Incertezas políticas e reclamações tornam clima nebuloso em Itaara

Fotos: Nathália Schneider (Diário)

A forte neblina que tomava conta de Itaara quando a equipe do Diário esteve visitando o pequeno e charmoso município vizinho, de alguma forma, faz jus à situação política do local.


Em novembro de 2022, a Operação Santidade afastou o então prefeito Silvio Weber (sem partido) do cargo para investigação de um esquema criminoso supostamente capitaneado por ele e, desde então, Itaara está sob o comando de Salete Desconzi (atualmente sem partido), a Tita, que era vice-prefeita. O que era para ser uma gestão provisória, de 180 dias, foi estendida para mais 180. 


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Adicionando mais contornos a situação já caótica, a Câmara de Vereadores de Itaara abriu um processo de cassação contra Silvio Weber e, no início de setembro, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) decidiu de uma só vez expulsar Weber e Tita.


Proporcionalmente, Itaara foi o município que mais cresceu na região central, segundo o último levantamento do Censo Demográfico do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2010, eram 5.010 pessoas, já em 2022, 5.572, um crescimento de 11,22%. Mas as ruas, bem sinalizadas, praças e paradas de ônibus com bancos e grama aparada, e a calmaria do Parque Pinhal, habitado por patos em silêncio, contrastam com o descontentamento dos moradores. 


Passados quase 12 meses desde o início do afastamento do prefeito, moradores relatam que o conturbado clima de incerteza e insatisfação ainda paira sobre a cidade vizinha, com poucas ações por parte do Executivo vistas no dia a dia da comunidade.


INSATISFAÇÃO

Em um dia que teve também chuva e sol, a reportagem conversou com moradores que faziam atividades rotineiras na cidade, como ir ao banco e ao posto de saúde, visitar familiares e participar de uma festa de aniversário. Muitas pessoas, sobretudo jovens, preferiram não opinar sobre o cenário político, uma vez que passam a maior parte do dia à trabalho em outras cidades, como Santa Maria. Os que falaram atestaram que o clima de futuro incerto segue em Itaara.


Um desses moradores optou por não se identificar. Ele relatou, inclusive, que quem o faz, é prejudicado. Há três anos morando na cidade, ele admite que participa pouco das decisões políticas de Itaara, mas acredita que o ex-prefeito e padre Silvio Weber foi perseguido. Ele chegou a ir até uma sessão da Câmara de Vereadores para falar sobre o tema. 


– Tem mais de 5 mil habitantes em Itaara. A maioria elege uma pessoa para levar o município para frente e aí chega meia dúzia de vereadores e tiram essa pessoa escolhida por milhares. Para mim, foi uma jogada política. E com essa nova gestão, pelo que sei, os projetos todos pararam. Muita coisa que levava o município para frente está estagnada. Nós iríamos ganhar uma avenida, seria asfaltado aqui, porque é muito movimentado e perigoso. Resta esperar novas eleições para eleger alguém que, de fato, se preocupe com o município e não com seus próprios interesses. 



Vera Maria Silva de Souza, 61 anos, dona de casa, mora há mais de três décadas em Itaara. Enquanto voltava do Posto de Saúde, ela relatou total insatisfação com a gestão do município. Ela apontou, sobretudo, o descaso na área da saúde e nas estradas de Itaara. Vera levou mais de 7 dias para conseguir a receita de uma medicação de uso contínuo.


Na frente da casa dela, há pavimentação, mas os trechos das estradas em geral vão estranhamente alternando com vários espaços de estrada de chão, conforme verificado pela reportagem. Os trechos sem calçamento estão em más condições, agravadas pelas chuvas.


Às vezes, chegamos no posto e não tem médico ou ele não atende, foge dos pacientes. Essa função toda está horrível. Já estava "mais ou menos", mas agora com essa nova prefeita terminou tudo. Se não mudar, vai ficar cada vez pior. E isso é uma opinião quase geral. As ruas estão largadas. Nas estradas de chão, é buraco em cima de buraco, porque as patrolas não vão mais para a rua. Ela [a prefeita] não busca atender às demandas. Sinto que a cidade não tem prefeita – conta Vera.


