Foto: Vinicius Becker (Diário)
No final de semana dos dias 26 e 27 de julho, três pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito em Santa Maria. Os casos têm pontos em comum: todos ocorreram à noite, sob chuva, e em trechos dentro do perímetro urbano das BRs 158 e 287. A repercussão dos acidentes levou leitores do Diário a comentarem nas redes sociais, atribuindo as ocorrências a três fatores principais: falta de iluminação e sinalização adequada, além do comportamento de motoristas e pedestres.
Diante das denúncias, a reportagem percorreu os trechos onde ocorreram os três acidentes para verificar a situação da sinalização, da iluminação e o comportamento de condutores e pedestres. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi procurado e respondeu sobre as condições estruturais e os investimentos que devem ser feitos. Além disso, o agente Jussie Pettine Santos, da 9ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), faz um alerta sobre os cuidados ao dirigir à noite, sob chuva e em rodovias.
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Nos comentários das publicações, surgem relatos de quem passa diariamente pelos locais dos acidentes. Confira alguns trechos:
"Triste coitado estas rodovias de noite são o maior perigo de acidentes (BR-158, em direção a Faixa de Rosário)."
"Não tem iluminação nenhuma essa faixa (BR-158, em direção ao Trevo da Uglione)."
"Passo neste trecho todos os dias (BR-287, em direção ao trevo de acesso ao Bairro Nova Santa Marta), a noite é uma escuridão e os pedestres se arriscam no meio dos carros para atravessar, falo como motorista, é quase impossível de se enxergar as pessoas atravessando em alguns pontos."
"Faço esse trajeto todos os dias para ir trabalhar (BR-287) desse viaduto até o trevo do castelinho, 10km no completo escuro, rezando para nunca acontecer nada."
KM 249 da BR-287

Na noite de sábado (26), Pedro Augusto Silva dos Santos, 61 anos, morreu atropelado ao atravessar a rodovia, nas proximidades do trevo de acesso ao Bairro Nova Santa Marta, no sentido bairro-Centro, zona oeste de Santa Maria.
Na quinta-feira (31), à noite, o Diário esteve no local. Foi possível identificar dois postes funcionando nas imediações do atropelamento, enquanto os demais estavam apagados. Por se tratar de um ponto com estabelecimentos comerciais ao redor, a iluminação emitida por essas construções dão a impressão de maior visibilidade.
O tráfego na região se divide entre o viaduto e a via lateral, usada por quem sai da rotatória de acesso ao Bairro Nova Santa Marta em direção ao centro. No viaduto, a velocidade máxima permitida é de 60 km/h, enquanto na lateral, reduz para 30 km/h. Não há faixa de pedestres.
O canteiro central da via é delimitado por muretas com pequenos espaços entre si. É justamente nesses intervalos que pedestres realizam travessias arriscadas. Durante 20 minutos de observação pela reportagem, sete pessoas foram flagradas atravessando desse modo: esperavam no meio da via, entre as muretas, por uma brecha no trânsito para cruzar.

Um dos pedestres era o estudante Pedro Abadie, 20 anos, que aceitou dar seu relato. Ele mora a cerca de duas quadras do local:
— Acho o trecho bem inseguro, pois não tem iluminação suficiente nem faixa de pedestre. Também não há uma passarela próxima. Para cruzar com segurança, eu teria que ir até o viaduto, que fica longe. Por isso, atravesso quando dá, mesmo sabendo que é perigoso. Acredito que uma passarela mais perto, especialmente próxima à parada de ônibus, já ajudaria muito.

BR-158
Km 326

Foi neste trecho, nas proximidades do Trevo da Uglione, que Andrei Santos Dalaporta, 30 anos, perdeu o controle da moto que conduzia ao ingressar na BR-158, vindo da BR-392. Ele colidiu contra uma placa e um poste localizados no canteiro central que separa a rodovia da via lateral. O acidente aconteceu na madrugada de domingo (27). Andrei foi socorrido e levado ao Husm, mas não resistiu.
Na visita realizada na quinta-feira (31) à noite, o Diário constatou que o canteiro onde ocorreu o acidente não possui iluminação. Já na parte superior do viaduto, poucos metros adiante, os postes estavam funcionando normalmente.

