Formação dentro e fora das quatro linhas: como funcionam as categorias de base do Inter-SM

O Inter de Santa Maria vive um dos momentos mais significativos de sua história recente. Foram três acessos à elite do futebol gaúcho nos últimos anos: em 2023 com o sub-17 e, em 2025, com o sub-20 e a equipe profissional. Por trás das vitórias no placar e do troféu, existe um trabalho que ultrapassa as quatro linhas: a formação nas categorias de base. A estrutura atual começou a ser organizada em 2022 e, desde então, ganhou fôlego. Não à toa, dirigentes olham para a base como um dos principais projetos do clube nos últimos anos.

– Quando começamos, a maioria dos jogadores era de Santa Maria. Com o tempo e com os resultados, principalmente o acesso, o projeto passou a ganhar visibilidade. Hoje já recebemos muitos meninos de fora da cidade e isso tem criado uma identidade muito forte com o clube – contou Marcos Pedroso, o Marquinhos, presidente da Associação Parceiros do Clube do Coração (APCC), que comanda a base alvirrubra.


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A temporada no Gauchão

  • Sub-17 se mantém na elite: A equipe do sub-17 disputou a série do gauchão neste ano. Na fase classificatória, ficou em terceiro lugar no grupo B - atrás apenas de Internacional e Esportivo. Foram três vitórias, um empate e três derrotas. Já na fase de quartas de final, saiu derrotada dos dois duelos contra o Grêmio e deixou a competição.
  • Sub-20 conquista o acesso: A equipe sub-20 disputou a série A2 do gauchão, o que corresponde a divisão de acesso das categorias de base. Os guris da Baixada conquistaram a vaga na elite do futebol estadual ao vencer a equipe do Cruzeiro nas semifinais. Já na final, foi superado pela equipe do Gaúcho de Passo Fundo e ficou com o vice da competição. Ao todo, foram nove vitórias, dois empates e apenas uma derrota.
Com a conquista do sub-20, o Inter-SM tem todas as categorias masculinas na elite do futebol gaúcho


Seleção dos atletas e estrutura 

Uma boa temporada no futebol é antecedida pela seleção dos atletas. É o momento de montar a equipe que fará parte do plantel da categoria. O dirigente do clube explica que uma das formas de captação é por meio de parcerias com escolinhas e clubes da região. Professores indicam nomes, e os jovens passam por uma espécie de pré-temporada no início do ano. Nesse período, a comissão técnica avalia desempenho técnico, comportamento e também a capacidade de adaptação.

– A diferença entre a escolinha e o clube de alto rendimento é grande. Aqui, a cobrança é maior. Mesmo sendo base, o menino já começa a entender o que é pressão, o que é compromisso e o que é ser parte de um grupo competitivo – explica o dirigente.

Marquinhos é dirigente do clube

Ao final de cada temporada, o Inter-SM também realiza a tradicional peneira – que funciona como um processo seletivo para identificar novos talentos. Em 2024, mais de 80 atletas participaram dessa etapa, que dura, em média, três dias. O objetivo é observar o desempenho dentro e fora de campo e avaliar o quanto cada um se adapta ao ambiente de treinamento.

Como os jovens talentos selecionados, cada atleta é federado ao clube e passa a treinar regularmente nas dependências do Estádio Presidente Vargas. Quem é de fora da cidade, fica no alojamento. Conforme Marcos Pedroso, o espaço tem capacidade para dez jogadores e inclui moradia, alimentação e acompanhamento diário do atleta.

– Nosso alojamento é pequeno, mas tem qualidade. Isso nos permite trazer meninos de fora e aumentar o nível técnico dos grupos. Cada jogador que chega traz uma bagagem diferente, e isso enriquece o trabalho – afirma. 


Atletas da base tem contrato? 

Todos os jovens mantêm vínculo formal com o clube. Os contratos são amadores ou profissionais. A diferença está na remuneração. Atualmente, conforme o dirigente, oito atletas da base têm vínculo profissional e recebem “um salário”, similar ao processo de quem figura no time principal. É uma forma de valorizar o atleta, como afirma Marquinhos:

– Eles já têm carteira assinada desde os 16 anos. Isso dá motivação e também permite que o clube cobre mais responsabilidade. A gente quer que eles entendam desde cedo que estão começando uma profissão. 


