Foto: Cotrisel/Divulgação
O aumento de tarifas determinado pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, sobre produtos brasileiros começa a provocar reações em diversos setores da economia nacional. A medida, anunciada na quarta-feira (30), impõe uma sobretaxa de 40% sobre produtos do Brasil, elevando a tarifa total para 50%. Apesar disso, uma lista com quase 700 itens foi poupada da cobrança adicional, o que ameniza os efeitos em alguns segmentos.
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Efeitos da medida
Itens importantes da pauta de exportação do Brasil para os Estados Unidos, como café e carne bovina, tiveram a taxação confirmada. Outros setores já sentem os efeitos imediatos da decisão americana. Em Santa Maria, três empresas do setor metal-mecânico exportam regularmente para os Estados Unidos, e a mudança tarifária compromete diretamente suas operações e estratégias.
– Nós já fomos penalizados. Estávamos com uma exportação chegando nos Estados Unidos há 15 dias e ela já foi taxada com 10%, quando antes o imposto era de 2,8% – afirma Leonardo Veiga, empresário da Tecnologia Sul-Brasileira (TSB) e presidente Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Santa Maria (Simmmae).
Segundo Veiga, a nova tarifa representa um obstáculo importante para quem está em fase de entrada no mercado norte-americano.
– Quem já está exportando vai ter dificuldade para manter os preços competitivos. E quem está iniciando o processo vai acabar atrasando essa entrada – avalia.
O empresário também mencionou o caso da Forjas Taurus, com sede na Região Metropolitana de Porto Alegre, que tem cerca de 85% de sua produção voltada ao mercado americano. Sem isenção para armas e munições, o impacto para empresas como essa pode levar a decisões drásticas.
– Empresas nessa situação podem migrar para países como o Paraguai, que tem tributação muito mais baixa, ou até para os próprios Estados Unidos, com filiais já instaladas por lá – afirma o dirigente sindical.
Produtos que escaparam da taxação adicional
A ordem executiva assinada por Trump trouxe também um alívio parcial ao mercado brasileiro. Entre os itens poupados da tarifa adicional, estão aeronaves civis, suco de laranja, veículos, combustíveis, fertilizantes, produtos de madeira e determinados metais.
– Ontem, até tivemos uma notícia de certo alento: 700 itens foram poupados da tributação extra. Alguns produtos importantes, que são itens de interesse tanto do mercado americano quanto nosso, como suco de laranja, aeronaves, equipamentos e itens de madeira e celulose, ficaram fora da nova tarifa. Ainda estamos analisando se os nossos produtos se enquadram entre os isentos – comenta Veiga.
O setor aeronáutico foi um dos mais beneficiados. A Embraer, por exemplo, tem nos Estados Unidos seu principal mercado externo, com 45% das vendas de jatos comerciais e 70% das de jatos executivos. As ações da empresa subiram 10% após o anúncio da isenção para o setor.
Confira os principais produtos que permaneceram com a tarifa básica, de 10%:
- Aeronaves civis e seus componentes: Estão isentas todas as aeronaves não militares, além de motores, peças, subconjuntos e simuladores de voo.
- Veículos e peças: A tarifa extra não se aplica a veículos de passeio como sedans, SUVs, vans e caminhões leves, nem a peças e componentes específicos.
- Eletrônicos: Permanecem fora da nova alíquota aparelhos como smartphones, antenas, dispositivos de gravação e reprodução de som e vídeo.
- Metais industriais: Produtos de ferro, aço, alumínio e cobre, inclusive itens semiacabados e componentes industriais, foram poupados.
- Fertilizantes: Amplamente utilizados no setor agrícola brasileiro, continuam isentos da tarifa adicional.
- Produtos agrícolas e de madeira: Entre os isentos estão a castanha-do-brasil, suco e polpa de laranja, madeira tropical serrada, fios de sisal e polpa de madeira.
- Minérios e metais estratégicos: Itens como silício, ferro-gusa, alumina, estanho, ouro, prata, ferroníquel, ferronióbio e produtos obtidos por redução direta de minério de ferro.
- Produtos energéticos: Diversos tipos de carvão, gás natural, petróleo e derivados, como querosene, parafina, coque de petróleo e energia elétrica, também foram excluídos.
- Bens retornados aos EUA: Artigos enviados para reparo, modificação ou processamento e que retornam sob certas condições não sofrerão a nova cobrança.
- Bens em trânsito: Produtos que já estavam a caminho dos EUA antes da vigência da nova regra, com chegada até 5 de outubro, não serão afetados.
- Itens de uso pessoal: Produtos incluídos na bagagem de passageiros permanecem isentos.
- Donativos e materiais informativos: Doações e conteúdos jornalísticos, livros, filmes e obras de arte estão fora da taxação extra, salvo em casos de risco à segurança nacional.
Entenda o tarifaço
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou, na quarta-feira (30), um decreto que impõe uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros, elevando o total para 50%. A medida oficializa o número indicado pelo republicano na carta enviada ao presidente Lula no começo de julho.
A justificativa apresentada pela Casa Branca relaciona a medida a questões de segurança nacional e direitos humanos. O documento cita perseguição política e censura no Brasil, com foco em ações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes é mencionado como responsável por ameaças e intimidações a opositores, além de medidas contra empresas americanas. A decisão também incluiu sanções diretas ao ministro, com bloqueio de bens e proibição de relações comerciais com cidadãos dos Estados Unidos, com base na Lei Magnitsky.
Em pronunciamento veiculado no dia 17 de julho, o presidente Lula afirmou que o Brasil responderia com diplomacia e multilateralismo as ameaças do governo de Donald Trump, que classificou de "chantagem inaceitável". Sem citar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula disse que as instituições agem para proteger a sociedade da ameaça de discursos de ódio e anticiência difundidos pelas redes digitais.
Além da motivação política, Veiga acredita que o objetivo principal da ação é fortalecer a economia interna dos EUA.
– Esse é um movimento do Trump para fortalecer a indústria americana. Ele quer tornar produtos importados mais caros para estimular o consumo de produtos fabricados nos Estados Unidos. Um dos objetivos do presidente Donald Trump, internamente, é fazer com que os produtos que vêm de fora fiquem mais caros, para propiciar que a indústria americana retome a sua fase de crescimento. O Brasil está tendo um componente extra, que é uma questão política. Então, nós temos aí um complicador, que está dificultando a negociação – avalia o empresário.
Confira a entrevista completa