O Brasil vive um processo acelerado de envelhecimento populacional, fato que demanda novas estratégias de cuidado que proporcionem melhor qualidade de vida às pessoas idosas. Nesse cenário, a atenção domiciliar destaca-se como uma alternativa eficaz e humanizada, pois permite ao idoso receber assistência no conforto de sua casa, preservando suas rotinas, bem como de sua família. É um modelo de atenção à saúde que valoriza o ambiente familiar, promovendo maior bem-estar e respeitando as particularidades de cada indivíduo. Podemos conceituar a atenção domiciliar como um conjunto de atividades clínicas que abrangem a promoção e prevenção à saúde, e a implementação de estratégias de tratamento e reabilitação, todas realizadas no domicílio do paciente. Para garantir um cuidado integral, esse modelo deve envolver equipes multidisciplinares, onde médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais e outros profissionais atuam de forma integrada para atender às necessidades físicas, emocionais e sociais do idoso.
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A Assistência domiciliar já é uma realidade há algumas décadas no sistema privado de saúde. Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) vem buscando implementar a atenção domiciliar através do programa Melhor em Casa. Esse programa tem como objetivo oferecer atendimento multiprofissional no domicílio, contribuindo para a redução de internações hospitalares desnecessárias e ampliando a resolutividade dos serviços de saúde. O público-alvo inclui, entre outros, pessoas idosas com limitações de mobilidade ou portadores de doenças crônicas, buscando garantir assistência adequada e individualizada.
Ambiente familiar
A atenção domiciliar permite a promoção da autonomia, na medida em que o idoso permanece em seu ambiente familiar, preservando sua rotina e laços afetivos. Observa-se também a redução de riscos, pois a atenção domiciliar pode levar à diminuição de internações hospitalares e portanto a probabilidade de infecções hospitalares e de complicações decorrentes de internações prolongadas. Tende a ser uma abordagem mais individualizada, permitindo a adequação dos cuidados às necessidades e preferências do idoso e de sua família. Uma questão importante é o descongestionamento do sistema de saúde, pois ao evitar internações e reinternações, existe espaço para a otimização dos recursos hospitalares.
Apesar dos múltiplos benefícios, o modelo enfrenta desafios como a escassez de profissionais, limitações de infraestrutura nas residências, dificuldades de acesso a insumos e equipamentos, além da sobrecarga para familiares e cuidadores. Outro ponto relevante é a desigualdade regional, que pode dificultar a implementação efetiva do serviço em áreas remotas e menos favorecidas, a partir de uma perspectiva local, regional e nacional.
Capacitação de cuidadores
A família exerce papel fundamental na atenção domiciliar ao idoso, sendo muitas vezes responsável pelo suporte diário e pela articulação com as equipes de saúde. A capacitação de cuidadores familiares é essencial para garantir a qualidade do cuidado, prevenir sobrecargas e evitar situações de negligência ou violência. Devemos lembrar também que um grande número de pessoas hoje dedica-se ao cuidado de idosos como opção profissional. Porém, este trabalho ainda não está regulamentado e estes profissionais carecem de formação técnica, e é uma necessidade urgente estratégias para sua melhor capacitação. Cuidar de uma pessoa idosa não é uma tarefa simples.
É muito provável que, com as modificações demográficas que vem sendo observadas no Brasil – e Santa Maria vive o envelhecimento populacional de uma maneira particularmente acelerada - a tendência é que a demanda por atenção domiciliar cresça nos próximos anos. Para isso, é necessário fortalecer políticas públicas, investir na formação de profissionais, ampliar a oferta de serviços e garantir acesso igualitário, como prevê o princípio da equanimidade no SUS.
A atenção domiciliar representa uma estratégia fundamental para o cuidado integral e humanizado para os idosos brasileiros. Ao promover o cuidado no ambiente familiar, respeitando a autonomia e a dignidade do idoso, a assistência domiciliar contribui para uma sociedade mais justa e inclusiva. O enfrentamento dos desafios existentes exige o compromisso de gestores, profissionais de saúde, familiares e da sociedade como um todo.