Das Antenas aos Andes: santa-mariense que já alcançou o topo de 46 montanhas alerta para os perigos da atividade

Das Antenas aos Andes: santa-mariense que já alcançou o topo de 46 montanhas alerta para os perigos da atividade

Foto: Tiago Korb/Divulgação

Vulcão Tres Quebradas, no Chile, foi o primeiro de uma série de 25 montanhas nos últimos cinco meses

Ao olhar para os morros que rodeiam Santa Maria, um pensamento parece naturalComo será a vista lá de cima?” Essa era a pergunta que passava pela cabeça do jovem Tiago Korb quando decidiu subir o Morro das Antenas, em 2001, sem preparo ou qualquer informação. Nesta semana, a morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu de um desfiladeiro em uma montanha vulcânica na Indonésia, voltou a chamar atenção para os riscos do montanhismo. Por isso, o Diário entrevistou quem tem experiência na área para entender a aventura e os perigos no trajeto. 


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– É claro que deu tudo errado. Saí tarde, não cheguei nem perto de subir até o topo do morro e voltei pra casa ainda com aquela vontade (de chegar ao cume) – relembra o santa-mariense sobre a experiência em 2001.

Na época, Tiago cursava Química Industrial na Universidade Federal de Santa Maria. Mas o interesse pelo montanhismo o levou até a Biblioteca Central do campus sede, onde buscava mapas, cartas topográficas e qualquer outra fonte que o ajudasse a encontrar caminhos para subir os morros da região.

– Para se ter uma ideia, eu não sabia nem onde ficava São Martinho da Serra. A estrada do Perau era conhecida só por moradores. A internet era muito “iniciante” na época, não se tinha muitas informações e imagens de satélite à disposição – conta Tiago.


De hobby à negócio

Da vontade de alcançar o topo, Tiago, hoje com 45 anos, construiu oportunidades. Ao longo do processo, convidava amigos para as "enrascadas", como ele mesmo define. Brinca que perdeu algumas amizades no caminho. Até que, por meio da rede social Orkut, começou a reunir pessoas interessadas em montanhismo e, assim, fundou o Clube Trekking.

Diferente do hiking, modalidade mais acessível, o trekking é caracterizado por caminhadas em trilhas naturais que geralmente duram mais de um dia.

Nos três primeiros anos, Tiago realizou mais de 80 trilhas gratuitas como guia. Para cobrir despesas e investir em melhores equipamentos, transformou a atividade em negócio, em 2010. No fim de 2024, após 17 anos, encerrou as atividades do Clube Trekking em Santa Maria e região, e se mudou para Curitiba (PR), onde mantém o projeto atualmente. Segundo ele, o grupo organizou 1.504 trilhas, com mais de 50 mil participantes e pouco mais de 52 mil quilômetros percorridos a pé.

Trilha do Cânion da Piruva foi a última do Clube Trekking na região, em dezembro de 2024Foto: Clube Trekking/Divulgação


Planejamento e etapas

Com o tempo e os aprendizados, Tiago foi se especializando cada vez mais no montanhismo. Segundo ele, respeitar cada etapa do processo é essencial para evoluir no esporte.

– O importante no montanhismo é não pular etapas. É aprender o que você consegue fazer, tornar isso melhor e mais seguro para uma próxima etapa. Para um iniciante, a chance de sucesso e de aproveitar uma alta montanha é muito menor do que quem aprendeu aos poucos – argumenta.

O primeiro passo é o planejamento: equipamentos, vestuário, percurso e clima são os pilares fundamentais antes de encarar uma trilha, especialmente as mais perigosas. Tiago faz um alerta sobre um item indispensável em expedições mais complexas:

– Uma coisa que facilita muito é ter comunicação satelital ou mesmo aparelhos de GPS que permitem uma comunicação de duas vias, caso precise chamar resgate. Ter isso na montanha é fundamental hoje.

No Vulcão Pomerape, Tiago se tornou o segundo brasileiro com mais cumes de montanhas andinas de 6 mil metrosFoto: Tiago Korb/Divulgação


Caso Juliana

A morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu de um desfiladeiro em uma montanha vulcânica na Indonésia, no último sábado (21), acendeu alertas sobre os riscos do montanhismo.

