Hoje, caro leitor, escrevemos um desabafo. A história não é bonita. Na quinta-feira os olhos arderam. Não pela poeira constante deixada por veículos no trânsito nem pela areia da praia do caribe que levanta com o vento forte característico de Porto Príncipe, no Haiti. Os olhos doeram, não pela fumaça dos montes de lixo queimando pelas ruas e calçadas que alcança e faz arder a narina e ressecar a pele. As retinas doeram ao enxergar a extrema miséria de milhares de haitianos no Mercado Venezuela, também conhecido como "cozinha do inferno".
"Se existe dor na alma é ali que a gente sente". A frase dita por Claudio Vaz, cinegrafista da RBS TV, resume o choque do que vimos hoje.
Crianças, adolescentes e idosos. Mulheres e homens. Juntos em um ambiente inóspito. Onde qualquer um de nós quer passar longe. Onde a existência perde sentido. Onde tudo que ouvimos são pessoas pedindo comida e água.
Pessoas desesperadas numa briga desigual com a vida. Em cima do chão batido, vendem alimentos ao lado de montes gigantes de lixo. Amontoados de resíduos pegando fogo. Enquanto, no chão, o esgoto escorre. No meio daquela fumaça estão carnes de todos os tipos, frutas, verduras, roupas e milhares de pessoas.
Tudo produzido no Haiti é concentrado no Mercado Venezuela e distribuído para os comerciantes da capital Porto Príncipe. Para muitos, o que há para comer.
Hoje, voltamos para a base chocados. Com a dor na alma, descrita por Claudio, e o pensamento longe. O que podemos fazer, além de acreditar?
Acreditar na insistência destes haitianos pela sobrevivência e no brilho persistente daqueles olhares cheios de esperança.
A série
O repórter Bernardo Bortolotto da RBS TV e o cinegrafista e fotógrafo, do Diário de Santa Maria, Claudio Vaz estão em Porto Príncipe, no Haiti, para acompanhar os militares brasileiros que fazem parte da Missão das Nações Unidas para estabilização e manutenção da paz (Minustah).
Atualmente, o 21º Batalhão de Infantaria (Brabat) é formado por 1,2 mil homens. Cerca de 800 são gaúchos e mais de 500 são dos quartéis de Santa Maria. Eles embarcaram rumo ao país caribenho em novembro de 2014 e podem desmobilizar parte do batalhão e retornar para o Rio Grande do Sul em março.