Mulheres, brancas e que convivem com os agressores: o perfil das vítimas de denúncias feitas pelo 180 em Santa Maria

Mulheres, brancas, heterossexuais, com baixa renda e que convivem com os agressores. Esse é o perfil mais comum das vítimas de denúncias de violência doméstica feitas pelo 180 neste ano em Santa Maria. Ao todo, foram 86 denúncias – conforme levantamento divulgado pelo Ministério da Mulher.

Os dados mostram que, além de frequentes, as violências persistem por longos períodos e ocorrem, em sua maioria, dentro do ambiente doméstico. Isso porque 41 das agressões ocorreram na casa da própria vítima e em residências compartilhadas com o suspeito, que contabilizou 21 casos. Em 23 casos, as agressões começaram há mais de um ano e, em 9, há mais de uma década. 


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A titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Elizabete Shimomura, avalia o cenário em Santa Maria e comenta sobre as violências que persistem por longos períodos e, por vezes, demoram a serem denunciadas.

– Essas campanhas a mídia e nós realizamos, encorajando as vítimas... acho que isso tem um papel muito importante. Também é resultado do próprio ciclo da violência. As vítimas têm um tempo. Algumas não conseguem registrar imediatamente por questões pessoais, por medo, por acreditar que o parceiro vai mudar, ou mesmo por questões materiais – como filhos, dependência financeira do companheiro. Então, não há um único motivo para essa demora em denunciar. Cada história é uma história – comenta a delegada.

A Delegacia da Mulher está localizada na Rua Duque de CaxiasFoto: Nathália Schneider (Arquivo/Diário)

Em relação ao combate à violência contra a mulher, Shimomura fala sobre a atuação de órgãos como a Polícia Civil, Ministério Público e Brigada Militar:

– A melhor forma de combater, além da questão da prevenção e da divulgação, é a atuação firme das instituições envolvidas diretamente com esses delitos relacionados à violência doméstica. Aqui em Santa Maria, acredito que o trabalho tem sido muito positivo. Tivemos um aumento de 60% no número de prisões em comparação com o mesmo período do ano passado.


Denúncias pelo 180 em Santa Maria

*de 1º de janeiro a 31 de julho de 2025 

Total de denúncias por cenário

  • Casa da vítima: 41 
  • Casa da vítima e do suspeito: 21 
  • Ambiente virtual: 4 
  • Casa do suspeito: 3
  • Instituição de ensino: 2
  • Instituição de saúde: 2
  • Ambiente de lazer: 1 
  • Estabelecimento de saúde: 1
  • Táxi/transporte por aplicativo: 1
  • Via pública: 1
  • Outros: 9 


Quem são os denunciantes

  • Própria vítima: 55 
  • Anônima: 29 
  • Terceiro: 2 


Início das violências

  • Há mais de 5 anos: 5
  • Há mais de 10 anos: 9
  • Há mais de seis meses: 10 
  • Há mais de uma no: 23 
  • Há um mês: 8
  • Há uma semana: 10
  • Não se aplica: 14 
  • Não declarado: 7


Frequência 

  • Diariamente: 35
  • Ocasionalmente: 20 
  • Semanalmente: 11
  • Única ocorrência: 8 
  • Não declarado: 8 
  • Não se aplica: 4 

Fonte: Ministério da Mulher 


Perfil das vítimas e relação com suspeito: maior parte das agressões são de pessoas próximas 

Dados do Ligue 180 revelam o perfil das vítimas envolvidas em denúncias de violência contra mulheres. Em relação à orientação sexual, 57 vítimas se identificaram como heterossexuais (66,3%), enquanto duas se identificaram como bissexuais. Em 27 casos (31,4%), a orientação sexual não foi informada.

A análise da faixa etária aponta que a maior parte das vítimas está entre 25 e 59 anos, com destaque para o grupo de 25 a 29 anos, que representa 12,7% (11 casos). Faixas etárias entre 35 e 59 anos concentraram 36 denúncias. Já entre as mulheres mais jovens, de 20 a 24 anos, foram registrados 8 casos. Quanto à raça, 58 mulheres se autodeclararam brancas (67,4%), seguidas por 13 pardas (15,1%) e 8 pretas (9,3%). Em 7 denúncias (8,1%), a informação não foi fornecida.

A maior parte das vítimas possui baixa renda. Cerca de 35 mulheres (40,7%) informaram ter rendimento de até um salário mínimo, incluindo aquelas sem nenhum rendimento (9 casos). Apenas 4 vítimas relataram receber mais de dois salários mínimos. Em 27 casos (31,4%), a informação não foi declarada.

As relações entre suspeitos e vítimas revelam que, em sua maioria, os agressores são pessoas próximas: ex-companheiros (24), companheiros atuais (12), filhos (6), esposos (5) e ex-namorados (5). 

