Foto: Beto Albert (Arquivo/Diário)
A promessa do governo federal de socorrer os agricultores gaúchos com R$ 12 bilhões para renegociar as dívidas com juros subsidiados deve beneficiar realmente só um a cada cinco produtores rurais. Segundo entidades do setor e o presidente da cooperativa Cotrisel, de São Sepé, José Paulo Salerno, muitos agricultores que procuram os bancos estão recebendo resposta negativa e não conseguem refinanciar seus débitos para pagar em até nove anos, conforme foi prometido.
– Na verdade, somente alguns produtores foram considerados elegíveis pelas instituições financeiras. Então, o funcionário que está aqui no banco não tem como te dizer por que você não é elegível, e outro na mesma condição, no mesmo lugar, na mesma situação que você, é elegível. Então, os valores que vão ser renegociados são ínfimos para não dizer que não é nenhum. Essa é uma realidade bancária aqui da Região Central. Eu sei porque, além de estar na diretoria de cooperativa, eu sou produtor rural. E seria, na minha situação, alguém elegível e eu não fui considerado elegível para fazer a prorrogação. Não me pergunta por que, pois eu não tenho como te dizer – comentou Salerno.
A promessa do governo era atender pequenos, médios e grandes produtores rurais.
– Hoje me parece que os únicos que estão conseguindo uma renegociação são os produtores menores ou algum especificamente que o banco precisa reforçar uma garantia ou refazer uma coisa que dê mais segurança ao banco. E aí eles fazem algumas exigências a mais ali e renegociam. Na prática, a cada 10 produtores, só dois ou 20% conseguem refinanciar – disse o presidente da Cotrisel.
Salerno lamenta a falta de ajuda dos governos ao setor produtivo e diz que o impacto na economia gaúcha é grande e será ainda maior se não houver ampliação da renegociação.
– Se você chegar nos bancos e quiser renegociar por 9 anos a juros de mercado, eles não vão nem olhar, só vão te pedir as garantias e vão mandar fazer. Mas isso é suicídio, porque não tem como você renegociar a 16% de juro ao ano. No juro subsidiado de 10% já é muito. O governo só vai intervir se os bancos tiverem problemas de inadimplência tão grande que não tenha como pagar. Essa que foi a securitização. Não foi por um problema de um produtor ou outro. Foi feita porque o sistema financeiro, que financia a agricultura, estava praticamente em colapso. Então, só vai haver uma intervenção maior do governo se esse sistema entrar em colapso – opinou.
O presidente da Cotrisel diz que, devido ao endividamento elevado, alguns produtores terão de reduzir a área plantada de soja e arroz, usar sementes próprias e/ou diminuir a quantidade de adubos nas lavouras para reduzir custos. Outra grande preocupação é com os preços. Ontem, a saca de arroz estava valendo só R$ 50, o que é muito abaixo do mínimo para pagar os custos, na faixa de R$ 75, e a da soja valia R$ 122,50.
– Não lembro de ter outro momento na história da lavoura arrozeira com o preço que está. Está indo para um lado bastante difícil. Depois de quatro secas em cinco anos, se não for uma safra boa, muitos produtores vão se desfazer de patrimônio. Muitos vão, ao longo do tempo, repassar áreas e parar, por obrigação, porque não têm como trocar adiante.