
No Inter-SM, o jogo começa antes do apito inicial. São nos treinos das categorias de base que meninos constroem as jogadas que podem levá-los ao objetivo de chegar ao futebol profissional. Nos últimos três anos, 150 meninos de Santa Maria e de outras cidades foram formados pelo Inter-SM.
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Um deles é Frederico Krug, 19 anos. Ele foi um dos atletas que fez parte do plantel que garantiu o acesso da equipe sub-20 a elite do futebol gaúcho na categoria. Em entrevista ao Diário após a conquista, o zagueiro falou sobre os desafios para os jogadores que figuram na base, a estrutura do clube e o processo de formação.
Trajetória até o Inter-SM
A história de Fred é parecida com a de tantos outros jovens que apostam em um futuro futebol. O primeiro toque na bola veio cedo, aos quatro anos, nas escolinhas da cidade natal, Candelária. Desde pequeno, o futebol dividia espaço com a rotina escolar e o futsal. Foi aos 13 anos que surgiu a oportunidade de se dedicar somente ao gramado.
– Conversei com a minha família e decidi seguir no campo. Foi quando joguei uma competição em Agudo e acabei sendo observado pelo Grêmio. Quando recebi o convite, parecia que o sonho estava começando a virar realidade. Era tudo muito novo, mas eu estava pronto para viver aquilo – conta o zagueiro Alvirrubro.

Nessa época, o sonho parecia ganhar velocidade. Fred foi aprovado no clube de Porto Alegre e passou um ano e meio na base tricolor. Mas, então, vieram as pausas e as lesões. A pandemia, por segurança, parou boa parte das atividades nos gramados. Uma contusão no joelho, anos depois, exigiu cirurgia e meses de recuperação.
Do lado de fora, o atleta conta que assistia aos jogos com saudade do campo e até do barulho dos vestiários. Foi nesse período, lembra, que o apoio da família se tornou ainda mais fundamental. Depois de um ano afastado dos gramados, Fred voltou aos treinos e, por indicação de amigos, chegou ao Inter-SM. No clube, conta que encontrou acolhimento e a estrutura que precisava para recomeçar:
– O Marquinhos (um dos dirigentes do clube) e o pessoal me receberam muito bem. Me deram espaço pra treinar, pra fazer o fortalecimento do joelho e voltar a jogar. Isso foi essencial pra mim. Depois de uma lesão, a gente precisa mais do que recuperar o corpo, precisa recuperar a confiança. E aqui eu senti que podia voltar a acreditar em mim.
Em Santa Maria, o atleta vive no alojamento do clube. Ali, leva uma rotina dividida entre treinos e estudos. O dia começa cedo, com o café da manhã coletivo, seguido das atividades físicas e dos treinos diários no campo. Antes das sessões, ele ainda reserva um tempo para fortalecer o joelho, parte do tratamento contínuo após a lesão. À noite, dedica-se à faculdade de Administração.

Ele conta que o convívio com os colegas ajuda a amenizar a saudade de casa:
– A gente confia muito um no outro. Nosso foco era o acesso, e conseguimos. Foi uma sensação de recompensa por tudo o que vivemos no ano.
Agora, ao encerrar a temporada pelo sub-20, aguarda pelos passos seguintes da carreira. Nas próximas semanas, a equipe técnica deve avaliar o zagueiro e outros atletas da base que podem compor o plantel do time profissional que irá disputar o Campeonato Gaúcho em 2026. De qualquer forma, Fred vê o Inter-SM como o clube que lhe deu a chance de recomeçar:
– No futebol, aprendemos a cair e levantar. Eu já vivi momentos bons e ruins, mas todos me ensinaram alguma coisa. Agora quero seguir jogando, crescendo, e retribuir a confiança que o clube me deu. O Inter-SM me abriu as portas num momento em que eu mais precisava, e isso eu não esqueço.
“Se é para assustar, que seja os zagueiros”, diz sobre o apelido de Freddy Krueger
No alojamento, os colegas brincam com o nome do atleta: é o “Freddy Krueger” da Baixada – uma referência direta ao personagem dos filmes de terror A Hora do Pesadelo, clássico dos anos 1980. Ele conta que a origem do nome nada tem a ver com a ficção. Na verdade, é uma homenagem ao bisavô, que se chamava Frederico.
– O pessoal sempre tira sarro, fala que tenho o nome do cara dos filmes. Mas eu digo que quero ser lembrado pelos gols, não pelos sustos.
No campo, o apelido virou até uma espécie de amuleto. Fred admite que o bom humor em torno do apelido até a ajuda a aliviar a rotina puxada de treinos e estudos:
– Se é pra assustar, que seja os zagueiros.
As categorias de base do Inter-SM
O trabalho nas categorias de base do Inter de Santa Maria se consolidou como um dos pilares do clube. Desde 2022, a estrutura vem sendo fortalecida e já rendeu resultados expressivos: em apenas três anos, o Alvirrubro conquistou três acessos à elite do futebol gaúcho: com o sub-17, o sub-20 e o time profissional. A base, coordenada pela Associação Parceiros do Clube do Coração (APCC), passou a atrair jovens de diferentes cidades. Neste ano, são cerca de 50 atletas nas categorias de base.

A formação dos elencos começa com a captação de talentos em parcerias com escolinhas e clubes da região. Os meninos passam por avaliações técnicas em uma espécie de pré-temporada, além de peneiras anuais que chegam a reunir mais de 80 atletas. Quem é aprovado treina nas dependências do Estádio Presidente Vargas e, se for de fora, mora no alojamento do clube, que oferece moradia, alimentação e acompanhamento diário. Atualmente, oito jovens têm contrato profissional, com carteira assinada e remuneração.
Mas o desenvolvimento vai além das quatro linhas. O Inter-SM mantém um acompanhamento psicológico e educacional, o que exige frequência escolar e contato constante com as famílias. Quem explica todo esse trabalho é o presidente da APCC, Marcos Pedroso. Para ele, a ideia é que a base forme não apenas jogadores, mas também cidadãos preparados para os desafios fora de campo:
– Queremos formar atletas, mas, acima de tudo, formar pessoas, é isso que dá sentido ao projeto.
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