ABANDONO

A insatisfação é compartilhada pela cabeleireira e empresária Schirlei Cristo da Rosa, de 45 anos. Para ela, apesar de alguns problemas, a gestão de Silvio Weber ainda realizava ações em prol da cidade e da comunidade. Agora, segundo ela, está tudo paralisado.


– Sabemos que o município está passando por uma grande dificuldade. Mas já vai fazer um ano dessa situação toda. Dá para começar a tomar rédea, até porque ela assumiu junto com ele. Como não sabia da situação enquanto vice-prefeita? É negligência dela. É fácil dizer que estava excluída.


Para Schirlei, a sensação é de abandono total. Ela acredita que, devido à instabilidade política que se instalou na cidade, secretários e funcionários optam por não agir em prol do município, esperando uma solução para o cenário político.


– Sei que o secretário de Educação, por exemplo, é muito bom, mas até hoje não foi feita nenhuma licitação para o próximo ano letivo. As licitações que precisam ser feitas com antecedência não estão sendo feitas. Ninguém quer ter responsabilidade. A cidade teve uma perda tremenda. E todo mundo precisa das estradas. 80% da cidade é área rural então tem que haver manutenção, que não está tendo. Está triste de se ver. Espero que consigamos nos reerguer – finaliza a moradora de Itaara.


Cerca de 30 pedidos de providências são encaminhados da Câmara à prefeitura todos os dias

Para o presidente da Câmara de Vereadores de Itaara, Edson da Silva Vasconcellos (PSB), o Mano da Oficina, Tita Desconzi tem feito um bom trabalho, dentro das possibilidades. Ele aponta que a prefeitura, de fato, não se encontra em boas condições, e, para realinhar a situação, deve levar um bom tempo. 


– Acredito que ainda vai levar quase até o fim do ano que vem para botar a casa em dia. Damos uma força também, não é? Houve problemas com o partido PSB, já que tanto ela quanto Silvio foram expulsos, mas o serviço está sendo feito devagarinho. As questões climáticas também deram uma trégua agora, o que ajuda a resolver problemas de estrada. A gestão não é tudo aquilo que esperávamos, mas aos poucos está se alinhando.


Vasconcellos acredita que ainda vai demorar para que Itaara entre em um caminho próspero, mas informa que a Casa Legislativa está fazendo a sua parte. Enquanto presidente, ele assina em torno de 30 pedidos de providência (melhorias em ruas, por exemplo) por dia, encaminhados pela população aos vereadores e pelos próprios edis:


– É só chegar na Câmara. Nós temos todos os pedidos aqui, com cópias, para quem quiser tirar alguma dúvida. Realmente estamos fazendo a parte que nos cabe. E quanto a projetos enviados pelo Executivo, trabalhamos para que sejam aprovados o mais rápido possível – acrescenta. 


O presidente ainda conta que Itaara conta com várias emendas impositivas a serem concretizadas, além da realização de reuniões com deputados, alguns empresários e também com o Dnit para tomar medidas quanto a situação da BR-158. 


– Esperamos o melhor para o município. Continuaremos cobrando o executivo para que as coisas aconteçam. Não estamos aqui de brincadeira e sim a favor de Itaara – finaliza Edson da Silva Vasconcellos. 


O QUE DIZ A PREFEITURA

  • A reportagem esteve na Prefeitura de Itaara, mas foi informada de que a prefeita Salete Desconzi, que não costuma falar com a imprensa, não iria se pronunciar sobre as críticas dos moradores e tampouco fazer um balanço de sua gestão, conforme foi dada a oportunidade. Questionados sobre a possibilidade de uma declaração por escrito, funcionários do gabinete da prefeita orientaram que perguntas fossem enviadas por e-mail. Porém, até o momento de publicação dessa matéria, o Diário não obteve retorno.


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