Na semana passada, no prédio da Antiga Reitoria da UFSM, ocorreu o 16º Encontro do Movimento Tratado Cidadão. O evento tratou de alternativas para impulsionar o turismo na região central do Rio Grande do Sul, tendo como epicentro nossa cidade, Santa Maria. Estiveram presentes membros relevantes da sociedade, representando os meios acadêmicos, jornalísticos, os serviços públicos e a sociedade civil. Em formato de mesas-redondas, o evento permitiu a participação livre e democrática dos presentes, o que enriqueceu significativamente os debates.
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Uma das questões abordadas foi a iniciativa “Cidade Amiga do Idoso”, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), desenvolvida a partir de uma ampla pesquisa realizada em diversas cidades do mundo, sob a coordenação do médico brasileiro Alexandre Kalache, no âmbito do “Programa de Envelhecimento Global” da OMS. Foram entrevistadas pessoas idosas em centros urbanos de diferentes portes – de pequenas cidades a megalópoles – com o objetivo de entender como é viver nesses locais na velhice.
Não somos uma cidade jovem...
Vivemos dois processos concomitantes, característicos do século XX: o envelhecimento populacional e a urbanização. Pensar em cidades amigáveis aos idosos é, portanto, pensar nos próprios núcleos urbanos, pois as medidas que beneficiam os idosos certamente beneficiarão toda a população. A partir dessa pesquisa, foi elaborado um documento acessível em várias línguas – inclusive em português – chamado “Guia Global Cidade Amiga do Idoso”. Com 66 páginas, o guia explora de forma detalhada a metodologia empregada e aponta diversas direções para o desenvolvimento de ações que tornem as cidades mais acolhedoras e funcionais para quem nelas vive e envelhece. A dinâmica adotada foi “da base para o topo”, ou seja, as contribuições das pessoas idosas entrevistadas foram o ponto de partida para a estruturação do documento, buscando-se conclusões coerentes com suas demandas.
Certamente, a cidade amiga do idoso é multidimensional. Portanto, para que uma cidade aspire ao reconhecimento como “Cidade Amiga do Idoso”, é necessário que se insira em um processo dinâmico e contínuo de reflexão sobre como lida com o envelhecimento. Essa reflexão exigirá mudanças de ordem intelectual e cultural, permitindo o surgimento de novos paradigmas políticos e sociais. Um exemplo é a nossa própria cidade que, por abrigar grande número de estudantes, costuma ser percebida como uma cidade jovem. Ledo engano. Santa Maria passa por acelerado processo de envelhecimento populacional, como apontado em reportagem publicada pelo Diário de Santa Maria, em novembro de 2023, que informa que a população com 60 anos ou mais cresceu cerca de 43% nos últimos 10 anos.
Convite à comunidade
É necessário, portanto, estabelecer uma nova forma de pensar a cidade – e por que não, ambiciosamente, uma Cidade Amiga do Idoso? Santa Maria conta com uma expressiva massa crítica capaz de trazer esse debate à ordem do dia, envolvendo diversos atores com voz ativa: o poder público, a imprensa, as universidades, o amplo aparato religioso e militar. Todos são atravessados pela mesma realidade: a velhice não conhece fronteiras e a todos afeta. Basta olhar ao redor: estamos cercados por pessoas idosas.
O principal objetivo de uma Cidade Amiga do Idoso é promover o Envelhecimento Ativo. Para isso, é preciso garantir: prédios acessíveis e espaços públicos adequados, respeito e inclusão social, comunicação e informação acessíveis, apoio comunitário e serviços de saúde, transporte eficiente e mobilidade urbana, moradia digna – incluindo instituições de longa permanência –, além de participação social e oportunidades de trabalho.
Sim, Santa Maria reúne todas as condições para integrar a Rede Global de Comunidades e Cidades Amigas da Pessoa Idosa. Basta trabalharmos para isso. Como comunidade. Como envelhescentes que somos. Afinal, estaremos trabalhando para nós mesmos. Uma coisa é certa: se tudo der certo, vamos envelhecer. E é exatamente disso que estamos falando.