Foto: Germano Rorato (Arquivo Diário)
Nos últimos dias, repercutiu nacionalmente um vídeo em que aparece um policial militar atirando um homem de uma ponte em São Paulo. O caso reanimou o debate sobre câmeras nas fardas. Já umas das cinco maiores cidades aqui do Estado, Santa Maria, chegou ao marco de 63 homicídios nesse ano. A maioria delas é fruto da ação de facções do tráfico de drogas, um problema que atinge todo o país e preocupa a população e os órgãos de segurança.
Para piorar, a perspectiva para o futuro não é boa. Essa é a análise do santa-mariense, que foi uma das principais autoridades no país na área. Durante vista a Santa Maria, o ex-delegado da Polícia Federal José Mariano Beltrame, que conduziu a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro por 10 anos, tendo como marco de sua trajetória a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas do Rio, ressalta que a segurança pública não depende só da polícia, mas de investimentos na área social para evitar que a população se envolva com a criminalidade e o tráfico de drogas.
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Beltrame iniciou como secretário da pasta no Rio de Janeiro em 2007, após convite do governador Sérgio Cabral (PMDB). Manteve-se na troca de governo, com o Luiz Fernando de Souza, mais conhecido como Pezão (MDB). Beltrame deixou o cargo em 2016 e, atualmente, é consultor da área.
Veja na íntegra a entrevista concedida ao Diário. Nela, fala sobre a violência, setores de investimento e a tão discutida câmera em fardas.
Qual é a avaliação da sua atuação como esse secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro?
Beltrame - Fazer uma avaliação do nosso próprio trabalho é um pouco difícil, mas acredito que a sociedade do Rio de Janeiro são as pessoas corretas para fazerem essa avaliação. Mas tenho a sensação de que o Estado experimentou um tempo muito bom. Acho que conseguimos mexer com aquilo que o ser humano tem de mais importante, a esperança. Nesses 10 anos, o povo viveu isso. E não digo só em relação aos índices de criminalidade, mas sobretudo, na sensação de segurança, porque tivemos um verdadeiro turismo, empresas que voltaram (a investir), e um Carnaval fantástico. Fizemos oito eventos internacionais com muita segurança. Fomos muito bem avaliados por entidades internacionais. Foram 10 anos, acho que o carioca não não vai esquecer.
Como vê a segurança pública, hoje, no Brasil?
Acho que não vive um bom momento e a perspectiva também não é boa. É difícil generalizar, mas creio que os Estados mais populosos têm problemas sérios, porque o serviço público brasileiro está em uma situação financeira muito ruim, consequentemente, a capacidade de investimento cai. Tendo isso, uma resposta boa para a sociedade sem investimentos maciços em segurança é complicada. Há um caminho longo pela frente. Muita tecnologia, capacitação. Autoridades e população nunca devem esquecer que segurança pública não é polícia. Ela sim, faz parte da solução, mas não sozinha. O Estado tem que investir, não só em polícia, mas na cidadania, por exemplo.
Frente aos últimos episódios de repercussão nacional de violência dos policiais, qual seria seu posicionamento quanto às câmeras corporais?
Particularmente, sou a favor das câmeras, porque vai filmar o policial e sua atuação. Um policial capacitado e treinando não deve temer a presença da câmeras, pelo contrário. Eu acho que a câmera vai mostrar o que posso estar sendo alvo de tiros e ameaça, por exemplo, e a câmera pode me ajudar nisso. Isso é uma é uma cultura que tem que ser introduzida, e é um caminho sem volta. Passado um tempo, ela vai mostrar seu valor. A sociedade poderá ver que a própria instituição e os policiais também sofrem problemas, o que não justifica a violência policial, mas mostra que são alvos de agressão.
Santa Maria já chegou a mais de 60 homicídios. Pela sua experiência, quais são caminhos possíveis para resolver esse alto número de mortes?
Aprendi que as questões de violência são fatos sociais. Podemos estar aqui tranquilos e, daqui a pouco, acontecer um fato ruim. Isso tem que ser lembrado sempre. E em relação aos homicídios, o indicado é ter um departamento de homicídios muito bem estruturado, para que ele possa agir rápido. Agilidade com a perícia, elucidação dos homicídios, e pena exemplar. Isso mostra que a polícia está dando resposta. Investimentos nas perícias e nos institutos de criminalística. A polícia precisa estar muito bem equipada e ter delegacias, divisões de homicídios para fazer esse combate rápido.
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