Maior parte das denúncias ocorre na casa da vítima e é denúncia por elaFoto: Renan Mattos (Arquivo/Diário)


Perfil da Vítima 

*de 1º de julho a 31 de julho de 2025

Orientação sexual

  • Heterossexual: 57
  • Bissexual: 2
  • Não declarado: 27 


Gênero

  • Feminino: 85
  • Não declarado: 1

 

Faixa etária

  • 25 a 29 anos: 11 
  • 35 a 39 anos: 9
  • 45 a 49 anos: 9
  • 55 a 59 anos: 9
  • 20 a 24 anos: 8
  • 30 a 34 anos: 8
  • 40 a 44 anos: 6
  • Não declarado: 5 
  • Outras faixas etárias: 21


Raça 

  • Branca: 58 
  • Parda: 13
  • Preta: 8
  • Não declarado: 7 


Faixa de renda

  • Meio a 1 salário mínimo: 17
  • Até meio salário mínimo: 15
  • Um a dois salários mínimos: 14
  • Sem rendimento: 9 
  • De 2 a 5 salários mínimos: 3
  • De 5 a 10 salários mínimos: 1
  • Não declarado: 27


Relação suspeito x vítima

  • Ex-companheiro: 24 
  • Companheiro: 12
  • Filho: 6
  • Esposo: 5
  • Ex-namorado: 5
  • Namorado: 5 
  • Ex-esposo: 4
  • Vizinho: 4
  • Desconhecido: 3
  • Não declarado: 2
  • Sobrinho: 2 
  • Amigo: 2
  • Outros: 12

Fonte: Ministério da Mulher


Raça, faixa etária e orientação sexual dos suspeitos

O perfil dos suspeitos das denúncias também foi analisado. A maioria é do sexo masculino (73), com apenas 8 mulheres envolvidas nas denúncias e 5 casos sem informação. Quanto à orientação sexual, 51 suspeitos se identificaram como heterossexuais, 1 como bissexual, e 34 não declararam a informação.

A faixa etária mais comum entre os suspeitos é de 40 a 44 anos (15 casos), seguida pelas idades entre 25 e 34 anos (21 casos). Em relação à raça, 52 suspeitos se identificaram como brancos (60,5%), 18 como pardos (20,9%) e 3 como pretos (3,5%). Em 13 casos (15,1%), a raça não foi informada.


Perfil do suspeito

*de 1º de janeiro a 31 de julho de 2025 

Orientação sexual

  • Heterossexual: 51 
  • Não declarado: 34 
  • Bissexual: 1 
  • Gênero
  • Masculino: 73
  • Feminino: 8
  • Não declarado: 5 


Faixa etária

  • 40 a 44 anos: 15
  • 25 a 29 anos: 12 
  • 30 a 34 anos: 9
  • 50 a 54 anos: 9
  • 45 a 49 anos: 7 
  • 20 a 24 anos: 6
  • Não declarado: 14 
  • Outras idades: 14


Raça

  • Branca: 52 
  • Parda: 18 
  • Preta: 3
  • Não declarado: 13

Fonte: Ministério da Mulher


No Brasil 

De janeiro a julho de 2025, o Ligue 180 registrou 594.118 atendimentos e 86.025 denúncias de violência contra mulheres em todo o país. Os chamados foram realizados por ligação telefônica (84,2%), e-mail (13,5%), WhatsApp (2,3%) e videochamada em Libras (menos de 1%). No mesmo período, foram registradas 86.025 denúncias de violência contra mulheres em todo o país, o que representa um aumento de 2,9% em relação ao mesmo período em 2024 (83.589 denúncias).

Os dados também revelam que a maior parte das vítimas é heterossexual, com 49.674 denúncias (57,7%), e negra, com 38.068 denúncias (44,3%). Em relação aos suspeitos, a maioria dos identificados é heterossexual (42.320 - 49,2%) e negra (35.586 - 41,4%). Em 47,6% dos casos, os suspeitos eram companheiro(as), esposos(as), e namorados(as), atuais ou ex.

De acordo com o Painel de Dados do Ligue 180, muitas mulheres convivem com a violência por longos períodos antes de buscar ajuda. Entre as denúncias recebidas, 21,9% (18.871) são referentes a violências iniciadas há mais de um ano; em 9% das denúncias (7.715) as violências começaram há mais de cinco anos. Em 8,6% (7.442), tiveram início há mais de dez anos. Já em relação ao cenário das violências, a maior parte ocorre dentro da residência da vítima, com 35.063 registros (40,7%). Outros 24.238 casos (28,2%) ocorreram em domicílios compartilhados entre a vítima e o suspeito. Também foram registradas 4.722 denúncias (5,5%) de violência cometida na casa do suspeito.


Ligue 180

A ligação para o Ligue 180 é gratuita e mantém o sigilo de quem busca o serviço para pedir informações ou fazer denúncias. A central funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana para acolhimento, orientação e registro de denúncias, destinado às mulheres em situação de violência.

É possível fazer a ligação de qualquer lugar do Brasil. No caso de mulheres que estejam no exterior, o serviço pode ser acessado via chat no WhatsApp, (61) 9610-0180. O serviço realiza atendimento em quatro línguas (português, inglês, espanhol e Libras). Atualmente, conforme o Ministério da Mulher, a Central conta com 288 atendentes especializadas e um quadro total de 332 profissionais na operação, incluindo supervisoras, monitoras e psicólogas.

Em casos de emergência, a orientação do ministério é acionar a Polícia Militar local, por meio do número 190.


Dados Ligue 180 no Brasil

*de 1º de janeiro a 31 de julho 

  • Ligações atendidas: 500.388 
  • WhatsApp atendidos: 13.684 
  • E-mails atendidos: 80.038 
  • Videochamadas atendidas: 8


Caráter dos Atendimentos

  • Informações: 321.931 
  • Orientações de serviços: 88.399 
  • Denúncias: 85.989
  • Manifestações: 1.053

Fonte: Ministério da Mulher


Agosto Lilás 

O Agosto Lilás é um marco anual de conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres. Em 2025, lançou a campanha “Não deixe chegar ao fim da linha. Ligue 180”, que reforça o papel da Lei Maria da Penha como instrumento de proteção às mulheres. Com linguagem acessível e abordagem educativa, a mobilização busca ampliar o conhecimento sobre os direitos garantidos pela legislação, os canais de denúncia e os serviços especializados de atendimento.


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