Depoimentos sobre acidente com ônibus da UFSM apresentam divergências

Depoimentos sobre acidente com ônibus da UFSM apresentam divergências

Foto: Beto Albert

O delegado José Romaci Reis, responsável pela investigação do acidente envolvendo o ônibus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), esteve em Santa Maria na quinta-feira (24) para coletar novos depoimentos sobre o caso. Pouco mais de 20 dias após a tragédia na cidade de Imigrante, no Vale do Taquari, a Polícia Civil já ouviu o motorista do ônibus, o reitor e servidores da UFSM, a direção do Colégio Politécnico, além da maioria dos 26 sobreviventes e testemunhas, entre eles profissionais que ajudaram no socorro às vítimas. Segundo a polícia, as versões apresentadas até agora apresentam divergências. O acidente, que ocorreu em 4 de abril, deixou sete estudantes mortos e 26 feridos, entre alunos, professores e o motorista


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Durante entrevista ao programa F5, da Rádio CDN 93.5 FM nesta sexta-feira (25), Reis destacou alguns dos depoimentos colhidos na quinta-feira, entre eles, de sobreviventes e de motoristas dos ônibus da universidade, sendo parte deles de uma empresa terceirizada. Segundo o delegado, a principal hipótese trabalhada pela polícia é que o veículo tenha ficado sem freios, por isso, a linha de investigação visa descobrir se a falta desse dispositivo se deu por falha mecânica ou humana.


– Logo na descida da serra, o ônibus começou a ganhar velocidade e, pelo jeito, ou o motorista falhou ou não tinha freio. Uma das duas deve ter acontecido – afirma o delegado, que destaca ainda ser pouco provável que a causa do acidente tenha sido outra, senão falha no equipamento que permitiria que o veículo parasse.


Divergências

Segundo o delegado Reis, há incongruências nos depoimentos quanto à manutenção do ônibus. A oficina mecânica, que seria a única responsável pelas vistorias e trocas de peças dos ônibus, teria alegado que a última manutenção que fez no veículo envolvido no acidente foi em 2023. Depois disso, teria feito apenas consertos pontuais, sem relação direta com o sistema de freios. 


Entretanto, de acordo com Reis, a UFSM alega que, em novembro de 2024, teria feito uma nova vistoria no veículo acidente, embora não tenha apresentado documentos que comprovem a revisão. O modelo, que pertencia à universidade, era um Volkswagen com carroceria Comil, para 40 passageiros, fabricado em 2006.


A reportagem procurou a assessoria da universidade nesta sexta-feira para comentar a entrevista do delegado, mas até a publicação desta reportagem não havia recebido retorno.


Checagem e alerta

Conforme os depoimentos dos motoristas ouvidos pela polícia, o checklist, que deve obrigatoriamente ser preenchido após cada viagem realizada com os veículos, não seria utilizado por todos os profissionais. O delegado destaca que é por meio dessa checagem que se controla a qualidade e o estado do ônibus.


– Isso era passado de boca a boca, o que nos surpreende porque, se era uma obrigação, alguém teria que cobrar que eles fizessem isso. Independentemente se havia algum problema ou não, deveria ser preenchido para que constasse que não havia defeito, mas não era realizado – ressalta Reis.


Outro destaque é que, nos depoimentos de quinta, foram ouvidos dois motoristas que teriam dirigido o veículo recentemente. Eles teriam afirmado que não observaram nenhum problema no ônibus antes do acidente. 


Segundo o delegado, um deles, inclusive, pediu a Rodolfo Bopp, motorista que conduzia o ônibus no dia do acidente, que verificasse os freios porque a rota que ele iria fazer tinha descidas bastante íngremes, que exigiriam muito do sistema de frenagem. Esse aviso teria o "objetivo exclusivo de alertar o colega para que tivesse mais cuidado na serra, e não que o veículo apresentasse algum problema nos freios". 


Entretanto, Boop teria dito informalmente ao delegado, após deixar o hospital, que recebeu avisos do colega alagando que o ônibus estava com problemas de freio.


Foto: Rogério Schmidt Jr. - Rádio Independente


O que dizem as vítimas

Além dos motoristas da UFSM e da empresa terceirizada, foram ouvidas pessoas que estavam no ônibus no momento do acidente. Os passageiros teriam declarado que não havia cinto de segurança em todos os assentos e que o veículo aumentou de velocidade de forma bastante repentina. Segundo o delegado, as vítimas mantêm coerência em seus depoimentos desde o inicio das investigação, relatando as condições do ônibus, que seriam precárias.


– Alguns relataram agora, e anteriormente também, que o motorista em nenhum momento falou com os passageiros, nem no início nem em local nenhum. Na verdade, antes de iniciar a viagem, o motorista deve fazer um briefing e relatar tudo que vai acontecer na viagem, como as pessoas devem se comportar, se devem usar cinto de segurança, se devem levantar ou não dos assentos, o trajeto que será percorrido. Tudo isso deve ser traçado e nada disso foi feito - informa o delegado de Teotônia.


Mesmo no momento em que o veículo perdeu o controle, segundo os depoimentos das vítimas, o motorista não teria avisado aos passageiros, que só notaram que algo estava errado quando a velocidade estava alta. 


– Um dos passageiros, quando percebeu que o ônibus estava andando desenfreado morro abaixo, gritou para todo mundo: "Usem cinto porque o ônibus está sem freio". 80%, 90% das vitimas que a gente ouviu disseram que o ônibus começou a pegar velocidade no início da serra e aí não parou mais. Andou em zigue-zague, passou por cima de cones e só foi parar quando caiu lá embaixo - relata Reis.


A defesa de Rodolfo foi questionada sobre a declaração do delegado José Reis de que o motorista não teria falado com os passageiros e também sobre ele ter recebido ou não informações de que o veículo apresentava problemas. Até a publicação da matéria, a reportagem não teve respostas.


Perícia

O Instituto-Geral de Perícias de Lajeado é o responsável pela perícia no ônibus da UFSM. As análises começaram em 8 de abril, no pátio do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Detran) do município do Vale do Taquari. Geralmente, o laudo demora 30 dias para ser concluído, entretanto, não é data previsão de quando o documento estará pronto. Segundo o IGP, "o processo depende de uma análise detalhada e, eventualmente, de perícias complementares".


Para o delegado, não há indicativos de que a linha de investigação mude após o laudo da perícia. Para ele, está claro que o problema do veículo teria sido no sistema de frenagem.


– Agora, se foi falha do motorista ao não agir corretamente na utilização dos freios ou freios em deficiência a gente vai os saber isso quando a perícia sair. O certo é que o ônibus não pegou freio, por uma razão ou outra – destaca Reis.


Foto: IGP (Divulgação)


A Policia Civil, que é quem solicita ao IGP o que deve ser analisado com mais cautela e apuração durante a perícia, pediu aos peritos que verifiquem minuciosamente o sistema de freio, desde o desgaste da lona à pressão de ar, e também o motor, para verificar se houve sobrecarga e danos nas válvulas internas e na caixa. Além disso, também serão analisados o estado dos pneus e a a manutenção dos cintos  de segurança.


Próximos passos

Segundo o delegado José Reis, pelo menos mais quatro pessoas devem ser ouvidas nos próximos dias. Não há informações sobre quando os depoimentos devem ocorrer. 


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