"Tudo que queremos é simplesmente segurança", diz diretor do Bate-Papo Astronômico sobre possibilidade de encerrar projeto

Foto: Vinicius Becker

Desde o começo do mês de junho, o Bate-Papo Astronômico, projeto de divulgação científica sediado no Santa Maria Tecnoparque, deixou de contar com a presença da Guarda Municipal durante o período noturno. A medida ameaça diretamente a continuidade das atividades, segundo Fabrício Colvero, diretor executivo do projeto. Criado em 2019 e reconhecido nacionalmente por iniciativas voltadas à astronomia e ciências correlatas, o projeto corre o risco de ser encerrado já em agosto.


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O que está em risco

Além de Fabrício, o projeto é mantido por Ariane Jardim, também atuante no Tecnoparque, e Diogo Custódio, de São José dos Campos. O Bate-Papo Astronômico realiza observações astronômicas, ações com escolas, coleta de dados meteorológicos e ambientais, além de manter parcerias com instituições como o Instituto Federal Farroupilha, Universidade do Texas, Rede Bramon e a Global Meteor Network.

— O projeto conquistou a comunidade científica nacional, profissional e amadora, pela forma como abordamos a divulgação científica aqui na região e também online — destaca Fabrício.

Apesar do reconhecimento, a iniciativa é mantida com recursos próprios dos idealizadores e estrutura do Tecnoparque, entidade privada sem fins lucrativos. A instituição fornece local, energia elétrica e auditório, enquanto os custos operacionais e equipamentos são, em parte, arcados pelos próprios membros ou emprestados por parceiros.

A ausência de vigilância noturna, segundo Fabrício, impede a realização de atividades com segurança:

— Eu não posso levar um público para lá sem uma guarda efetiva acompanhando. Às vezes preciso ir de noite sozinho fazer manutenção nas estações, e isso se tornou inviável.

Fabrício Colvero é diretor executivo do projetoFoto: Vinicius Becker


Dados coletados

O pesquisador ressalta que a Prefeitura de Santa Maria, embora parceira por meio da Defesa Civil, que inclusive utiliza dados gerados pelo projeto, não tem obrigação legal de manter a Guarda Municipal no local. Ainda assim, ele considera que o poder público deveria reconhecer o impacto da iniciativa:

— Se eu tivesse na condição de gestão, eu procuraria ter o vínculo, dada a importância e a projeção do projeto a nível nacional.

Além de dados astronômicos, o projeto mantém um banco de dados meteorológicos e ambientais de alta confiabilidade, com informações utilizadas para monitoramentos e pesquisas. Um dos exemplos recentes foi durante os temporais no início de junho, quando uma estação quase parou de funcionar. Segundo Fabrício, os dados coletados ali são fundamentais para estudos climáticos futuros:

— Quando se diz que “foi a chuva mais intensa dos últimos anos”, são esses dados que embasam essa afirmação. E temos três anos de informações acumuladas que não podem ser replicadas em outro local.

O risco de encerrar o projeto não decorre apenas da segurança, mas da dificuldade estrutural em conseguir incentivos públicos. Como se trata de uma atividade realizada em tempo livre pelos idealizadores, a burocracia para captação de recursos é um obstáculo. Ainda assim, o Bate-Papo Astronômico foi responsável por ações marcantes, como sediar a etapa Sul da Olimpíada Brasileira de Satélites e lançar balões estratosféricos em parceria com o Ministério da Ciência.

— Lá fora, nos Estados Unidos, um projeto como o nosso teria recursos e pessoal contratado. Aqui, a gente mesmo instala e mantém tudo — lamenta Fabrício, que diz estar “abrindo o coração” ao falar da situação.

Apesar das dificuldades, o pesquisador reforça que não se trata de uma cobrança à Prefeitura, mas de uma decisão tomada com base nos riscos:

— Tudo o que a gente quer é simplesmente segurança. O resto a gente mata no peito.


Confira a entrevista completa

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