Foto Vinicius Becker, Diário
Do outro lado do documento oficial em que o Estado pede a saída das famílias que ocuparam a Fepagro em Santa Maria, o líder Erni Amaro, que também é estudante de Serviço Social na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que o grupo veio para a cidade após perder tudo nas últimas enchentes. Os indígenas são de Passo Fundo, Tenente Portela e Santa Maria.
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- A gente acabou perdendo tudo e, aí, a gente veio para esse lado. Eu soube que essa área estava desocupada. Vim aqui, dei uma olhada e comuniquei o pessoal que essa área seria o ideal para a gente viver - relata Erni.
A escolha do local, segundo ele, foi estratégica e motivada por dois fatores principais: a segurança e a oportunidade.
- Aqui é um ambiente bom, provavelmente aqui a gente não vai sofrer com enchentes como a gente sofreu. E também tem as nossas crianças e os mais jovens que vieram com a intenção de estudar. A Universidade Federal estar aqui é uma grande oportunidade pra gente crescer na vida - afirma o líder.
Sobre uma alternativa de abrigo que teria sido oferecida pela prefeitura no bairro Camobi, Erni diz que a proposta não foi clara e envolveria a convivência com outro grupo indígena.
- Eles não disseram especificamente onde era. E queriam nos colocar com outros kaingangue, mas, apesar de sermos do mesmo povo, vivemos diferente. A nossa organização é de modo diferente da deles, e não temos contato - justifica.
Resistência e um futuro incerto
Com o prazo de 48 horas para sair, que vai até as 18h deste sábado (19), o grupo, composto por 16 adultos e o restante de crianças, precisa de ajuda com alimentação e não tem um plano B. A intenção é permanecer.
- Enquanto houver uma possibilidade da gente ficar aqui, a gente vai resistir. Quando um indígena escolhe um local, a gente vai permanecer até que o último permaneça aqui - declara Erni.
Àrvores podem ajudar no artesanato
Ele também rebate a ideia de que o grupo possa degradar a área de pesquisa florestal. Segundo ele, o local foi escolhido também pela abundância de recursos naturais como taquara e cipó, matéria-prima para o artesanato que garante parte do sustento da comunidade e que não é encontrada facilmente.
- Eles pensam que a gente vai entrar e vai destruir tudo, fazer uma devastação. Não é isso. Viemos para cá porque vimos que tinha isso aqui, o que é importante para nós - finaliza.
48 horas para sair
A Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária entregou uma notificação extrajudicial dando prazo de 48 horas para que um grupo de 30 indígenas que ocupou esta semana a área da Fepagro, no Distrito de Boca do Monte, deixe o local. O prazo acaba as 18h deste sábado (19). Se o grupo não respeitar o pedido, há possibilidade de o governo do Estado entrar com ação na Justiça para pedir a reintegração de posse. Leia mais neste link.
Em nota a defesa do grupo respondeu:
Não houve "aceite" nem "recusa" porque o documento se trata de medida administrativa que concede prazo antes do ajuizamento de uma ação de reintegração de posse, não havendo decisão judicial sobre a situação. A situação será discutida pelas lideranças da comunidade nos próximos dias.
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