memória e identidade

Clube Social Negro, que deu origem ao Museu Treze de Maio, completa 120 anos

As fotos que ilustram essa matéria, parte do acervo fotográfico do Museu Treze de Maio, ilustram a dimensão de um espaço secular que, até hoje, constrói e preserva a memória e a identidade da comunidade negra de Santa Maria. O Treze, como é carinhosamente conhecido, possui raízes por meio do antigo Clube Social Negro, criado em 1903 pelos trabalhadores negros do pós-abolição.

Em 2003, após a consolidação de um projeto iniciado em 2001, a diretoria do Museu Treze de Maio começa suas atividades, em meados do ano de 2004. Na época, houve o reconhecimento como patrimônio histórico municipal e estadual reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), que também o reconheceu como bem que integra um espaço de memória, identidade e educação histórico-social.

Para o atual diretor do Museu Treze de Maio, o arqueólogo e doutor em História João Heitor Silva Macedo, o espaço é um bem que fez e ainda faz um universo pujante de diversidade cultural e viabiliza a cultura afro e africana em Santa Maria há 120 anos.



– Desde o ano de 1903, a luta contra o racismo é a principal bandeira daqueles e daquelas herdeiros de África que encontraram no Treze um espaço simbólico de resistência e autoafirmação diante de uma sociedade que, mesmo após a abolição, ainda se mostrava reticente, se não agressiva, a negros e negras – conta João Heitor.

Mesmo que não fossem aceitos pela antiga companhia belga que administrava a ferrovia da cidade, a empresa atraía os antigos trabalhadores escravizados devido ao desenvolvimento urbano ocasionado pela implantação da malha ferroviária em Santa Maria. Na década de 1920, a companhia passa a aceitar negros na ferrovia, o que, segundo o diretor do museu, gerou uma significativa mudança de status na condição material da população negra, o que tem reflexo direto no Treze.

– Os associados passaram a ter suas mensalidades no Clube pagas pela Companhia Belga, e, em contrapartida, a associação assumiu em sua nomenclatura o nome de “Clube Ferroviário”. Em seguida, passa também a seguir a exigência de que os diretores sejam, também, ferroviários.

É nesse período que o Clube entra em franco crescimento, culminando com seu auge, em 1962, na inauguração do prédio novo, situado onde hoje é a sede do Museu Comunitário Treze de Maio, na Rua Silva Jardim. Esse apogeu é materializado com um crescimento do número de associados e intensas atividades culturais. Bailes, festas, reuniões e assembleias eram uma constante. O Treze foi palco de inúmeras atividades culturais, como a criação de um jornal, time de futebol e aulas noturnas para os trabalhadores negros.

Nos anos 1980, o Clube entra em crise devido a graves problemas administrativos, os efeitos da crise financeira do país e a concorrência crescente de outros clubes tradicionais da cidade que passaram a receber sócios negros.


Foto: Eduardo Ramos (Diário)


O MUSEU

Conforme João Heitor Silva Macedo, na década de 1990, o Treze de Maio encontrava-se abandonado, e a sede, com graves problemas estruturais. Em 2001, um grupo de estudantes da antiga Unifra (atual Universidade Franciscana) idealizou um projeto de revitalização do Clube, com a ideia de torná-lo um museu comunitário, influenciados pela teoria do museólogo francês Huges de Varine.

– O projeto envolveu antigos sócios e o movimento negro da época, que perceberam a necessidade de reviver e ressignificar a identidade do Treze. Em 2003, começou a trajetória do Museu Treze de Maio. Envolvido em uma perspectiva de luta contra o racismo e a valorização da cultura afro-brasileira, o Treze se dinamizou, desde então, pela realização de oficinas, exposições, pesquisa e comunicação.
Em 2007, o Treze participou da fundação do Sistema Municipal de Museus e, em 2014, obteve o reconhecimento como um Ponto de Cultura pelo governo federal.

– Desde então, são realizadas diversas ações, articuladas com outras instituições e com a comunidade, que continuam colocando o museu como um espaço vivo, cujo principal patrimônio são as pessoas que circulam por ele – finaliza João Heitor.

A FESTA

Para celebrar os 120 anos, o Museu Treze de Maio promove um dia 13 de maio cheia de atividades e programação; confira:

O quê – 120 anos de Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio e 20 anos de museu comunitário
Quando – No sábado (13), a partir das 8h30min
Onde – No Museu Treze de Maio (Rua Silva Jardim, 1405, Bairro Nossa Senhora do Rosário)
Quanto – Entrada Franca

A PROGRAMAÇÃO

8h30min – Abertura
9h – Apresentação Banda da Brigada em homenagem ao Maestro Setembrino
10h – Relançamento do livro Os Problemas de Júnior, da escritora Maria Rita Py Dutra
12h – Almoço Festivo: Feijoada, no valor de R$ 30
12h – Encontro em celebração aos 2 anos do programa Viva Ubuntu
A partir das 14h – Ateliê Griô com apresentações artísticas e exposições
16h – Roda de Capoeira
18h – Roda de lembranças com frequentadores do Clube Treze de Maio
19h – Apresentação da escola de samba Vila Brasil

*Em paralelo à programação, ocorrerão visitas guiadas e exposições educacionais


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