Foto: Divulgação
O Rio Grande do Sul consolida-se como referência nacional na produção de azeite extravirgem de alta qualidade. Entre as paisagens de Caçapava do Sul e da Quarta Colônia, a olivicultura vem se firmando como uma das atividades agrícolas mais promissoras do Estado — unindo tradição, pesquisa e inovação.
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Entre os destaques, Caçapava do Sul tem levado o nome do Rio Grande do Sul ao cenário internacional, com azeites premiados e reconhecidos entre os melhores do mundo. Já a Quarta Colônia, especialmente a região do Recanto Maestro, desponta como um novo polo produtivo, com forte investimento técnico e industrial que promete ampliar o potencial do setor nos próximos anos.
Atualmente, o Estado possui 4.987 hectares (ha) cultivados, distribuídos entre 234 produtores. As maiores áreas estão em Encruzilhada do Sul (947 ha), Canguçu (440 ha), Bagé (404 ha) e Cachoeira do Sul (377 ha). Na Região Central, são 722,5 hectares plantados por 28 produtores, com destaque para Cachoeira do Sul (377 ha), Restinga Sêca (168 ha) e São Sepé (110 ha).
Caçapava do Sul: tradição e excelência reconhecida

Apesar dos desafios do cultivo, Caçapava do Sul abriga pomares produtivos e indústrias tradicionais no Estado. O azeite produzido no município tem se destacado em competições internacionais graças à combinação entre o manejo cuidadoso e o uso de tecnologia avançada.
O maior exemplo desse sucesso é o azeite da marca Prosperato, produzido em Caçapava do Sul, que está entre as sete marcas gaúchas selecionadas para representar o Brasil na edição de 2026 do Flos Olei — guia italiano considerado uma das principais referências mundiais em azeites de oliva. A Prosperato recebeu 97 pontos, sendo a marca com melhor avaliação da região e a segunda melhor brasileira na classificação internacional.
Fundada em 2013, a empresa iniciou sua produção a partir de um olival próprio e de uma estrutura de beneficiamento instalada no município. Desde então, tem expandido sua atuação e conquistado prêmios em diferentes países. Além do mercado interno, o azeite também integra o circuito de exportações, especialmente para os Estados Unidos.
– Ficamos muito felizes com esses resultados. Sabemos que estamos atuando no maior mercado de azeites do mundo, onde a régua de qualidade é muito alta. Ser reconhecido nesse contexto é motivo de orgulho — afirmou o diretor da Prosperato, Rafael Marchetti, 32 anos.
Quarta Colônia: novo polo em expansão

Enquanto Caçapava colhe os frutos de uma década de trabalho, o Recanto Maestro, na Quarta Colônia, consolida-se como a nova fronteira da olivicultura na região central do Estado. O local reúne cerca de 200 hectares plantados, dos quais 40 já estão em produção, sob coordenação técnica da Fundação Antônio Meneghetti e apoio da Faculdade Antônio Meneghetti.
— Nosso objetivo é expandir o cultivo, oferecendo suporte técnico e industrial a pequenos produtores. O azeite é uma alternativa rentável e sustentável, capaz de gerar renda extra às famílias rurais — explica o engenheiro agrônomo, professor universitário e especialista em oliveiras, Alex Fabiano Giuliani, 51 anos.
Com uma das indústrias mais modernas do Brasil, o Recanto Maestro tem capacidade para processar até mil hectares de produção, o que o posiciona como um centro estratégico para o desenvolvimento da olivicultura na Quarta Colônia e em municípios vizinhos.
Desafios e potencial do cultivo

O cultivo de oliveiras exige conhecimento técnico e atenção ao solo. Na Quarta Colônia, predominam os argissolos, que apresentam uma camada compacta e dificultam a drenagem da água — o que pode causar doenças nas raízes e comprometer o desenvolvimento das plantas.
— O sucesso começa no solo. É preciso corrigir o pH em até 60 centímetros de profundidade. A oliveira tolera muita coisa, mas não o excesso de umidade — destaca o engenheiro.
Além do solo, as estiagens de verão representam outro desafio, especialmente para mudas jovens ainda em fase de enraizamento. A implantação de sistemas de irrigação e drenagem é apontada como essencial para garantir a produtividade e a longevidade dos pomares.
Economia, sustentabilidade e consumo

Apesar das exigências técnicas, a olivicultura tem se consolidado como uma alternativa econômica promissora, especialmente para pequenas propriedades rurais. Um hectare bem conduzido pode gerar rendimento até três vezes superior ao de lavouras tradicionais, como a soja, o que torna o cultivo das oliveiras uma opção rentável e sustentável.
De acordo com o gerente regional da Emater, Guilherme Passamani, toda a produção de oliveiras na região é atualmente destinada à fabricação de azeite extravirgem. No entanto, ele destaca que ainda há espaço para avanços no melhoramento genético das mudas e na adaptação das variedades com o objetivo de ampliar a produção de azeitonas de mesa.
— A produção regional de azeite tem alcançado um padrão de alta qualidade, o que garante reconhecimento em premiações internacionais. Isso agrega valor ao produto, fortalece a identidade regional e motiva os produtores a investir cada vez mais no setor — explica Passamani.
Além disso, o setor começa a explorar novos usos para os subprodutos do azeite — como o bagaço da azeitona, que vem sendo estudado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e outras instituições para aplicações em cosméticos.
Orgulho e identidade regional
O reconhecimento conquistado por Caçapava do Sul é motivo de orgulho para toda a cadeia produtiva do Estado e inspira novas iniciativas na Quarta Colônia.
– Quando o consumidor escolhe um azeite produzido no Rio Grande do Sul, ele apoia a agricultura local, gera renda e leva para casa um produto de excelência, comparável aos melhores azeites do mundo — reforça o engenheiro.
Com tradição em Caçapava e inovação no Recanto Maestro, o Rio Grande do Sul mostra que o azeite gaúcho tem aroma, sabor e qualidade para ocupar um lugar definitivo entre os grandes nomes da olivicultura mundial.