O tráfego nesse ponto vem de dois sentidos: pela parte superior do viaduto, em direção ao Trevo do Castelinho, e pela rotatória inferior, usada por quem vem da BR-392 ou da zona oeste da cidade. Um ponto de convergência entre esses fluxos fica justamente na altura do canteiro onde houve a colisão, exigindo atenção redobrada dos condutores.
Veículos de todos os tipos — caminhões, carros e motos — trafegam em alta velocidade na região. Próximo ao canteiro, na calçada, há uma placa indicando “área escolar”, com limite de 30 km/h. No entanto, não há faixa de pedestres.

Km 340

Também na madrugada de domingo (27), uma colisão entre dois veículos resultou na morte de João Rodrigo Tauchen, 44 anos. A reportagem esteve no local, na BR-158, na saída para a Faixa de Rosário, próximo ao trevo de acesso secundário ao Bairro Tancredo Neves, na quinta-feira (31) à noite.

No trecho, apenas o poste do trevo de acesso ao bairro estava funcionando. O restante da via dependia da iluminação dos faróis dos veículos.
Uma placa próxima ao trevo indica velocidade máxima permitida de 60 km/h. O fluxo de veículos nesse ponto é intenso e variado, com tráfego de carros, motos e muitas carretas, em ambos os sentidos. Além disso, muitos veículos entram e saem pelo trevo. Não há acostamento.

Em nota, Dnit fala sobre investimentos em iluminação e em passarelas
Por meio de nota, o Dnit afirmou que o projeto da Travessia Urbana, que está sendo executado nestes trechos, ainda segue em andamento. Também citou que investimentos já foram feitos para melhorar a trafegabilidade nestes pontos. Também informou que a implantação da iluminação está prevista no projeto, e que isso deve ocorrer somente ao final da obra. Conforme publicado pelo colunista Deni Zolin no último sábado (9), a previsão de conclusão é até dezembro deste ano.
Além disso, o Dnit informou que uma passarela para pedestres no Bairro São João estaria em fase de conclusão, e que outras três estruturas devem ser licitadas ainda neste ano. Confira a nota completa:
"O DNIT informa que o projeto em execução, conhecido como Travessia Urbana de Santa Maria, é um investimento voltado a promover mais segurança aos usuários da BR-158/RS e BR-287/RS, bem como a melhorar a trafegabilidade das rodovias federais que cortam a cidade. Ao longo dos últimos anos, foram implantados passeios públicos, sinalização de faixas de pedestres e dispositivos de segurança viária no trecho, incluindo os segmentos citados. Vale destacar que a velocidade máxima do segmento em obras foi delimitada em 50 km/h e os segmentos seguem sinalizados alertando os condutores sobre a velocidade permitida.
No caso da Travessia Urbana, a iluminação está prevista no projeto, e isso deve ocorrer até o final da obra. A autarquia salienta ainda que está em fase de conclusão uma passarela para pedestres no Bairro São João. Ainda este ano, outras três passarelas devem ser licitadas para complementar o trecho da Travessia Urbana de Santa Maria."
"Os cuidados devem ser redobrados nesses horários", orienta PRF sobre dirigir à noite nas rodovias
Na tarde do dia 27 de julho, horas depois desses acidentes, Jussie Pettine Santos, da 9ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) conversou com o Diário e fez um alerta sobre os cuidados necessários ao dirigir sob condições adversas, à noite e em períodos de chuva, como os casos registrados no município.
– Esses acidentes resultaram em óbitos, e o fator comum entre eles é que foram à noite, em período de chuva. Os cuidados precisam ser redobrados nesses horários – alertou.
Para o agente da PRF, situações como essas exigem atenção máxima dos motoristas, especialmente em trechos urbanos ou próximos a acessos.
– Quando cruzar perímetro urbano, redobre a atenção. Pode ser que pedestres estejam atravessando. Se o local não for iluminado, é necessário ter atenção ainda maior e reduzir a velocidade – reforçou Pettine.
Além das orientações aos condutores, o agente também fez um apelo aos pedestres:
– Procurem atravessar sempre em locais iluminados e com faixa de segurança. Com pistas duplicadas, o tempo de travessia aumenta e o risco também.
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