Não há um meio correto ou menos doloroso de vivenciar o luto. Como parte da vida, ele deve ser entendido como necessário. O sabido é que há métodos e intervenções que permitem passar com menos dificuldade pelo processo de luto: fazer visitas ao cemitério, olhar antigas fotografias, buscar apoio de entidades religiosas e, claro, conversar sobre o assunto. É aí que entra a internet, que já se tornou um diferencial neste momento tão singular.
Os integrantes da geração Y, conhecida por divulgar monólogos internos pela internet, parecem ansiosos por espaços para expressar não apenas as coisas boas que entulham o Facebook de todo o mundo. Eles também parecem ter necessidade de compartilhar a dor, que tende a se manifestar ainda mais neste Dia de Finados. Mas as normas sociais para o luto e a internet ainda estão em evolução. Tanto que essa geração recém começa a projetar suas sensibilidades quanto a rituais e discussões sobre a morte. O fato é que os nativos digitais têm dado espaço e visibilidade a blogs, séries no YouTube, feeds no Instagram, declarações e compartilhamentos no Facebook que dizem respeito ao luto e à perda.
É que as redes sociais não são mais apenas um espaço de interatividade entre os que estão distantes fisicamente. Perfis no Facebook, Twitter e afins se tornaram espaço de grande intimidade. E, com isso, as formas de lidar com a dor também se transformaram.
Após a morte, por exemplo, os perfis dos que se foram se tornam espécies de mausoléus nas redes sociais. É por meio deles que aqueles que continuam vivos podem externar a saudade, recordar bons momentos e, em alguns casos, protestar contra as injustiças das quais os falecidos foram vítimas.
Escrever e ler espanta a dor
No mar de tristeza no qual se viram imersos desde a perda de uma das duas filhas na tragédia da boate Kiss, Vanda Dacorso, descobriu nas redes virtuais uma forma de ajudar e de ser ajudada. A filha Vitória é uma das jovens que inspiraram a criação da ONG Para Sempre Cinderelas, entidade que promove trabalhos voluntários.
A conta do Facebook da entidade é ativada com bastante frequência, não só com o cronograma de atividades da ONG, como também por meio de depoimentos.
_ Quando é aniversário de uma delas (a ONG é formada por pais de cinco jovens), os familiares colocam relatos e muitas pessoas curtem. No meu perfil particular, onde tenho somente meus amigos, quando escrevo um depoimento sobre a Vitória, são quase 200 curtidas. Mas também recebo muitas mensagens de consolo, de alento, de força, para que a gente continue_ conta Vanda.
Para a mãe da jovem, essa troca de afeto por meio de mensagens é muito gratificante:
_ É aí que percebemos que não estamos sós. Ao escrever sobre elas, é como se a presença delas ficasse na eternidade, e isso é muito importante. E sempre tem alguém que relata o carinho delas, as amigas verdadeiras que eram... São abraços que recebemos_ afirma.
Montagem é uma das imagens que podem ser encontradas no Facebook da ONG
Como lidar com o luto
- O impacto da perda acompanha o homem na sua trajetória de vida. O luto é, então, a resposta característica a essas perdas, e exige mudanças psicológicas. Especialistas são unânimes em, primeiramente, reconhecer e aceitar a realidade da morte: ela aconteceu e a relação acabou. A segunda é experimentar e lidar com todas as emoções e problemas que decorrem da perda.
- Para trabalhar com essas emoções, há que se criar vínculos substitutos, e a internet pode vir a ser um deles. Contudo, dependendo do perfil psicológico da pessoa, pode não ser apenas reconfortante. Manter-se vinculado às redes virtuais pode tornar crônicas algumas reações, com o risco de ser o caminho para a instalação de um luto problemático ou patológico.
Saiba algumas condu"