Foto: Filipe de Rosso (Divulgação)
Ao todo, participaram 50 atletas: 21 mulheres e 23 homens. Na foto, equipe do Calabouço Barbell Club, responsável pela organização local. Dos mais de 50 atletas que treinam lá, 22 competiram.
Passada uma semana da realização do Campeonato Gaúcho de Levantamento de Peso Olímpico (LPO) em Santa Maria, a organização comemora a recepção positiva do evento. No total, 50 atletas de 18 equipes diferentes participaram da competição, que marcou uma nova etapa para a modalidade no interior do Estado (veja lista completa dos vencedores abaixo).
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
As provas foram realizadas nos dias 25 e 26 de outubro, no Ginásio D do Centro Desportivo Municipal (CDM), e, segundo a Federação Esportiva de Levantamento de Pesos do Rio Grande do Sul (Felp-RS), até 600 pessoas circularam pelo local durante os dois dias de evento.
Sediado pela primeira vez em Santa Maria, o campeonato teve organização local do Calabouço Barbell Club, que também foi a equipe com o maior número de atletas participantes. Além dos competidores santa-marienses, competiram atletas de diversas cidades do Estado. Entre eles, Alessandra Batista Regalado, de 15 anos, da Sociedade de Ginástica Porto Alegre (Sogipa), um dos clubes esportivos mais tradicionais do Brasil, com forte presença em competições olímpicas. Com 72 kg no arranco e 100 kg no arremesso, Alessandra foi eleita a melhor atleta feminina da edição, somando 272 kg levantados.
LPO no coração do Rio Grande
De acordo com o presidente da Felp-RS, David Maikel, Santa Maria tem uma localização estratégica no centro do Estado, o que facilita o acesso de atletas de diferentes regiões, da fronteira ao litoral, passando pelo norte gaúcho. Para ele, isso torna a cidade um ponto importante para a expansão do esporte e para alcançar um número cada vez maior de praticantes.
O evento reuniu atletas de cidades como Bagé, Santo Ângelo, Santa Cruz do Sul, Canoas e Porto Alegre, além de um público que lotou as arquibancadas durante os dois dias de competição.
Para ele, o evento em Santa Maria superou todas as expectativas: não apenas pelo nível técnico, mas pelo envolvimento da comunidade.
— O evento em Santa Maria nos surpreendeu muito positivamente pela entrega de toda a comunidade, porque não é sempre que isso acontece, e nos lembra de como era antigamente. Muitas vezes, com o decorrer dos anos, tudo se torna muito profissional, e a gente acaba esquecendo o verdadeiro motivo por você estar ali, que é pelo esporte, pela torcida, o pessoal curtindo, gostando. Todo mundo que estava ali aproveitou o momento, é algo que nos cativa muito porque supera, inclusive, eventos nacionais, onde o público não interage tanto, ficam fazendo os cálculos de quem vai ganhar ou perder, e ali foi totalmente diferente.
Maikel afirma que eventos como esse ajudam a desmistificar o levantamento de peso, e mostram que o esporte é acessível e pode ser praticado por pessoas de todas as idades.
— Cada vez mais as pessoas vão perder aquele aquela visão de que o esporte é algo lesivo, inalcançável, inatingível e vão cada vez mais trazer mais crianças, jovens, adultos, idosos, para o esporte. Esse é o principal objetivo da federação: criar uma comunidade forte para que essa comunidade apoie os atletas para que eles evoluam, cresçam, participem de competições nacionais, participam de competições internacionais. Eventos como esses incentivar uma criança ou alguém que assistiu e que, de repente, pode estar competindo pelo Brasil em uma olimpíada. O trabalho todo tem como base o objetivo de criar uma comunidade, e foi isso que Santa Maria nos entregou. Eles nos entregaram esse sentimento, e isso me deixa muito feliz.
Visão da organização local
Para Paula Dantas Arruda, atleta do Calabouço Barbell Club e responsável pela organização local, o campeonato deste ano foi o mais marcante já realizado no Estado.
— O campeonato foi algo surreal. Foi o campeonato onde tivemos o maior público dentre todos os outros anos. Uma coisa que notei é que nós nunca tivemos baixa de público, ele foi rotativo, mas esteve presente o tempo todo. A presença do prefeito e do secretário adjunto de Esporte foi muito importante. Tenho certeza que houve reflexos na economia e no turismo da cidade. Mesmo que pareça pequeno, já é uma movimentação importante.
A boa repercussão do evento e a resposta do público deixaram clara a vontade de repetir a dose nos próximos anos:
— A expectativa agora é que a gente continue conseguindo trazer o evento para cá, se não o Campeonato Gaúcho, outros eventos de nível estadual, ou até criar um evento local. A ideia é continuar movimentando não só o levantamento de peso, mas o esporte como um todo — afirmou Paula.
