O laudo que apontou a causa da morte do jovem Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, reforça o que duas testemunhas tinham dito em depoimento, de que a vítima teria sido alvo de três golpes de cassetete na região da cabeça na noite do dia 12 de agosto e que teria caído no chão e ficado com o corpo "rígido".
O resultado da necropsia foi revelado em coletiva de imprensa, pela cúpula da segurança do Estado, em Porto Alegre, por volta das 11h desta segunda-feira, 10 dias após o corpo do jovem ter sido encontrado. O exame feito por um perito de Santa Maria indicou que a morte foi causada por uma hemorragia interna na região do pescoço, provocada por uma agressão. E mais: não havia sinais de afogamento.
- Conforme o laudo de necropsia, a morte de Gabriel ocorreu por perda sanguínea causada por ruptura de vasos na região cervical com sinais de ação por instrumento contundente, ou seja, uma hemorragia interna - explicou Heloísa Helena Kuser, diretora-geral do Instituto Geral de Perícias (IGP).
A necropsia ainda indicou que Gabriel já estava sem vida antes de ter sido colocado no açude.
Na coletiva, o chefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes, afirmou que este resultado corrobora a tese do homicídio qualificado, já indicada, preliminarmente, pela investigação da Polícia Civil:
- O laudo pericial confirma a versão que as testemunhas já haviam apresentado na investigação que tramita na Delegacia de Polícia de São Gabriel. Ouvindo agora a leitura da conclusão pela perita Heloísa, o laudo reforça a tese do homicídio qualificado, que é um crime (doloso contra a vida) que será, ao que tudo indica, analisado pelo Tribunal do Júri em São Gabriel.
A Polícia Civil irá concluir até quinta-feira (1º de setembro) o inquérito e explicar mais detalhes sobre como aconteceu a morte do jovem.
Já o coronel Claudio dos Santos Feoli, comandante-geral da Brigada Militar, adiantou que, nas próximas horas, o Inquérito Policial Militar (IPM) deverá ser encaminhado para a Justiça Militar. Conforme o coronel, a investigação apontou que os três policiais (Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso) cometeram os crimes de falsidade ideológica e ocultação de cadáver, além de praticarem condutas transgressionais ao estatuto estadual da BM.
- Ter praticado condutas dolosas, faltar à verdade, trabalhar mal intencionalmente, deixar de assumir a responsabilidade pelos seus atos, deixar de cumprir ordem regulamentar. Todos esses últimos são incisos do nosso regulamento disciplinar, agravados ainda pelo conluio de duas ou mais pessoas e em presença de público. Também não há como não citar as questões (relacionadas) ao crime de homicídio, agora, claramente doloso, com as qualificadoras de motivo fútil, de emprego de tortura, e surpresa que tornou impossível a defesa da vítima - relatou o coronel.
A partir disso, conforme Feoli, será aberto um procedimento disciplinar determinando a possibilidade de exclusão dos três policiais do quadro da Brigada Militar (BM).
Com o encerramento das investigações, o Ministério Público (MP) passará a atuar diretamente no caso. Até o momento, a instituição está apenas acompanhando os procedimentos instaurados nas esferas civil e militar.
- A partir da conclusão das investigações, os autos serão encaminhados para o MP que se debruçará na análise de cada um desses fatos com rigor técnico, buscando a responsabilização de todos os envolvidos - esclareceu o sub procurador Júlio César de Melo.
Por fim, o secretário de Segurança Pública do Estado, Vanius Cesar Santarosa, reforçou que a investigação integrada está sendo conduzida de forma rígida e transparente:
- Quero novamente lamentar o desfecho dessa ocorrência, porque isso não reflete o que é a Brigada Militar (BM). O procedimento adotado por essa guarnição não condiz com o serviço prestado pela BM. (Os policiais envolvidos) serão submetidos a duras penas dos regulamentos militares e da justiça civil. Nos solidarizamos com a dor da família do Gabriel, não há palavras que eu possa dizer que vá confortar o coração destes familiares.
Na última sexta-feira (26), já havia sido divulgado o resultado de dois exames, o de narcóticos e de álcool no corpo de Gabriel Marques Cavalheiro.
O governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, emitiu um vídeo prestando solidariedade aos familiares de Gabriel e ressaltando as ações que as instituições têm feito para a elucidação do caso.
O caso
Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, desapareceu por volta da meia-noite do dia 12 de agosto, no Bairro Independência, em São Gabriel. Segundo o relato de uma moradora, ela teria chamado a Brigada Militar (BM) após o jovem ter forçado a grade da casa dela e tentado entrar no local. Policiais foram até o endereço, abordaram, algemaram Gabriel e o colocaram no porta-malas da viatura. Depois disso, o jovem não foi mais visto.

O corpo dele foi encontrado dia 19 de agosto, em uma barragem na região conhecida como Lava pé. Os três policiais (Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso) que abordaram o jovem foram presos na sexta-feira (19) a noite e estão no presídio militar em Porto Alegre desde então. Eles já foram interrogados pela Polícia Civil e pela Justiça Militar.