Infelizmente não é só em Santa Maria que estão acontecendo manifestações dessa natureza, a gente tem visto no noticiário que outras universidades públicas. Por que esse ódio também é uma pergunta que eu gostaria de fazer, o Brasil, país multirracial e multiétnico, ainda se acha unicamente formado por cultura, por princípios vindos da Europa. por que esse insiste em não reconhecer as raízes não europeias no Brasil que são muito fortes, as raízes africanas, que vieram com os escravizados, e as raízes dos povos originários que aqui estavam. Por que essa raiva dos pobres, pretos e indígenas?
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Em uma democracia são perguntas que tem que fazer, buscar responder, fazer pesquisas, porque essa raiva, ódio, pobres, pretos, indígenas, ciganos, ribeirinhos? Parece que há um desejo de extermínio desses grupos e não sei se as pessoas se dão conta que se forem exterminados como sobreviverão porque seus bens dependem do trabalho dessas pessoas. Acho que esse é um ponto que tem que se perguntar. Por que isso surge agora?
O estudo da história é fundamental para a gente entender como funciona a sociedade, a relação entre os povos, a imagem que temos de nós mesmos e a construção da própria nação. Há um grande desejo dos braisleiros de ser uma cópia da europa. É muito presente a ideia que o Brasil ocmeçou a ser construído com a chegada dos europeus como um desconhecimento total da cultura dos povos originários. Os portugueses descobriram que haviam terras, territórios, culturas e povos diferentes, não só no Brasil, em outras partes da América, da Ásia e da África.
Essa relação vem lá dessa imagem do exemplo de que a humanidade seria o homem branco europeu, preferencialmente o homem. E há uma rejeição ao que é próprio nosso, uma rejeição as culturas e línguas indígenas, um deprezo da contribuição dos africanos. Por que o sentimento que a cultura europeia seria superior na formação do Brasil? Temos a contribuição dos indígenas, escravizados, europeus e asiáticos que começam a chegar no século XX e todos os povos trouzeram importantes contribuições. Alguns grupos são mantidos como se fossem subalternos. E parece que a chegada dos estudantes indígenas, negros, de camadas empobrecidas na sociedade, é entendido por aqueles grupos que sempre puderam frequentar a universidade como se estivesse sendo invadido um espaço que seria seu, somente seu.
Talvez tenha gente que diga, a senhora mesmo, é uma mulher negra que cursou a sociedade. Mas precisamos pensar o princípio da meritocracia que influencia o uqe tem chamado excelência academica, práticas assimilacionistas e se admite que pobres, pretos e indígenas ingressem na universidade se passem a pensar pelos grupos sociais que sempre foram governantes. Com muita frequência se espera que esses estudantes passem a lutar pelos interesses desses grupos que anteriormente tinham o privilegio de ingressar na universidade. Mas os negros, indígenas e empobrecidos chegam não para serem cooptados, mas para contribuir com o conhecimento, inclusive de seus grupos sociais, e para construir o nosso projeto de sociedade em que não haja privilégio de um grupo social para comandar ou decidir o que é bom para a sociedade.
Do ponto de vista dos descendentes dos escravizados a verdadeira abolição da escravatura começa com as ações afirmativas, com a igualdade de direitos de formação, com a igualdade de direitos de trazer suas uclturas e forma de pensamento para a universidade e com a universidade apresentar o que de melhor a ciência tem produzido. Esse é o nosso papel, nas universidades. Fazer com que todos os estudantes tenham acesso ao que de melhor a ciência tem produzido e também se tornem também produtores d ciência.
As ações afirmativas não quer que seus estudantes se tornem todos passem a pensar como se fossem descendente de europeus e a defender os interesses desses grupos, mas trazem o jeito de ser, viver e pensar e também contribuem a universidade com seus jeitos. Estão dizendo para nós na universidade: olha, o Brasil não é unicamente formado por descendentes de europeus. E a universidade tem que ter a cara do Brasil e a cara do Brasil não é formada só por descendente de europeus. A prova disso é que tem muitas representações de indígenas, de negros, de cultura de raiz africana expostas.
Propondo um novo formato de sociedade em que todos sejam respeitados, reconhecidos e produzam conheicmento. Mas parece que nem todos concordam com isso. às vezes fico pensando que as pessoas veriam privilégios como só seus ameaçados. Ações afirmativas não é isso, é o direito que todos tenham, realmente, o mesmo direito. A verdadeira libertação dos escravizados começa com a verdadeira afirmação na universidade e no serviço público.