria das vezes, eles não aguentam. O casal vai embora da terapia porque percebe que aquela relação vai terminar. E às vezes ela tem que terminar mesmo. Para não acontecer coisas assim.
Para evitar casos como o de Théo, a terapeuta orienta que é importante identificar os sinais de um relacionamento abusivo, a fim de garantir auxílio e impedir situações desta natureza de progredirem.
– Observe os sinais. Quais são os sinais de que meus limites estão sendo ultrapassados. Você vai sentir no seu corpo. São pessoas que vivem ansiosas e não é normal viver desse jeito. Não é normal ficar com medo, ficar cheio de dedos, pisando em ovos para falar alguma coisa para o seu marido; não é normal ter brigas constantes. Relacionamento não é para ser assim. E sim, peça ajuda. Primeiro, para uma psicóloga ou psicólogo. E se a coisa estiver muito difícil, vá à delegacia, ligue 180.
Para Thaís, os problemas relacionados a esse tipo de crime e ao feminicídio são oriundos de contextos estruturais, que perpetuam diferenças entre homens e mulheres. Segundo a psicóloga, é importante que, desde a infância, meninos sejam orientados, por exemplo, a dividirem afazeres de casa e evitarem “brincadeiras” desrespeitosas.
– Enquanto nós, como sociedade, não olharmos para isso de uma forma mais correta, séria e responsável, casos assim vão continuar acontecendo.
A equipe de reportagem do Diário acompanha em São Gabriel, nesta quarta-feira (26), todos os detalhes do caso que chocou o país. Confira a cobertura na Rádio CDN (93.5 FM), na TV Diário (canais 26 e 526 da Claro/Net), no YouTube do Diário de Santa Maria, em diariosm.com.br e bei.net.br.