Foto: Andreina Possan (Diário)
Com o aumento de eventos climáticos, a exemplo da enchente de 2024 e as fortes chuvas de junho deste ano, o sistema de drenagem urbana passou a receber atenção redobrada. Em Santa Maria, há pelo menos cinco regiões que têm atenção especial do Executivo, onde a prefeitura realiza limpezas e manutenções periodicamente. O descarte de lixo em locais impróprios contribui para alagamentos e enchentes, pois dificulta a passagem da água em arroios e encostas. Além disso, pode ser foco de doenças e contribuir para a proliferação de insetos e animais transmissores.
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Além dos transtornos, o lixo irregular tem gerado altos custos aos cofres públicos. A estimativa da Secretaria de Infraestrutura é que entre 800 e mil toneladas de resíduos irregulares sejam removidas por mês na cidade.
– Santa Maria produz em torno de 6 mil toneladas de lixo doméstico por mês. Só de foco de lixo, mais 800 a mil toneladas mensais. Isso gera um custo considerável para o município. – explica o superintendente de Água, Esgoto e Resíduos Sólidos, Ivan Beuter Nazaroff.
Dados da prefeitura revelam que o Executivo gasta, mensalmente, cerca de R$ 2 milhões com a coleta convencional e conteinerizada, feitas pelas empresas Sustentare e Cone Sul. Já em relação ao descarte no aterro e à coleta seletiva, feita pela Asmar, o valor mensal é de R$ 1,075 milhão.

Cerca de 25 mil toneladas de resíduos são enviadas ao aterro sanitário de Santa Maria todo mês. Segundo Nazaroff, aproximadamente 30% do volume do depósito é proveniente do próprio município – o restante vem de outras cidades.
As tarefas
A prefeitura de Santa Maria se divide para combater o problema. A Secretaria de Serviços Públicos é responsável pela limpeza de focos de lixo em calçadas e beiras de rios, sangas etc, e a Secretaria de Infraestrutura pela manutenção e desobstrução de bueiros.
Segundo o secretário de Infraestrutura, Wagner da Rosa, a divisão do trabalho em setores diferentes permite mais eficiência da prefeitura na limpeza do município. Resíduos jogados próximos a córregos ou próximos a bueiros tendem a ser levados pela água em épocas de chuva. Por fim, acabam se acumulando em canais e galerias, dificultando ou impedindo a passagem da água.
– É quase uma cadeia, para dizer assim. Tudo que entra (pelo bueiro) vai para a tubulação, e desemboca em uma sanga, um córrego. Quando os moradores descartam o lixo de forma irregular, sendo esses resíduos de toda espécie, isso obstrui os bueiros e interfere diretamente no escoamento da água. Locais que não davam alagamento começaram a dar. Porque a água desceu com mais força e tudo que tinha de sujeira no caminho foi levado para baixo – relata o secretário.
A prefeitura explica que, nos últimos anos, o acúmulo de lixo em pontos altos tem causado alagamentos em regiões que antes não registravam esse tipo de ocorrência. A água da chuva carrega os resíduos pelas ruas até que eles se acumulem em pontos de afunilamento, como galerias e bueiros, comprometendo áreas com manutenção recente.
Lixões ampliam riscos e problemas
Um dos bairros que conta com vários focos de lixo é o Nova Santa Marta. De acordo com a prefeitura, atividades de limpeza são feitas mensalmente na região. O mesmo ocorre em áreas como Maringá, Vila Carli, Noal e Diácono João Luiz Pozzobon, onde a incidência de descartes irregulares é alta.
Eloise Barcelos, 19 anos, mora na Rua Irmão Jacinto, um dos focos de lixo no Bairro Nova Santa Marta, desde que nasceu. Segundo ela, o descarte de resíduos na beira da estrada, próximo a um córrego de água, é frequente.

A moradora destaca que ao lado de sua casa também há um córrego, que deságua na área onde há resíduos de lixo. Em época de grandes volumes de chuva, o fluxo ao lado de sua casa aumenta. Segundo ela, é comum encontrar geladeiras e sofás sendo levados pela água. Além do acúmulo de sujeira e lixo dos mais variados tipos, Eloise destaca que muitos cães são abandonados no local.
Em relação à saúde e à segurança de seu filho, Benjamin Valentim Barcelos de Mello, 3 anos, e de sua cunhada Pietra Medeiros de Mello, 9, Eloise comenta que há muitos ratos, mosquitos e aranhas no local.
– O Benjamin tem muita virose e, outro dia, estava com bastante diarreia. A Pietra já teve uma picada de aranha na boca também – finaliza.
Limpeza é constante, mas focos reaparecem
Segundo a prefeitura, os objetos mais encontrados durante a limpeza são caixas de geladeira, sofás e colchões. Roupas e lixo orgânico também são comuns. No caso dos colchões, eles encharcam, crescem de tamanho, ficam mais pesados e entopem as tubulações.
– Parece mentira, mas a máquina sofre para tirar um colchão de dentro de uma galeria – ressalta o secretário Wagner da Rosa.
O trabalho de limpeza de ruas e bueiros é feito diariamente pela prefeitura, cada dia em um local de Santa Maria. A distribuição das equipes leva em consideração a urgência da demanda e os recursos disponíveis pelo município.
Conforme Rosa, uma área como a da Rua Jacinto, com cerca de 50 metros de extensão, que não é uma das maiores do município, ou que contenha maior volume de resíduos, demora de dois a três dias para ser limpa, porque é um terreno íngreme e sinuoso.
O processo correto da coleta permite que os resíduos sejam descartados de maneira a diminuir a poluição do meio ambiente. O aterro, por exemplo, permite que o chorume produzido pelo lixo seja tratado e que haja um reaproveitamento do gás tóxico desses resíduos. Por isso, a importância do descarte correto de resíduos recicláveis e orgânicos.
Depois da enchente de 2024, a prefeitura passou cerca de dois meses limpando ruas, córregos e residências atingidas pela água ou pela terra, com gastos de quase R$ 3 milhões.
Descarte Legal
O programa, criado em 2019 pelo governo municipal, tem como objetivo auxiliar a população a descartar corretamente bens que não possuem mais utilidade, como sofá, cama ou geladeiras. Ele também abrange ações de recolhimento de resíduos sólidos, como as Coletas Domiciliares, a Coleta de Focos e a Coleta Seletiva.
Para solicitar o serviço, é preciso solicitar por meio do site. Há também uma divisão de tipos de materiais, como eletrônicos e isopor, com uma lista de locais que realizam a coleta.
– A gente institucionalizou melhor o descarte de inservíveis. Antes o cidadão não sabia o que fazer com um sofá e largava na sanga. Agora ele pode entrar no site do Descarte Legal, agendar pelo Linha Verde, e a equipe recolhe. Só precisa deixar o móvel na calçada no dia e horário marcado. – Explica Ivan.
Dados contabilizados de 2022 até o momento apontam que cerca de 1,4 mil recolhimentos já foram realizados por meio do serviço.
– E isso é uma coisa que a gente consegue destacar que é muito bom, toda vez que vem um eletroeletrônico, um eletrodoméstico pra coleta de inservíveis, a gente consegue destinar todos para as marcas, e as marcas conseguem converter em reciclável. – finaliza o superintendente.
Também é possível abrir reclamações ou realizar denúncias sobre descarte ilegal de lixo no site.