29 de agosto é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Estabelecida pela Lei 7.488, de junho de 1986, a data busca promover a reflexão sobre um hábito adotado por milhões de pessoas e que pode levar à morte. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), vinculada a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, sendo que mais de 7 milhões são resultado do uso direto do tabaco. Estima-se ainda que cerca de 1,2 milhão dessas mortes são de pessoas expostas passivamente ao fumo.
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Considerando isso, Santa Maria tem prestado assistência a esse público a partir de diversas iniciativas. Entre eles, o Programa de Tabagismo, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde. Desde maio de 2023, a iniciativa é ofertada na Policlínica Central, localizada no 8º andar do prédio da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism). Em entrevista ao Diário, a coordenadora do programa, enfermeira Evanir Parcianello, falou sobre o cenário local e a busca por atendimento.
– O grupo que mais procura ajuda para parar de fumar é o de mulheres já com comorbidades. Jovens até procuram o programa, mas não seguem no tratamento. Como eles não têm nenhuma doença ou comorbidade associada à dependência do cigarro, eles chegam aqui, sentem dificuldade para parar, porque é necessário aderir ao tratamento, e acabam abandonando. Mas a incidência de mulheres é bem significativa – afirma.
Conforme Evanir, a faixa etária predominante nos atendimentos em Santa Maria é de 35 a 40 anos, sendo que no casos dos homens, a maior parte do público tem idade superior a 60 anos.
Consequências
Estudos apontam que além das folhas de tabaco, o cigarro é composto por mais de 5 mil substâncias. Entre elas, está a nicotina, que causa dependência química. Trabalhando há cerca de 20 anos com a pauta, Evanir já presenciou casos em que foi necessário mudar a percepção do paciente sobre o vício:
– Acredito que as pessoas só se dão conta de que estão doentes em decorrência do uso do cigarro quando vem procurar ajuda para resolver as comorbidades. Ou seja, o médico me encaminhou para parar de fumar. E eu sempre questiono isso: “O médico te encaminhou, mas a senhora ou o senhor quer parar?” Eu sempre alerto aqueles pacientes que chegam e não têm doenças crônicas graves em decorrência do cigarro que parem enquanto há tempo, porque é bem complicado associar o ato de parar de fumar com o tratamento de doenças crônicas graves.
O tabagismo contribui para o desenvolvimento de diversos tipos de doenças, entre elas, o câncer. Embora o mais conhecido seja o de pulmão, o hábito mantido por um longo tempo pode resultar em leucemia mielóide aguda; câncer de bexiga; câncer de pâncreas; câncer de fígado; câncer do colo do útero; câncer de esôfago; câncer de rim e ureter; câncer de laringe (cordas vocais); câncer na cavidade oral (boca); câncer de faringe (pescoço); câncer de estômago; câncer de cólon e reto; câncer de traqueia, brônquios e pulmão.
Conforme a enfermeira, um dos papéis do programa de tabagismo em Santa Maria é justamente conscientizar sobre essas consequências.
– As pessoas sempre associam o uso do cigarro ao câncer de pulmão. Então, elas vêm e falam: “Olha, o meu pulmão está bom. Eu fumo há 30 anos, mas fiz um raio-X e o médico disse que era bom”. Eu fico preocupada, porque dificilmente uma pessoa que fuma há 30 anos vai estar bem. Alguma consequência disso tudo irá aparecer – desabafa a enfermeira.
Como participar do programa de tabagismo em Santa Maria?
- Encaminhamento – Os interessados devem se inscrever presencialmente na Policlínica Central, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. No local, além da inscrição, é possível tirar dúvidas sobre o programa
- Conforme o andamento dos processos internos, o inscrito será chamado para avaliação clínica e inserção nos grupos
- As reuniões com os participantes são quinzenais e ocorrem sempre em uma quarta-feira
- A Policlínica Central está localizada na Rua Venâncio Aires, 2035, Prédio da Cacism, 8° andar, Bairro Centro
Tratamento
Atualmente, 70 pessoas são atendidas pelo programa em Santa Maria. Conforme Evanir, a iniciativa tem capacidade para atender até 200 pacientes por quadrimestre em função do repasse de medicamentos, que é feito pelo Ministério da Saúde. Para a enfermeira, mais do que ofertar o serviço, é necessário continuar dialogando sobre o assunto.
– Os meus pacientes levam as informações sobre parar de fumar para a família, os amigos e a sociedade. Quando eles se sentem bem e percebem o quanto é bom ficar sem fumar, tornam-se multiplicadores dessa luta. Então, a minha orientação é de que não esperem ficar doentes para pedir ajuda. Mas quando decidirem começar o tratamento, que levem adiante. Até porque o tratamento de uma recaída é mais difícil. Estamos sempre encontrando formas de ajudar, mas tudo depende do paciente querer, aceitar e entender que o tabagismo é uma doença. E como doença, precisa ser tratada – conclui.
Veja quais são benefícios imediatos e de longo prazo ao parar de fumar
- Dentro de 20 minutos, o ritmo cardíaco e a pressão arterial baixam.
- Em 12 horas, o nível de monóxido de carbono no sangue cai para o normal.
- De duas a 12 semanas, a circulação sanguínea melhora e a função pulmonar aumenta.
- Entre um a nove meses, a tosse e a falta de ar diminuem.
- Em um ano, o risco de desenvolver uma doença coronariana cai pela metade (em relação a um fumante).
- Em cinco anos, o risco de ter um acidente vascular cerebral é reduzido ao de um não fumante – cinco a 15 anos após parar de fumar.
- Em 10 anos, o risco de câncer de pulmão cai para cerca de metade em relação a um fumante e o risco de câncer de boca, garganta, esôfago, bexiga, colo do útero e pâncreas também diminui.
- Em 15 anos, o risco de doença cardíaca coronária é o mesmo de um não fumante.
Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)