OPINIÃO

Quando a cidade vira casa

Giancarlo Castagna - Partner da Vōrtica

O urbanismo do século XXI está deixando para trás a lógica funcionalista e fragmentada que marcou o planejamento de tantas cidades ao longo das últimas décadas. No lugar do zoneamento rígido, das longas distâncias e da priorização do carro, ganha força uma proposta mais integrada, acessível e centrada no ser humano: o novo urbanismo. E dentro dele, um conceito se destaca pela simplicidade e força transformadora: a cidade de 15 minutos.
Popularizada pelo urbanista franco-colombiano Carlos Moreno e inspirada por estudos e experiências de pensadores como Jan Gehl, a proposta defende que os moradores devem acessar tudo o que é essencial para o dia a dia — trabalho, educação, saúde, lazer, compras — em até 15 minutos de caminhada ou pedalada. Mais do que proximidade, ela promove a ideia de trabalhar, estudar, morar e se divertir em um só lugar, com conforto, segurança e qualidade de vida.


Gehl, em seu livro Cidades para Pessoas, defende a valorização da escala humana na arquitetura e no planejamento urbano. Para ele, as cidades devem ser lugares onde as pessoas queiram estar — e não apenas transitar. Ruas mais calmas, espaços públicos de qualidade, convivência entre funções e contato com a natureza são elementos-chave dessa visão.
Esse modelo urbano tem ganhado espaço justamente por atender a um desejo crescente de reconexão. Após décadas de expansão dispersa e desumana, as pessoas anseiam por proximidade, segurança e pertencimento. Querem mais tempo para si e menos tempo no trânsito. A cidade de 15 minutos propõe, assim, um modo de viver mais leve, eficiente e humano.
Adotar esse modelo exige repensar a forma como planejamos e empreendemos. Significa integrar, em vez de separar. Projetar bairros multifuncionais, com infraestrutura qualificada, espaços de uso misto e soluções sustentáveis. Também implica projetar com empatia, ouvindo o entorno e respeitando as características locais.


Essa é a lógica que também deve orientar projetos imobiliários, pensando em se criar ambientes vivos, conectados e coerentes com o contexto urbano em que se inserem. Esse conceito nos inspira porque valoriza o que é local, reduz desigualdades e aproxima as pessoas daquilo que realmente importa — o convívio, o bem-estar e a cidade como extensão do lar.


O novo urbanismo, ao contrário do que muitos pensam, vai além da estética ou da tecnologia. Trata-se de resgatar o essencial: cidades feitas com e para as pessoas. O futuro urbano passa por esse retorno à essência. E a cidade de 15 minutos é, talvez, o caminho mais claro que temos para chegar lá.

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