Santa-marienses no pódio
Entre os destaques locais, Gabriel Maders, 31 anos, idealizador do Calabouço, conquistou pelo terceiro ano consecutivo o 1º lugar na categoria até 88 kg, levantando 110 kg no arranco e 122 kg no arremesso. Dos 52 alunos treinados por ele, 22 participaram da competição.
Já Isabela Pizzutti, do box Forseti Fitness, também subiu ao pódio. Neste ano, ela ficou em 2º lugar na categoria até 77 kg, com 63 kg no arranco e 85 kg no arremesso. Em 2024, Isabela havia conquistado o ouro na categoria até 71 kg, com marcas de 67 kg no arranco e 71 kg no arremesso.
Categorias
As categorias são as mesmas dos Jogos Olímpicos e respeitam o peso corporal dos atletas:
Feminino: até 48kg, até 53kg, até 58kg, até 63kg, até 69kg, até 77kg, até 86kg, acima de 86kg
Masculino: até 60kg, até 65kg, até 71kg, até 79kg, até 88kg, até 98kg, até 110kg, acima de 110kg
Resultado feminino
Categoria Júnior
Até 69 kg
- 1° lugar: Isabela Freitas — 55 kg de arranco e 56 kg de arremesso. Total: 120 kg
Até 77 kg
- 1° lugar: Karolina Borges — 58 kg de arranco e 82 kg de arremesso. Total: 140 kg
Acima de 86 kg
- 1° lugar: Alessandra Batista Regalado — 72 kg de arranco e 100 kg de arremesso. Total: 172 kg
Adulto
Até 48 kg
- 1° lugar: Antonella Alves — 45 kg de arranco e 60 kg de arremesso. Total: 140 kg
Até 58 kg
- 1° lugar: Marina Garlet Caetano — 25 kg de arranco e 70 kg de arremesso. Total: 122 kg
- 2° lugar: Maria Eduarda Adornes Guimarães — 50 kg de arranco e 66 kg de arremesso. Total: 116 kg
Até 63 kg
- 1° lugar: Anieli Corrêa Fonseca — 60 kg de arranco e 80 kg de arremesso. Total: 140 kg
- 2° lugar: Paula Dantas Arruda — 57 kg de arranco e 70 kg de arremesso. Total: 127 kg
- 3° lugar: Edooarda Fraga Almeida — 55 kg de arranco e 67 kg de arremesso. Total: 122 kg
Até 69 kg
- 1° lugar: Vitória Andrade Faria Parise — 51 kg de arranco e 69 kg de arremesso. Total: 120 kg
- 2° lugar: Marcela Fernandes Medin — 55 kg de arranco e 63 kg de arremesso. Total: 118 kg
Até 77 kg
- 1° lugar: Débora Ferreira Tavare — 65 kg de arranco e 95 kg de arremesso. Total: 160 kg
- 2° lugar: Isabela Pizzutt — 63 kg de arranco e 85 kg de arremesso. Total: 148 kg
- 3° lugar: Eliane Rodrigues — 44 kg de arranco e 60 kg de arremesso. Total: 104 kg
Até 86 kg
- 1° lugar: Juliana Meinecke Dias — 71 kg de arranco e 87 kg de arremesso. Total: 158 kg
- 2° lugar: Lívia Lese — 63 kg de arranco e 74 kg de arremesso. Total: 137 kg
- 3° lugar: Stefani Pereira Zuse — 55 kg de arranco e 69 kg de arremesso. Total: 124 kg
Acima de 86kg
- 1° lugar: Carolina Guimarães Martin — 50 kg de arranco e 60 kg de arremesso. Total: 158 kg
Resultado masculino
Categoria Júnior
*até 20 anos
Até 88kg
- 1° lugar: Vinicius Zambrano — 117 kg de arranco e 140 kg de arremesso. Total: 257 kg
Categoria Juvenil
*até 17 anos
Até 94 kg
- 1° lugar: Gustavo Dimmer — 95 kg de arranco e 120 kg de arremesso. Total: 215 kg
Adulto
Até 65 kg
- 1° lugar: Eduardo Boquetti Junior — 11 kg de arranco e 140 kg de arremesso. Total: 255
- 2° lugar: João Freitas — 47 kg de arranco e 50 kg de arremesso. Total: 97 kg
Até 71 kg
- 1° lugar: William Persich Togn — 90 kg de arranco e 120 kg de arremesso. Total: 210 kg
- 2° lugar: Gregor Hoche — 87 kg de arranco e 98 kg de arremesso. Total: 185 kg
- 3° lugar: Felipe Gaspar — 77 kg de arranco e 98 kg de arremesso. Total: 175 kg
Até 79 kg
- 1° lugar: João Pedro Meinecke Dia — 108 kg de arranco e 120 kg de arremesso. Total: 253 kg
- 2° lugar: Guilherme Cacenot — 100 kg de arranco e 145 kg de arremesso. Total: 237 kg
- 3° lugar: Luan Silva de Lima Silveira — 102 kg de arranco e 132 kg de arremesso. Total: 234 kg
Até 88 kg
- 1° lugar: Gabriel Maders — 110 kg de arranco e 122 kg de arremesso. Total: 232 kg
- 2° lugar: Marco Biag — 80 kg de arranco e 105 kg de arremesso. Total: 185 kg
- 3° lugar: Patrick Rodrigues dos Santos: 75 kg de arranco e 95 kg de arremesso. Total: 170 kg
Até 94 kg
- 1° lugar: Caio Nune — 125 kg de arranco e 138 kg de arremesso. Total: 253 kg
- 2° lugar: Pedro Gabriel Ferreira Ajal — 100 kg de arranco e 142 kg de arremesso. Total: 185 kg
- 3° lugar: Luis Enio Rodrigues — 84 kg de arranco e 102 kg de arremesso. Total: 170 kg
Até 110 kg
- 1° lugar: Janderson Macedo Silvan — 90 kg de arranco e 110 kg de arremesso. Total: 200 kg
- 2° lugar: Bruno Leonel dos Rei — 70 kg de arranco e 93 kg de arremesso. Total: 163 kg
Acima de 110 kg
- 1° lugar: Douglas Estivale — 95 kg de arranco e 131 kg de arremesso. Total: 226 kg
Como funciona o campeonato
A competição é dividida em duas provas: arranco (snatch) e arremesso (clean and jerk). Os nomes em inglês foram popularizados pelo CrossFit, esporte que traz esses movimentos nos treinos.
