O número de mulheres eleitas no pleito municipal deste ano para comandar as prefeituras das 39 cidades da região de cobertura do Grupo Diário é pequeno num cenário amplamente predominado por homens. Ao total, são 10 representantes do sexo feminino, entre prefeitas e vices, e 68 gestores do sexo masculino, entre os dois postos principais do Executivo. Contudo, há o que comemorar: a quantidade de prefeitas e vices vitoriosas nas urnas em 2024 aumentou comparada à das eleições de 2020, quando foram eleitas quatro para cada uma dessas funções.
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E há um marco histórico em algumas cidades, como é caso de Santa Maria, 5º maior colégio eleitoral do Estado e principal município da Região Central, que, pela primeira vez, em 166 anos de fundação, elegeu uma mulher de vice-prefeita: a professora Lúcia Madruga (Progressistas). Já em Nova Palma, na Quarta Colônia, em 64 anos de existência do município, elegeu pela primeira vez uma mulher como prefeita. A professora Jucemara Rossato (Progressistas) obteve 2.596 votos, 58,76% dos votos válidos. Com 57 anos de idade, ela é formada em História pela Universidade Franciscana (UFN), professora estadual de história e vereadora.
Consciente do desafio de comandar a cidade, ela conta que foi, a partir da atuação no Legislativo, que surgiu a vontade de concorrer a prefeita.
– Nestes últimos quatro anos, eu trabalhei bastante no nosso município, buscando recursos e, entre pensamentos, análises e também levando em consideração a minha carreira como professora há mais de 20 anos, pensei muito e resolvi que eu iria. Principalmente motivada pela questão de que o nosso município foi muito atingido pela catástrofe de maio e vamos precisar de muita coragem para reconstruir. A gente sabe o quanto as mulheres são discriminadas e acredito que eu, enquanto candidata mulher, rompi vários paradigmas em Nova Palma. Também o meu marido é negro e nós vivemos numa comunidade colonizada por europeus e, muitas vezes, o preconceito é grande, mas eu encaro com naturalidade, mesmo tendo noção que é algo desafiador sim – afirma Jucemara.
88% de aprovação
Em Cruz Alta, o trabalho da prefeita Paula Rubin Facco Librelotto (MDB) foi aprovado por 88% dos eleitores do município, que a reelegeram para mais quatro anos. Nas eleições de 2020, ela se tornou a primeira prefeita da história da cidade. Paula, que é médica infectologista formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), recebeu 30.308 votos, uma das maiores votações do Estado. Aos 38 anos, ela avalia como uma grande responsabilidade a reeleição.
– Quando eu assumi a prefeitura, eu me deparei com uma cidade com uma série de dívidas, e a gente teve que fazer toda uma reorganização financeira para conseguir sair desse caos e buscar formas de poder investir na nossa cidade. E isso só foi possível, porque conseguimos trazer essa visão feminina da coisa, com um sentimento de maior humanidade e com um ponto de vista mais fraterno e maternal, com o foco voltado para políticas públicas que melhorassem a vida das crianças, de atenção às gestantes e às mulheres, políticas de educação e saúde, que foram pilares importantes. E, agora, o nosso foco vai ser desenvolver Cruz Alta do ponto de vista econômico, atrair empregos, indústrias e novos empreendimentos para a cidade – destaca Paula.
Cidades com comandantes
Outros três municípios também serão governados por mulheres: Cacequi, Quevedos e São João do Polêsine. As três cidades já foram comandadas por mulheres em gestões anteriores. Em Cacequi, Ana Paula Delolmo (MDB) foi reeleita com 4.981 votos, 75,39% dos votos válidos. Empresária de 44 anos, ela já foi vereadora e, neste ano, foi reeleita para comandar a prefeitura.
Em Quevedos, mais uma mulher assumirá o cargo máximo. A professora Taís Fabiane Flores Rosa (Progressistas) recebeu 918 votos, 42,56% dos votos válidos e irá substituir Neusa Nickel (União Brasil). Taís tem 44 anos, é professora municipal e servidora pública há 18 anos.
São João do Polêsine, na Quarta Colônia, elegeu a terceira prefeita desde a fundação. Jaqueline Milanesi (Progressistas) foi eleita com 1.075 votos, 49,97% dos votos válidos. Ela tem 46 anos e atua como empresária.
Avanço lento
Para a historiadora e escritora Ana Maria Colling, pesquisadora da Unesco e professora universitária aposentada, especialista em história das mulheres, relações de gênero e sexualidade, em um contexto histórico, a participação feminina representa avanços em relação à questão de gênero em torno das eleições.
– Até 1934, a mulher não podia nem votar e, num período recente, a figura da mulher sofreu desqualificação na política, por meio de políticos homens e seus discursos, então há uma histórico de violência e repressão às mulheres, que é culturalmente impregnado na nossa sociedade e que precisa ser combatido, principalmente num ambiente como a política. Eu avalio que, nós só vamos conseguir mudar o Brasil, quando elegermos mulheres, pois para muitas questões que são problemáticas no país, o olhar feminino é outro. Ter mulheres eleitas nas prefeituras ou nas câmaras de vereadores é um avanço, mesmo que a passos lentos, mas ainda assim um avanço – ressalta a pesquisadora.
Prefeitas e vices eleitas na região
Cacequi
- Prefeita Ana Paula Delolmo (MDB)
Cruz Alta
- Prefeita Paula Facco Librelotto (MDB)
Jaguari
- Vice-prefeita Elenice Cattelan (MDB)
Nova Palma
- Prefeita Jucemara Rossato (Progressistas)
Quevedos
- Prefeita Taís Flores Rosa (Progressistas)
Santa Maria
- Vice-prefeita Lúcia Madruga (Progressistas)
Santiago
- Vice-prefeita Mara Rebelo (Progressistas)
São Gabriel
- Vice-prefeita Sandra Weber (PSD)
São João do Polêsine
- Prefeita Jaqueline Milanesi (Progressistas)
Unistalda
- Vice-prefeita Diulinda Pires (Progressistas)