Guerra civil diária no Rio sempre foi “normalizada” e aceita

Guerra civil diária no Rio sempre foi “normalizada” e aceita

Foto: Thomaz Silva (Agência Brasil)

Nos últimos 40 anos, o que realmente foi feito de efetivo para melhorar a segurança pública no Brasil? E me refiro principalmente a ações de segurança primária, como investimentos pesados em saúde, educação, assistência social e oportunidades de trabalho para moradores da periferia, que poderiam ter evitado que várias crianças nascidas nas décadas de 1990 e 2000 estivessem hoje segurando fuzis, metralhadoras e granadas. Também questiono: o que foi feito de investimento pesado em estruturas de presídios, em reforço de efetivo e equipamentos para as polícias e em mudanças na legislação para barrar o avanço das facções? O secretário de segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou à CNN que, nos últimos três anos, foi chamado apenas uma vez para reunião com o Ministério da Justiça. Como pode um país combater de fato a criminalidade se cada autoridade puxa para um lado e se elas não trabalham em conjunto?


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A morte de mais de 100 pessoas, incluindo muitos terroristas do Comando Vermelho, quatro policiais e, possivelmente, alguns inocentes atingidos por balas perdidas ou executados, só jogou no ventilador a “cacaca” que é escondida embaixo do tapete por inúmeros governos. Quantos mil assassinatos e execuções por ano no Brasil? Quantas favelas tomadas pelas facções e milícias, em que o Estado nem pode entrar e com os moradores à mercê do tribunal e dos impostos do crime? Quantos furtos, roubos, estupros e mortes cometidos por quadrilhas e milícias ocorrem diariamente, mas que os(as) trabalhadores(as) das favelas não podem denunciar ou reclamar? Qual presidente, governador ou prefeito fica indignado com isso e toma atitudes contra esse Estado paralelo? Qual entidade de direitos humanos denuncia o Brasil por permitir que um Estado paralelo do crime comande favelas e milhões de pessoas, que devem obedecer às leis das facções e milícias, e não à Constituição?


Tudo isso foi normalizado, mas parece que não é grave. A barbárie foi normalizada há muito tempo e a solução é muito difícil, quase impossível. Quando tiver o próximo cessar-fogo (a exemplo de Israel-Hamas) no Rio, toda a barbárie seguirá imperando e sendo aceita em plena “paz” (com muito sangue escorrendo em algumas mortes por dia, que não causam comoção). São 3 mil homicídios por ano no Estado do Rio, quase 10 por dia. 600 em “confrontos” policiais. Mas daqui um mês ninguém vai lembrar do 28/10 e ficará tudo bem.... Na paz...


E esse crime organizado só se espalha pelo Brasil, pois eles não respeitam ninguém e lei alguma. Matam e torturam qualquer um que não pague a propina para manter uma barraquinha de churrasquinho ou que não compre o gás ou a luz superfaturada das facções. Matam até delegados ou qualquer um que tentar impedir. Enquanto isso, leis brandas demais, falta de estrutura em presídios e falta da presença forte do Estado, com saúde, educação, esporte e cultura nas periferias, são a gasolina para impulsionar a chama dessa criminalidade.


Se nada for feito, mais capitais ficarão cada vez mais parecidas com o Rio, e cidades do interior também.


Matar os soldados do Comando Vermelho, como ocorreu agora, não vai solucionar o problema, pois outros assumirão o lugar deles. É preciso também agir contra os chefões. Porém, deixar como está, com moradores à mercê dos bandidos, é a solução? É aceitável? E alguém acha que os terroristas com fuzis vão se entregar e deixar a favela na paz?


Como diz o ex-comandante do Bope, Rodrigo Pimentel: é preciso aproveitar esse enfraquecimento do CV agora e ocupar o Complexo do Alemão, para devolver a presença do Estado e a segurança aos moradores – e depois, ir ampliando para outras favelas. Ele lembra que, nos 19 meses da presença das UPPs, com apoio do Exército, não houve homicídios lá. Mas só presença militar não vai resolver: é preciso levar investimentos pesados em saúde, educação, esporte, cultura e oportunidades de trabalho para as crianças e adolescentes de lá. Caso contrário, voltará tudo ao “normal”.

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Deni Zolin

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