Foto: Tales Trindade
Após vencer a votação da comunidade acadêmica na quarta-feira (25), Martha Adaime é a favorita para assumir a Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A partir da votação, uma lista tríplice será elaborada pelo Conselho Universitário (Consu) e enviada ao Ministério da Educação (MEC). Cabe ao órgão federal fazer a nomeação.
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Com a vitória, Martha fica perto de se tornar a primeira mulher no cargo máximo da Reitoria em 64 anos de história da universidade. Acompanhada do candidato a vice-reitor de sua chapa, Tiago Marchesan, a vencedora da votação esteve no programa Bom Dia Cidade (CDN 93.5 FM) desta quinta-feira (26) para falar sobre o futuro da instituição.

A primeira mulher na Reitoria
Depois de se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-reitora, Martha está próxima de se tornar a primeira mulher no comando da UFSM em toda a sua história. Relembrada da primeira edição da revista Persona, em que a capa estampava sua posição como primeira vice-reitora, a professora afirma que não imaginava que o feito impactaria tanto a comunidade santa-mariense, assim como a ela.
– Me impactou muito. Eu não tinha noção do quanto ser a primeira vice-reitora impactaria a comunidade santa-mariense, que viraria capa de uma revista. Isso me fez repensar o porquê a UFSM nunca tinha tido uma mulher (nessa posição). Para mim não era motivo de reflexão, porque talvez a minha forma de levantar minha bandeira feminista tenha sido estar sempre trabalhando, me desafiando, mas nunca pensando em um pódio – disse Martha.

Segundo ela, a ideia de se tornar reitora foi algo recente. Antes, afirma que chegou a cogitar a aposentadoria.
– Durante esses quatro anos, eu fui ganhando o apoio de tantas mulheres, que, enxergando essa caminhada, disseram: "é preciso que tu sejas a nossa representante". Da metade da gestão atual para cá, ele (o apoio) começou a se fortalecer pelas mulheres. Os desafios vão aparecendo, e nós vamos nos desafiando.
Sobre o processo de consulta pública e as diferenças entre as chapas, Martha adotou um tom conciliador
– A consulta terminou ontem (quarta-feira). A partir de agora, nós somos uma comunidade universitária e, para ela, nós vamos trabalhar – disse a atual vice-reitora.
Um vice crítico
Tiago Marchesan, atual diretor do Centro de Tecnologia da UFSM e candidato à vice-reitoria pela mesma chapa, é considerado por Martha como uma das pessoas mais críticas em relação à atual gestão. Segundo ela, Marchesan se manteve sempre com um apoio crítico, apontando pontos de melhora necessários. Para ele, este perfil vem de sua formação.
– Eu venho desta área de inovação e da relação da universidade com a comunidade. Isso coloca alguns desafios e responsabilidades sobre mim, para que a universidade se conecete cada vez mais a comunidade. E também de termos uma gestão interna cada vez mais estratégica na universidade. Nós precisamos trabalhar, nós sabemos que os recursos financeiros são exíguos da universidade e nós precisaremos ser cada vez mais eficientes para que possamos ter uma universidade que cresce, mesmo com com recursos limitados – afirmou Tiago.

