Aprender Libras para incluir: histórias de Santa Maria no Dia Nacional dos Surdos

Aprender Libras para incluir: histórias de Santa Maria no Dia Nacional dos Surdos

Foto: Pablo Iglesias (Diário)

A assistente social Mariele da Mata (à esq.), 31 anos, e a consultura de vendas Franciele Florence, 37, aprenderam Libras para o trabalho

O Brasil celebra, nesta sexta-feira (26), o Dia Nacional dos Surdos. Criada pela Lei nº 11.796, de 2008, é uma homenagem à fundação da primeira escola de surdos do país, em 1857, no Rio de Janeiro – hoje o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Mais do que um marco no calendário, a data busca dar visibilidade à luta por direitos, acessibilidade e inclusão da comunidade surda em diferentes espaços da sociedade.

No país, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida oficialmente desde 2002. Em 2005, o seu uso foi regulamentado em serviços públicos, escolas e universidades, além de estabelecer diretrizes para formação de professores e intérpretes.

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Realidade no Rio Grande do Sul

Segundo o Censo 2022, o Rio Grande do Sul possui 772 mil pessoas com algum tipo de deficiência, o equivalente a 7,2% da população. No caso da comunidade surda, a rede estadual de ensino mantém cinco escolas bilíngues exclusivas, localizadas em Porto Alegre, Esteio, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Santa Maria. Além disso, há atendimento inclusivo em 707 instituições estaduais, que somam 1.279 estudantes surdos ou com deficiência auditiva matriculados.


Santa Maria e a inclusão

Em Santa Maria, o principal espaço de referência é a Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Coser, que em 2024 completou 23 anos de atuação no ensino bilíngue, unindo Libras e língua portuguesa na modalidade escrita. A instituição atende cerca de 50 alunos, desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos (EJA), recebendo estudantes também de municípios vizinhos, como São Vicente do Sul, Formigueiro e Itaara.

Outra frente de atuação é a Associação de Surdos de Santa Maria (ASSM), fundada em 1985, que promove atividades culturais, de lazer e de defesa de direitos da comunidade surda local. Além disso, a cidade conta com iniciativas acadêmicas, como o Projeto Mãos Livres, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que desenvolve materiais bilíngues e ações de aproximação entre surdos e ouvintes.


A Libras no dia a dia

A inclusão, no entanto, não acontece apenas em espaços institucionais. Muitas vezes, parte de iniciativas individuais, como as da assistente social Marielle Correa da Mata, 31 anos, e da consultora de vendas Franciele Plate Florence, 37, colegas de trabalho que decidiram aprender Libras por compreenderem a necessidade social e profissional dessa ferramenta de comunicação.


Foto: Pablo Iglesias (Diário)


Marielle já utiliza a Libras em alguns atendimentos e, eventualmente, atua como intérprete voluntária, por meio da música, em sua igreja, onde também é pregadora. 

– Na igreja que frequento, os primeiros lugares são destinados aos surdos. A partir disso, tomei a iniciativa, há sete anos, de saber mais sobre os surdos e fazer alguns cursos e comecei a desenvolver um trabalho voluntário interpretando os hinos que são tocados durante o culto – diz.

Além do voluntariado na igreja, Marielle também auxilia na interpretação de pessoas surdas em atendimentos. 

– Em uma oportunidade, fui intérprete de uma menina surda que estava participando de um processo seletivo para vaga de emprego, e para mim foi uma realização pessoal e profissional poder dizer quem ela é, as experiências e o interesse pela vaga. Na área da saúde, uma vez eu ajudei um casal de surdos a ouvir o coração do bebê durante um exame de pré-natal, e isso foi muito emocionante, para mim e para o casal, de poder dizer a eles que o bebê estava vivo e que o coraçãozinho estava batendo – recorda.

Franciele, por sua vez, percebeu no cotidiano de trabalho a importância de atender clientes surdos. 

– A Libras agrega muito na minha profissão, porque atender uma pessoa, sabendo que ela tem uma deficiência e poder se comunicar com naquele momento em que ela precisa de um atendimento especializado, é bem importante. O surdo não tem uma boa receptividade quando chega no comércio, ele já chega com medo. Eu me sinto preparada, porque não é apenas uma questão de mercado, mas de respeito às pessoas. Uma necessidade social de garantir que todos tenham acesso à mensagem, sem barreiras – conta.

O aprendizado acabou ganhando espaço até em sua casa: Franciele incentiva o filho Marcon, 7 anos, a aprender Libras, e os dois praticam juntos.

– Quando entrei para as aulas, acabava comentando em casa com ele, falando da importância da inclusão, e aí eu trouxe ele em algumas aulas. Agora a gente estuda junto por meio de videoaulas em casa, praticando alguns sinais básicos para ele ir aprendendo, e ele já leva isso para a roda de amiguinhos. É o máximo ver o meu filho tão novo preocupado com isso – revela a mãe, orgulhosa. 


Foto: Franciele Plate Florence (Arquivo Pessoal)


Desafios e perspectivas

Apesar dos avanços, especialistas destacam que ainda há entraves, especialmente nas redes regulares de ensino, onde faltam intérpretes e formação em Libras para professores. Para a comunidade surda, o Dia Nacional dos Surdos é também uma oportunidade de reforçar que a inclusão não deve se limitar a datas comemorativas, mas estar presente em políticas públicas e também em iniciativas individuais, como mostram as histórias de Marielle e Franciele.

– Os surdos em Santa Maria também possuem uma questão social. Grande parte da comunidade vive em situação de vulnerabilidade social, por isso é importante ter pessoas dispostas a auxiliar, como voluntário mesmo, pois são pessoas que precisam muito de ajuda e boa vontade – enfatiza a assistente social Marielle.


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