Nesta sexta-feira (27), o resultado da autópsia foi divulgado. Segundo o portal G1, Juliana sofreu trauma contundente, lesões internas e hemorragia decorrentes da queda. Para Tiago, a demora e a ausência de um resgate eficiente também contribuíram para a tragédia.

– Ao contrário do Brasil, não há equipe de resgate treinada para fazer resgate. Na Indonésia não tem, a legislação é bem ruim. Nos últimos cinco anos, outras oito pessoas morreram naquele vulcão. Conforme o que vimos, ela morreu também pela falta de resgate – avalia.

Apesar do laudo apontar os ferimentos causados pela queda, Tiago ressalta a importância da prevenção, especialmente em relação à temperatura.

– A alternância de temperatura entre o dia e a noite, sem abrigo e sem vestuário adequado, geralmente faz com que as pessoas morram na primeira ou na segunda noite por hipotermia.

Ele também alerta para os riscos de altitude elevada, que pode provocar edemas cerebrais — inchaço do cérebro que causa confusão mental e desequilíbrio. Tiago relembra o caso de um montanhista que resgatou no Ojos del Salado, no Chile, que apresentava esses sintomas.

– Mesmo com todo o conhecimento técnico, por ele ser médico, a confusão mental impedia ele de raciocinar. Ele queria ficar ali, mas ia morrer em poucas horas. Com muito empenho, levamos ele e a esposa e baixando para 3.700 metros de altitude ele melhorou muito. Até hoje agradece e me convida para ir na casa dele em Santiago (no Chile) – conta Tiago.


46 montanhas com mais de 6 mil metros

Apesar dos riscos, o santa-mariense não pretende parar e reforça a necessidade do planejamento e do estudo, para alcançar os objetivos com segurança. No início de junho, Tiago retornou de uma expedição de mais de cinco meses pela Cordilheira dos Andes.

– Foi sensacional. Fiz 16 cumes novos de montanhas de mais de 6 mil metros, 25 ao total. Como eu sou guia, fiz outras montanhas repetidas para guiar clientes e conseguir os meios financeiros para fazer esses cinco meses – relata o santa-mariense.

Com 46 cumes diferentes acima de 6 mil metros nos Andes, Tiago é o segundo brasileiro com maior número de ascensões desse tipo. E os planos para subir e alcançar o topo de novas montanhas seguem ambiciosos:

– Faço essa série de montanhas porque o processo de aclimatação para a altitude requer em média sete dias, a depender da pessoa. Com o carro, conseguimos fazer uma montanha a cada dois dias. Eu planejei essa expedição durante 2 a 5 anos. E tenho planos de fazer outra, para a próxima temporada, e alcançar o topo de outras dezenas de montanhas novas.

Entre uma montanha e outra, Tiago faz acampamentos para aclimatação à altitudeFoto: Tiago Korb/Divulgação


As 25 montanhas dos últimos cinco meses

  • Tres Quebradas - 6236 m (solo) - Chile/Argentina
  • Veladero - 6436 m (solo) - Argentina
  • Baboso - 6070 m - Argentina
  • San Francisco - 6018 m - Chile/Argentina
  • Ojos del Salado - 6893 m - Chile/Argentina
  • San Francisco - 6018 m - Chile/Argentina
  • San Francisco - 6018 m - Chile/Argentina
  • Acamarachi - 6046 m - Chile
  • Aucanquilcha - 6176 m (solo) - Chile
  • 10ª San Pablo - 6110 m (solo) - Chile
  • 11ª San Pedro - 6145 m (solo) - Chile
  • 12ª Palpana - 6035 m (solo) - Chile
  • 13ª Socompa - 6051 m (solo) - Chile/Argentina
  • 14ª Salin - 6028 m (solo) - Chile/Argentina
  • 15ª Pular - 6233 m (solo) - Chile
  • 16ª Chachani - 6075 m (solo) - Peru
  • 17ª Hualca Hualca - 6025 m (solo) - Peru
  • 18ª Ampato - 6288 m (solo) - Peru
  • 19ª Coropuna - 6425 m (solo) - Peru
  • 20ª Guallatiri - 6070 m - Chile
  • 21ª Acotango - 6052 m - Chile/Bolívia
  • 22ª Capurata - 6011 m - Chile/Bolívia
  • 23ª Parinacota - 6342 m - Chile/Bolívia
  • 24ª Pomerape - 6282 m - Chile/Bolívia
  • 25ª Alto Toroni - 6003 m (solo) - Chile/Bolívia


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