No arranco, o atleta levanta a barra do chão até acima da cabeça em um único movimento. Já no arremesso, são dois: do chão aos ombros, e dos ombros à cabeça. Cada atleta tem três tentativas em cada movimento. A soma dos maiores pesos válidos determina o resultado final.
A ordem de entrada é definida conforme a carga que cada atleta pretende levantar, iniciando com o menor peso. A barra começa com 25 kg e não é reduzida após cada tentativa. Quem erra todas as tentativas em uma das provas, como o arranco, perde direito à premiação, mas ainda pode tentar o arremesso.
O esporte
Extremamente técnico e mentalmente desafiador, o levantamento de peso olímpico é uma modalidade que exige do atleta muito mais do que força bruta. Concentração, coordenação e controle corporal são tão determinantes quanto a potência muscular. Quem observa de fora pode ver apenas uma barra sendo erguida sobre a cabeça, mas, na prática, trata-se de um dos esportes mais completos e complexos do mundo.
— Não é nem levantar a carga sobre a cabeça, é entrar embaixo da barra — explica o professor doutor Thiago Leite de Campos, docente do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Mestre em Educação Física e treinador de nível 1 pela Federação Paranaense de LPO, ele conheceu o esporte há cerca de dez anos, em Curitiba. Desde então, segue estudando o tema e defende a importância do levantamento de peso não só como competição, mas também como ferramenta de desenvolvimento motor e saúde.
— Estamos falando de um esporte extremamente completo e complexo. Ele é capaz de desenvolver diversas capacidades físicas como força, mobilidade, potência, estabilidade, e pode ser aplicado tanto em atletas quanto em pessoas que buscam saúde — destaca o professor.
Ele explica também que há uma relação de complementaridade entre o esporte e outras modalidades. O treino de LPO, mesmo quando não voltado à competição, tem alto nível de transversalidade, ou seja, pode ser usado como base para praticamente qualquer atividade.
— Um tenista, um nadador ou um lutador, todos se beneficiam de um trabalho bem orientado de LPO. Mas é preciso cuidado, porque é uma modalidade extremamente técnica e exige acompanhamento profissional — alerta.
Um dos esportes mais antigos do mundo
As origens do LPO remontam às civilizações antigas, quando demonstrações de força faziam parte de competições culturais e religiosas. Como esporte olímpico moderno, ele está presente desde a primeira edição dos Jogos, em 1896.
— No início, o levantamento de peso era associado a estivadores, a pessoas que trabalhavam com carga, e por isso não era bem visto pela elite aristocrática que organizava os Jogos Contemporâneos — explica Thiago.
Com o tempo, a modalidade evoluiu e se consolidou. Hoje, permanece como uma das provas mais emblemáticas das Olimpíadas, com países do Leste Europeu, China, Geórgia e Irã entre as maiores potências.
— Esses países têm uma cultura esportiva muito forte. O recorde mundial de carga total, por exemplo, pertence a um atleta georgiano, desde 2021.
Apesar da longa tradição, o LPO ganhou nova visibilidade nos últimos anos por meio do CrossFit e de outras práticas funcionais. Muitas pessoas conheceram os movimentos olímpicos nos boxes e acabaram migrando para a modalidade pura.
— O próprio criador do CrossFit jamais imaginaria que o levantamento de peso olímpico ganharia esse nível de visibilidade graças a essa prática. O CrossFit se utilizou muito bem do LPO, porque ele encaixa perfeitamente em seus critérios de força e explosão.