Os quatro pilares iniciais da gestão
Martha e Tiago pontuaram quatro pilares "nevrálgicos", segundo a vice-reitora, que devem ser os primeiros pontos de atenção para a próxima gestão. O primeiro deles trata de uma questão também levantada pela chapa de Felipe Müller e reivindicação antiga dos estudantes: as melhorias necessárias para a assistência estudantil, em especial, as casas de estudantes.
– Embora não tenhamos tirado sequer um centavo da assistência estudantil ao longo desses 12 anos, mesmo com cortes e despesas reduzidas, nós precisamos dar uma estrutura melhor, uma gestão melhor, para a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – avaliou Martha.
A vice-reitora também pontou que a manutenção das casas que abrigam estudantes no campus da universidade é dificultada por se tratar de prédios antigos. Segundo ela, adaptações e melhorias são difíceis de serem realizadas, em função da necessidade de realocar alguns moradores de seus blocos ou apartamentos.
Outro ponto de atenção, segundo Martha, é a parte ambiental relacionada aos espaços dos campi da UFSM.
– Embora alguns pontos críticos tenham tido um tratamento, como o licenciamento de todos os campi, nós precisamos de ação. Tivemos a política socioambiental aprovada, mas precisamos agir agora.
Além destes pontos, Tiago também citou outros dois grandes pilares das primeiras ações que a chapa deve realizar, caso assuma de fato a Reitoria. Um deles é a prevenção de problemas relacionados à saúde mental, com o fortalecimento da rede de apoio pedagógico das unidades de ensino. O outro, segundo Tiago, é melhorar os processos administrativos internos da instituição.
– Hoje temos uma demanda de fluxos processuais muito intensa e precisamo eficientizar esses fluxos. Tirar um pouco da sobrecarga existente, com muitas tramitações, o que é natural da estrutura pública. Não é um trabalho do dia para noite, é algo que tem que ser construído a longo prazo, mas que precisa iniciar no primeiro dia de gestão.
Revisão de procedimentos
Sobre os casos de acidentes envolvendo a universidade, como a queda de um elevador no campus sede, em 2024, e o acidente com um ônibus da instituição em abril deste ano, Martha afirma que a UFSM deve rever processos de fiscalização e manutenção.
– O caso do elevador é difícil de dizer que faltou fiscalização. Não tem fiscal que faça isso, ou a empresa te entrega o elevador instalado e garante o serviço, ou não. Não vejo um problema de fiscalização por parte da instituição neste caso. Já o acidente do ônibus, eu concordo que há procedimentos internos que precisem ser revistos. Mas não acredito que seja tudo, uma vez que também são serviços terceirizados, em que a empresa tem responsabilidade com aquele serviço. Se ela mostra uma documentação em que apresenta que os motoristas são capacitados, não precisamos fazer testes. As manutenções da mesma forma, mas talvez a gente tenha que ter algum rigor em recolhimento da peça que foi trocada ou outras coisas dessa natureza – afirma Martha.
– A universidade está fazendo essa investigação. Ela não é rápida, porque tem muitos pontos a serem investigados. Ao final de todo esse processo nós teremos um panorama do que realmente aconteceu e de todas as fragilidades, que terão que ser revistas para que não aconteça mais – complementou Tiago.
Confira a entrevista completa
Quem é Martha Adaime
Martha Adaime tem 62 anos e é a atual vice-reitora (2022-2025) da instituição. Já são anos dedicados a cargos de gestão. Foi diretora de Unidade de Ensino (CCNE) de 2006 a 2010 por dois mandatos e também esteve à frente da pró-reitoria de Planejamento e da pró-reitoria de Graduação da Universidade Federal de Santa Maria.
Martha fez graduação em Química Industrial pela UFSM, em 1983, e obteve o título de Doutora em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 1989. No mesmo ano, ingressou na carreira docente da UFSM. De lá para cá, são mais de três décadas de atuação na instituição, com uma trajetória nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e gestão acadêmica.
Tiago Marchesan – vice
Tem 44 anos e é atual diretor do Centro de Tecnologia (CT). Possui graduação (2003) e doutorado (2007) em Engenharia Elétrica pela UFSM, com estágio na Universidade de Oviedo, Espanha. É professor na instituição desde 2011.
Números da votação
A representante da chapa 2 conquistou 57,73% dos votos na pesquisa de opinião realizada durante toda a quarta-feira (25) com alunos, professores e servidores da instituição. Já o candidato da chapa 1, Felipe Müller, teve 42,27%. O resultado foi divulgado ainda na noite de quarta em uma transmissão ao vivo.
- Felipe Müller (chapa 1): 6.727 (42,27%)
- Martha Adaime (chapa 2): 9.189 (57,73%)
Próximos passos da eleição
O período de recursos é de 26 de maio a 30 de junho. Após, a comissão eleitoral encaminha os resultados para o Conselho Universitário (Consu), que elabora as listas tríplices para reitor e vice-reitor enviadas ao Ministério da Educação (MEC). É o órgão federal que nomeia os eleitos.
Nesta etapa, votam membros de três conselhos superiores: o Conselho Universitário, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e o Conselho de Curadores.
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