Tarifaço de Trump mostra importância de buscar outros mercados para produtos brasileiros, avalia economista da UFSM

Tarifaço de Trump mostra importância de buscar outros mercados para produtos brasileiros, avalia economista da UFSM

Foto: The White House/Divulgação

Presidente americano anunciou medida por carta a Lula

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quarta-feira (9), a decisão de tarifar em 50% os produtos brasileiros - hoje, o percentual é de 10% do que é vendido aos EUA. A porcentagem é a mais alta entre os 22 países que foram comunicados pelo governo do país norte-americano sobre o aumento de tarifas de produtos importados. A medida passa a ser válida a partir de 1º de agosto.

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Trump justificou a elevação da tarifa ao citar Jair Bolsonaro e afirmar ser "uma vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF). Após o anúncio da medida, o presidente Lula disse que o Brasil "não aceitará ser tutelado por ninguém" e que o aumento da tarifa será respondido com base na Lei da Reciprocidade Econômica, que prevê que o Brasil deverá taxar quem também o taxa unilateralmente.


Setor mais afetado

Em entrevista ao programa F5 (CDN 93.5 FM), com apresentação de Deni Zolin, o professor do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Daniel Coronel, avalia que a decisão terá impactos principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

– Em primeiro lugar, temos que entender quais os produtos mais exportados pela economia brasileira aos Estados Unidos, que são óleos, produtos semi-manufaturados, café, carne bovina, ferro e celulose. Claro que o Rio Grande do Sul também vai apresentar uma queda, porque tem uma base muito forte no agronegócio, mas não vai ser tão grande como nessas duas outras regiões – afirma Coronel, que explica que o setor de carnes deve ser o mais impactado, em virtude do aumento dos preços no mercado americano e, consequentemente, a queda na competitividade. 


Impacto amenizado

Entretanto, a avaliação é que a medida não seja tão grave a ponto de fechar empresas e aumentar significativamente o nível do desemprego. Isso porque, segundo Coronel, o impacto será amenizado pela relação comercial do Brasil com outros países.

– Se o Brasil ficar restrito aos Estados Unidos e ao comércio sul-norte, ficaremos reféns de medidas retaliatórias. Nos últimos anos, as exportações brasileiras se direcionaram para os outros mercados. Os Estados Unidos são um parceiro importante, mas há muito tempo não são o principal parceiro econômico do Brasil, que hoje é a China. Se a China chegasse a taxar em 50% as exportações brasileiras, esse medo (de desemprego e fechamento de empresas) seria mais latente – avalia Coronel, que complementa:

– O que aconteceu nesse caso mostra, de forma inequívoca, a importância do Brasil buscar outros mercados. (Me refiro a) fortalecer a relação com o Mercosul, fortalecer as relações com os países do BRICS. Há, por exemplo, indicadores claros de que, nos próximos 50 anos, a China e a Índia deverão assumir a liderança do comércio mundial.


Política, economia e diplomacia

Para o professor, Trump é conhecido por ser um político que gosta de questões midiáticas e confronto. Coronel entende que, por isso, este tipo de medida deve ser cada vez mais constante em seu governo. Entretanto, alerta para a interferência do país norte-americano sobre o Brasil

– O que me preocupa é a ingerência dos Estados Unidos sobre uma questão interna política brasileira. Cada vez que os Estados Unidos se achar no direito de fazer uma intervenção relacionada a motivos políticos na economia do Brasil ou de outros países, isso pode provocar uma mudança muito forte nas relações econômicas internacionais. Isso pode ocasionar situações de conflitos de debates nos órgãos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio. 

Neste momento, Coronel avalia que o governo brasileiro deve pensar no que é mais estratégico para a economia nacional. Para o economista, uma resposta baseada no princípio da reciprocidade, ou seja, tarifar também em 50% as importações de produtos dos Estados Unidos, pode provocar uma escalada tarifária e quedas no Produto Interno Bruto (PIB), nos níveis de bem-estar da população e nas exportações de ambas nações. Ele defende que o governo brasileiro leve a situação a organismos internacionais. 

O comércio internacional é uma arena: não tem anjos e não tem demônios, mas sim interesses. Cada país busca o que é melhor para si. Isso faz parte do jogo político das relações internacionais – afirma o professor universitário.


Confira a entrevista completa:



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