O jogo começa fora do campo

Nem só de preparação técnica vivem os atletas da base. O Inter-SM mantém uma rotina de acompanhamento psicológico e educacional. Todos precisam estar matriculados e frequentar a escola e os psicólogos do clube fazem contato direto com os colégios e as famílias para que a formação seja, também, para além do gramado.

– Cuidamos muito dessa parte social. Recebemos relatórios, conversamos com as famílias e, quando é necessário, chamamos para reuniões. Já tivemos casos de atletas que precisaram sair por não cumprir as regras, porque aqui a formação é completa – relata o dirigente.

Marquinhos destaca que o projeto das categorias de base também busca oferecer estrutura emocional para os jovens que sonham em seguir no futebol:

– Tratamos esses meninos como se fossem nossos filhos. Queremos formar atletas, mas, acima de tudo, formar pessoas. É isso que faz o projeto ter sentido. 


“Queremos entregar homens formados, com valores e responsabilidade”, afirma técnico da equipe 

Quem acompanhou toda a reestruturação das categorias de base foi o técnico Luizinho Peres. Ele lembra que, na época, o desafio era enorme: havia recursos limitados, pouco tempo e muito a ser feito. Agora, vivem o resultado de um trabalho que foi consolidado ao longo dos últimos anos.

– Começamos praticamente do zero. Tínhamos que montar uma equipe competitiva, encontrar lugares para treinar e buscar o apoio da comunidade. Com empréstimos de campos, com o material que o profissional não usava mais e com muita boa vontade, fomos conseguindo. Hoje, olhar para trás e ver que tudo isso virou realidade dá um orgulho enorme. É a prova de que o sonho, quando é coletivo, se torna possível.

Luizinho é o treinador da equipe

São nas categorias de base que entra em campo a função social do futebol. Mais do que um jogo, o esporte é, há décadas, uma porta de entrada para que jovens tenham novas oportunidades. Histórias como as do jogador de futebol Vinícius Júnior e da ginasta Rebeca Andrade ilustram como o talento aliado ao apoio certo pode transformar realidades. No Inter-SM, esse mesmo princípio guia o trabalho das categorias de base. O técnico Luizinho Peres explica que o projeto busca formar pessoas para a vida dentro e fora de campo:

– Nosso objetivo é formar pessoas, preparar esses meninos para a vida. Quando chegam aqui, muitos ainda são adolescentes, vindos de escolinhas ou de clubes amadores. Eles chegam com sonhos grandes, mas sem entender muito bem o que é viver em um ambiente profissional. A gente tenta mostrar que disciplina, respeito e responsabilidade vêm antes da bola no pé. O futebol é o meio, mas a formação humana é o fim.

Essa filosofia se reflete no dia a dia. O preparador físico Henrique Braibante, que atua tanto no profissional quanto na base, conta a rotina de acompanhamento dos atletas:

– O Inter tem um papel social importante, e isso é algo que a gente leva muito a sério. A gente acompanha a vida escolar, conversa com as famílias, observa o comportamento dos atletas dentro e fora do clube. Porque nem todos vão se tornar jogadores profissionais, e sabemos disso. Mas todos podem sair daqui como pessoas de bem, com valores sólidos e com a noção de que o trabalho e o respeito abrem portas. Esse é o legado que o Inter quer deixar.


Identidade com o clube 

Um caderno com histórias do clube e jogadores que marcaram época também faz parte da rotina de formação. Conforme o técnico da equipe, é uma forma de aguçar a identidade do atleta com o Inter-SM.

– Queremos que esses meninos saibam de onde o Inter veio e para onde ele quer ir. Eles estudam, leem, conversam sobre a história do clube, sobre os jogadores que marcaram época. Isso cria pertencimento, cria identidade. Aqui, o menino não joga só pelo Inter, ele joga pelo que o Inter representa.

Luizinho destaca que é a união de todos esses fatores que dá sentido ao trabalho:

– Queremos entregar para a sociedade homens formados, com valores e responsabilidade. O futebol é a ferramenta que a gente usa pra isso. E como o nosso coordenador Chiquinho costuma dizer, na base não se negociam valores. Pode faltar estrutura, pode faltar material, mas não pode faltar caráter, comprometimento e respeito. É isso que tentamos ensinar todos os dias. 


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