Fotos: Vinicius Becker
Quando a pandemia de Covid-19 nos separou, a música transcendeu os limites e nos uniu. Em Santa Maria, um projeto com essa premissa ganhou destaque e rendeu aos professores Matheus Sebalhos Lameira, 31 anos, e Jade da Rosa Schneider, 33, a vitória em uma das categorias do Prêmio Alda Oliveira.
Promovida pela Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), a iniciativa busca reconhecer e incentivar práticas inovadoras e relevantes de ensino de música em escolas de Educação Básica do Brasil.
A arte de ensinar
Graduados em Licenciatura Plena em Música pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Lameira e Jade têm carreiras consolidadas na área de ensino e muitos trabalhos musicais realizados em Santa Maria e região. Nessa caminhada, o resultado do Prêmio Alda Oliveira chega como um estímulo para continuar inovando e mudando vidas.
Além de violinista e empresário, Lameira tem pós-graduações em Metodologia do Ensino da Música e Musicoterapia; e em Gestão Educacional. Ao Diário, ele falou sobre a própria trajetória musical, que iniciou ainda na infância, e quando percebeu que queria ser professor:
– Iniciei meus estudos de violino no Método Suzuki aos 5 anos, em 2000, por vontade própria. Meu pai, Rhadamés Ribas Lameira, era músico da Banda da 3ª Divisão de Exército. Logo, desde pequeno, tive a influência musical dentro de casa. Também sou bisneto do maestro Roberto Barbosa Ribas, músico influente em Santa Maria no século passado. Percebi que queria ser professor em meio às incertezas profissionais durante o Ensino Médio. Mesmo tocando violino e lidando com música desde criança, cheguei a pensar em ser músico do Exército, jornalista ou arquiteto. Até que percebi que me sentia bem no ambiente escolar, em meio à rotina das salas de aula, professores e alunos.

A música também é uma tradição de família para Jade, que tem mestrado em Educação, especializações em Coordenação Pedagógica e Gestão Educacional e, acaba de defender uma tese de Doutorado em Educação pela UFSM, na linha de pesquisa em Artes.
– Meu contato com a música aconteceu desde o nascimento. Meu pai Eugênio Schneider era músico e professor de música,e a música sempre fez parte da rotina da minha família. Aos 4 anos, comecei a aprender teclado e a acompanhar meu pai nas aulas que ele ministrava. Fui crescendo e atuando junto a ele na escola de música, colaborando e também oferecendo aulas particulares. Então, a docência sempre esteve muito presente na minha vida. Desde pequena, brincava de ser professora. De certa forma, a música e a docência me escolheram – conta a jovem.
Proposta vencedora
O Prêmio Alda Oliveira da Abem reconhece propostas inovadores de educação musical nas seguintes categorias e modalidades: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Profissional e Tecnológica, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação do Campo, Educação Indígena e Educação Quilombola.
O projeto que deu a vitória para Lameira e Jade na categoria Ensino Fundamental - Anos Iniciais se chama “The Flutes” e foi criado em março de 2020, na pandemia de Covid-19, como uma estratégia para dar continuidade ao ensino de música aos estudantes do 3º ao 5º ano, com idades entre 9 e 11 anos, do Colégio Fátima.
Segundo Jade, a proposta envolveu a criação de um canal no YouTube com materiais didáticos para o aprendizado de flauta doce em casa, além de encontros síncronos. O canal The Flutes, hoje, conta com 94 vídeos, quase 2 mil inscritos e mais 194 mil visualizações.
– O que mais gosto no projeto é o fato de que, mesmo em um contexto desafiador de ensino remoto, conseguimos manter o vínculo com os estudantes. Por meio das visualizações, curtidas e comentários, acompanhávamos como as pessoas recebiam os conteúdos. Os alunos, empolgados, faziam campanhas para que mais pessoas se inscrevessem no canal, criando um verdadeiro senso de comunidade em torno da música – afirma a professora de música.
Foi o retorno do público e o diálogo com alguns professores da UFSM que levaram Lameira e Jade a inscreverem o projeto no prêmio da Abem.
– Pensamos inicialmente em inscrever dois projetos, mas como o prêmio exigia gravação de vídeo, fundamentação teórica e depoimentos, optamos por concentrar esforços em uma proposta. Organizamos as gravações, roteiros e falas, convidamos duas alunas para participar e realizamos as filmagens no Colégio Fátima. Assim, fomos construindo o vídeo de inscrição de forma colaborativa, e conseguimos enviar a proposta – relembra Jade.

Premiação
O resultado do Prêmio Alda Oliveira foi divulgado em 18 de outubro. Para Lameira, receber a notícia foi emocionante e gratificante.
– Estava no trânsito no momento, e precisei parar o carro para assimilar a informação, que foi enviada pela professora Cláudia Bellochio no meu WhatsApp. No mesmo instante, já entrei em contato com a Jade e trocamos algumas palavras de gratidão pela parceria. Um prêmio desse, de nível nacional, reforça que estamos no caminho certo da Educação Musical e nos motiva a seguir sempre inovando para entregar o melhor aos nossos alunos – diz o professor de música.
A cerimônia de premiação deve ocorrer durante o 27° Congresso Nacional da Abem, que será realizado entre os dias 3 e 7 de novembro, em Curitiba. Além de certificado e um prêmio em dinheiro, Lameira e Jade terão a oportunidade de conhecer a pianista, compositora e educadora musical Alda Oliveira, que dá nome ao prêmio, e submeter um artigo à revista Música na Educação Básica da Abem. Já os vídeos das propostas vencedores devem ser publicados nas redes sociais da entidade.
Segundo Jade, a entrega do prêmio está marcada para o dia 6 de novembro. A expectativa para a solenidade também foi comentada:
– Os preparativos estão intensos, com os últimos detalhes sendo ajustados para a viagem. Estamos muito felizes e honrados por participar desse momento especial, que representa o reconhecimento de um trabalho construído com afeto, dedicação e compromisso com a educação musical. Será uma alegria compartilhar essa experiência com colegas e amigos da área.
